Capital e Trabalho: um não sobrevive sem o outro
Diário da Manhã
Publicado em 17 de abril de 2016 às 02:26 | Atualizado há 9 anosCapital e Trabalho, a dicotomia fundamental da economia moderna, oponentes, contudo, a sua existência depende da interação. O Capital propicia o trabalho, o Trabalho, por seu lado, é a base da sustentabilidade do Capital. Desta interação nasce a produção que tem como alvo consumidor, o Trabalho.
Como sem consumo a produção perde a sua razão de existir, e o consumidor é o Trabalho, conclui-se que o Trabalho tem de comprar a produção para que o Capital lhe dê trabalho, constatação esta que leva ainda concluir que o Trabalho produz para ele mesmo, ficando o valor acrescentado à produção para o Capital, como mais valia do seu investimento.
Valendo-se da sua influência e chantagem econômica, o Capital é quem dita as regras da interação.
Sujeito a elas, o Trabalho vê-se confrontado com a cupidez do Capital, que, para aumentar os seus lucros, utiliza simultaneamente dois princípios. O pagamento do salário mais baixo possível ao Trabalho e a imposição do preço ao consumidor que mais lucro lhe ofereça, que tem como resultado óbvio o empobrecimento do Trabalho diretamente proporcional ao enriquecimento do Capital.
A ambicionada autonomia do Trabalho em relação ao Capital só é possível socializando, substituindo este por organizações participadas pelo Trabalho, do que resultaria a supressão do lucro do Capital, mantendo-se, contudo, a causa/efeito, comprar para trabalhar. Este modelo ambicionado nos fins do século XIX, e posto em prática nos princípios do século XX, não demonstrou a eficácia desejada, tendo degenerado para numa economia de subsistência, ou na substituição do Capital por uma ditadura econômica de resultados catastróficos.
Só a socialização de todas as economias poderia conseguir êxito com este sistema econômico, caso contrário o Capital remanescente conseguirá desmoroná-lo pela competitividade, o que efetivamente aconteceu. O Capital, apesar do fracasso socializador, temeu o fenômeno, e acedeu a algumas reivindicações do Trabalho, melhorando-lhe as condições de trabalho, tendo como consequência o aumento da produção e consequente lucro, pois o Trabalho passou a comprar mais. Ironicamente o Capital não compreendeu o fenômeno, pagar mais para lucrar mais. Mas a insaciável e imoral cupidez do Capital acaba por o levar a competir entre si, qual matilha disputando a presa.
A competição empurra o Capital para outros paradigmas da economia, diferentes do mercantilismo, onde o custo em vez do lucro é quem passa a ditar as leis do mercado. Para conseguir o custo competitivo subverte as regras da interação com o Trabalho, retirando-lhe o conquistado pelas suas reivindicações. O Trabalho, se por um lado beneficia do resultado desta concorrência entre o Capital, por outro lado vê cada vez mais reduzido o seu poder de compra. A interação começa a ficar comprometida com a dificuldade da compra. Acossado pelos seus pares, o Capital cai na armadilha da automatização, rescindindo a interação, passa a desempregar para produzir mais barato.
Cego e desumano, o Capital, quando se apercebe que a sua produção, fonte de riqueza, não tem comprador, porque o Trabalho já não compra por não ter onde trabalhar, sucumbe no meio das suas máquinas que produzem, mas não compram. Talvez seja este o fim do atual conceito econômico do Capital, se, entretanto, os paradigmas econômicos não forem alterados. O Trabalho sem trabalho, mas livre do Capital, com a esperança na fraternidade, renasce deixando de o ser para dar lugar a uma interação entre homens, livres e trabalhadores. Enfim, a conclusão é óbvia: Capital sem Trabalho não sobrevive.
(Eduardo Genner de Sousa Amorim é presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio no Estado de Goiás (Seceg), da Federação dos Trabalhadores no Comércio nos Estados de Goiás e Tocantins (Fetracom/GO/TO) e diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC)
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