Catalão, 53 anos depois
Diário da Manhã
Publicado em 13 de setembro de 2018 às 02:54 | Atualizado há 6 anosO processo sucessório de Goiás, em 1965, foi marcado por lutas internas dentro dos dois principais partidos políticos do Estado, PSD e UDN (os mais expressivos também, nessa ordem, no nível nacional). A cobarde Intervenção decretada por Castelo (por exigência do Costa e Silva) interrompera a formidável gestão do estadista Mauro Borges. Os “revolucionários” não deram a menor atenção ao vice-governador Rezende Monteiro, o solteirão eleito (ainda se votava para vice-prefeito,vice-governador e vice-presidente) pelo PTB do Jango, do Brizola, do Vargas. Se bem que Mauro Borges (PSD) rompera com Rezende e depois apoiou o golpe que se voltou contra ele a pedido das “Antigas Oposições Goianas”, expressas na aliança UDN-PSP-PDC (às vezes o PTB a esse grupo se acoplava). A intervenção se fantasiou de legitimidade promovendo a eleição,pela Assembleia Legislativa, do marechal Ribas Júnior para governador e do deputado estadual Almir Turisco, do PSD, para vice-governador. A assunção do Turisco se deveu a um acordo entre os golpistas e o PSD,para que Ribas tivesse maioria no Legislativo e ele, ou seja, o Almir Turisco, acumulou essa função com a de parlamentar estadual, assim como Rezende Monteiro acumulara o mandato de vice-governador com o de deputado federal.
A sucessão do Ribas e do Turisco repetiu a batalha PSD x UDN, mas agora o PSD era oposição; UDN, situação. Castro Costa, membro da representação goiana, pelo PSD, na Câmara Federal, apresentou-se como candidato, mas o senador Pedro Ludovico, magoado – desconheço o motivo – com ele, indicou Peixoto da Silveira, também deputado federal pessedista. Exaltaram-se os ânimos. Aliados do Castro derrotariam Dr. Pedro na Convenção que se cumpriu no Palácio dos Buritis (atual Palácio Alfredo Nasser). Eu estava lá como repórter do Diário do Oeste, de Goiânia, e da Rádio Difusora de Jataí. Pedro dirigiu a Convenção. Defensores do Castro queriam sufrágios secretos; os contrários, anunciados verbalmente. Este foi o critério triunfante. Formou-se a chapa Peixoto para governador e Armando Storni para vice-governador. Para o Senado (vaga aberta com a cassação do mandato do Juscelino que por sua vez se elegera com a renuncia do Taciano de Melo e do respectivo suplente) João Abrão (suplente, Pedro Péricles, diretamente, o voto). Abrão ganhou do ex-senador e ex-governador Coimbra Bueno (UDN). Geraldo Vale, o terceiro e último colocado, conseguiu ter, em Goiânia, maior votação do que Coimbra.
Antes desse conclave, acontecera o da UDN, presidida pelo deputado jataiense Sídney Ferreira. Deputado Federal Emival Caiado pretendia suceder ao Ribas, mas os fardados lá de cima mandaram Henrique Fanstone, então vice-prefeito de Anápolis pela UDN (gestão Jonas Duarte, em agrupamento contrario ao do Fanstone porque do PSD) dizer que a “revolução” não apeara a oligarquia Ludovico para promover a oligarquia Caiado. Escolheu-se um nome “novo”, o prefeito de Goianésia, Otávio Lage, filho do tradicional udenista Jales Machado, deputado federal. A cadeira de vice-governador ficou para o PTB escolher e o PTB escolheu Jaime Câmara, ex-prefeito de Goiânia pelo PSD, mas os militares o vetaram porque dirigira, no período do Jango, o órgão responsável pela Reforma Agrária. Afastado o nome do Jaime Câmara, o PTB apresentou o deputado estadual Osiris Teixeira. Formou-se, pois, a dupla vitoriosa, por pequena diferença – pouco acima de quatro mil – Otávio-Osiris. Cooperou para esse desfecho o apoio do PSD de Catalão. Isso mesmo, o PSD de Catalão, representado na Assembleia Legislativa por José Seba, abandonou o barco do Peixoto e entrou no barco do Otávio. 53 anos depois,o MDB catalano apoia Ronaldo Caiado, do Democratas, e não o emedebista Daniel Vilela para governador. Pelo menos o prefeito Adib Elias e os que lhe são mais próximos, o fazem. Em Rio Verde, o MDB, liderado pelo prefeito Paulo do Vale, carrega a flâmula Ronaldo Caiado. Situação semelhante em Formosa. São dissidências de peso, claro, porque são três cidades de grande porte. E quem ganhará em Jataí, outro município forte, berço do Maguito e do seu filho Daniel e administrada pelo PSDB? Não sei quais as expectativas por aquelas bandas.
(Filadelfo Borges de Lima – filadelfoborgesdeli[email protected])
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