Católicos, evangélicos, bandidos, luz e tempo
Diário da Manhã
Publicado em 29 de outubro de 2015 às 00:36 | Atualizado há 9 anosO misericordioso leitor já observou que o ano tem apenas 52 semanas ou, como brinco com os amigos, apenas 52 domingos? Quando chega nesta época, outubro e novembro, a conversa é sempre a mesma: “Nossa, já estamos no final do ano, como passou rápido!” Fiz umas contas e, arredondando – “arredondando”, certo, “críticos de plantão?” – e obtive que um ano tem 526.000 minutos e destes, uma pessoa “normal”, aquela que dorme 8 horas, vive 350.000 horas acordada e 175.000 horas dormindo e, voltando às semanas, a pessoa “normal” dorme 17 semanas e “passa” acordado apenas 35 semanas num ano, então, claro, lógico, evidente, o ano passa “rápido” mesmo, são apenas 8760 horas! Essa minúscula poeirinha, o planeta Terra, comparada aos mais de 13,7 bilhões de anos luz, que é a extensão do universo conhecida até agora – e, não nos esqueçamos, essa medida é a distância que a luz percorre viajando a velocidade de quase 300.000 quilômetros por segundo durante 365 dias – então, fazendo os cálculos, e novamente “arredondando”, os 526.000 minutos, que é um ano desta “minúscula poeirinha”, multiplicados por 60 totalizam 31.560.000 segundos que, por sua vez, multiplicados pela velocidade da luz, 300.000 quilômetros por segundo, resulta em – arredondando novamente: 9.500.000.000.000 de quilômetros, quer dizer, em apenas 365 dias, um ano terráqueo, a luz percorre 9,5 trilhões de quilômetros, então, misericordioso leitor, imagine quantos zeros serão necessários se multiplicarmos 9,5 trilhões por 13,7 bilhões… Olha, já tem gente afirmando que são 156 trilhões essa extensão.
Diante de tanta grandiosidade e magnificência, tem muita gente que, mesmo “cagando” na água todos os dias, e noites, porque aquilo não se pode postergar e aparece sem avisar, fica ostentando fé inexistente, “caiada”, como costumava falar o “profeta maior”, Jesus, “dando graças a Deus” todo o minuto, fazendo o sinal da cruz todo momento, pendurando cruzinhas e santinhos no pescoço, na carteira, no umbigo, na orelha, com a Bíblia, feito desodorante, debaixo do braço, porque não sabem nem quem foi Habacuque – para citar apenas um entre os inúmeros “profetas menores” que escreveram pequenos livros, como costumam alcunha-los alguns teólogos – então, alguns também vivem viajando em lombo de cavalo, ou “carro de boi”, por centenas de quilômetros em romarias, acendendo velas de todas as cores, subindo escadarias ajoelhadas, assíduas, todas as semanas, no culto, na missa, clamam, rejubilam, jejuam, rezam, oram, enfim, já vi muita devoção, no entanto, quando nos aproximamos dessas pessoas, muitas vezes com uma conversa de poucos minutos, com “pouca prosa”, como costumavam falar os nossos pais, verificamos que não são tão cristãs como ostentam serem.
Nessa minha mania de querer ser jornalista dos fatos e direito, sem mancomunar-me com a “imprensa prostituta” – aquela que se prostitui com governos corruptos como o do Brasil, mais uma vez, ocupando o primeiro lugar no ranking mundial da corrupção – então, desde menino enfiado e enfurnado em enfumaçadas e frenéticas redações de jornais e silenciosas bibliotecas aprendi a levar vidas duplas, triplas, quadruplas para poder apreciar, entrevistar pessoas, conviver com elas, senti-las em profundidade em seu “habitat”, em sua essência e, acho, até hoje, que esse é o melhor material para um escrevinhador “médio-cre” como eu, que não sabe criar nada, só faz relatar o que vê e ouve, enfim, voltando, não estou, e seria muita cara de peroba se eu quisesse ser paladino da moral e ética, querendo ensinar nem ministrar nada, entretanto, a realidade sempre foi incontestável e é essa: a imensa maioria das pessoas que se dizem cristãs, ou crentes, carece dos conhecimentos básicos, não somente sobre a sua religião, fundamentos, dogmas, patriarcas, mas, pior, não tem consciência de si mesmas, não sabem nada, por exemplo, sobre consciência, inconsciente, “inconsciente coletivo”, ego, superego, arquétipos, recalques, “selfs” e por aí vai… Se a nossa Educação fosse séria tudo seria de “conhecimento geral”, não privilégio de pouquíssimos, dos doutos, psicólogos e psicanalistas e, afirmo mais, todo esse conhecimento, necessário para um ser humano constituir um conhecimento de si mesmo, poderia ser aprendido no “Ensino Fundamental”, mas, pior, muito pior, mais de 90% das pessoas com as quais conversei, durante toda a minha vida, que se dizem católicas ou evangélicas, nunca leram sequer um dos cerca de 70 livros que constituem a Bíblia e aposto que 99% dos brasileiros não leram nem sequer as Escrituras Gregas Cristãs, ou seja: o Novo Testamento! Então, embora digam que somos o maior país católico do mundo, um dos maiores entre os evangélicos, carecemos de identidade e somos vistos, pela imensa maioria dos bilhões de humanos, como um povo maldoso, viciado, corrupto, sexuado, violento, com mais de 55.000 homicídios por ano, uma verdadeira guerra civil. Até.
(Henrique Dias é jornalista)
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