Cidades de gatos e plantações com formigas
Diário da Manhã
Publicado em 26 de junho de 2016 às 02:35 | Atualizado há 9 anosA natureza é perfeita, mesmo assim há quem duvide. No meio natural, em um ecossistema em equilíbrio a cadeia alimentar é responsável por fazer esse papel de controle populacional das espécies naquele ambiente. Assim, nada falta, nada passa. Nesse cenário, o equilíbrio permite que as espécies se desenvolvam em perfeita sinfonia, de forma que não cause prejuízo aos demais conjuntos ecológicos.
Seguindo esse pensamento, aplicando para a zona urbana, é comum questionarmos o aparecimento de tantas baratas, cupins, roedores, formigas e mosquitos. O que poucos sabem, é que nas áreas urbanas e inclusive em alguns lugares de zona rurais já não existe mais equilíbrio ecológico. A expansão das cidades e os desmatamentos têm ocasionado perda e diminuição da biodiversidade, favorecendo assim, a um ambiente propício para a proliferação de algumas espécies.
Diante dessa problemática, ainda é extremamente preocupante a suscetibilidade de doenças transmitidas por tais animais. Os departamentos de zoonoses lidam com cautela diante dessa situação, pois a contaminação é diretamente proporcional ao desequilíbrio ecológico do meio em questão, quanto mais desequilibrado o meio, mais caótico. Visando o combate ás pragas, surgiram empresas e produtos especializados em cada tipo de ocasião, que vão desde venenos até dedetizações. Mesmo que essa ideia resolva a situação, o resultado não é duradouro, cada vez mais aumenta a recorrência desses animais indesejáveis.
Algumas pessoas acabam adotando gatos na tentativa de eliminar os ratos, o que seria um ótimo exemplo de controle biológico, onde uma espécie é responsável por combater o crescimento populacional desordenado de outra espécie. Nas plantações, muitos produtores estão aderindo esse recurso e abandonando os inseticidas e agrotóxicos, criando espécies que se alimentem das pragas. Um bom exemplo é a introdução de formigas em plantações de cacau, pois são predadores de tripes e percevejos. Os inimigos naturais são levados ao ambiente em desequilíbrio, mas inúmeras preocupações surgem exatamente nesse ponto. Qual espécie será a predadora do animal, inseto, fungo, vírus, nematoides e protozoários introduzidos para combater as pragas? Os questionamentos por esses métodos levam a pensar se a cidade será infestada por gatos ou as plantações de cacau por formigas no lugar das pragas.
Devo remeter a frase inicial do artigo, a natureza é perfeita, portando qualquer alteração provoca um desequilíbrio ambiental, que pode ser na maioria dos casos irreversíveis. Portanto, mesmo que seja necessário aderir algum recurso para controle de pragas urbanas e rurais, deve-se fazer o acompanhamento minucioso antes, durante e depois, a fim que de não se torne um problema ainda maior.
(Juliene de Brito Ferreira, bióloga. E-mail: [email protected])
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