Comissão goiana de folclore – 70 anos
Diário da Manhã
Publicado em 21 de outubro de 2018 às 00:45 | Atualizado há 6 anosComo foi criada a Comissão Nacional de Folclore. O Japão não se rendia no final da 2ª Grande Guerra Mundial (1939-1945). Os Estados Unidos produziram 3 bombas atômicas. No dia 6 de agosto de 1945 foi lançada a primeira em Hiroshima e no dia 8, em Nagazaki. No dia 10 seria em Toquio, quando o Japão se rendeu e assinou o armistício. Com o efeito destruidor das referidas bombas, arrasando as duas cidades e matando milhares de pessoas, a ONU – Organização das Nações Unidas, sentiu a desumanização dos povos e criou a UNESCO para a sua confraternização. Daí foi criada, pela UNESCO, em 1948, a Comissão Nacional de Folclore, e no mesmo ano, a Comissão Goiana de Folclore, que é um departamento da Antropologia. O seu primeiro presidente foi o secretário da Educação Colemar Natal e Silva, depois o Cônego Trindade, Regina Lacerda e vários outros folcloristas, inclusive eu, sendo atualmente presidente, a dinâmica historiadora Izabel Signoreli que conseguiu chegar à casa dos 40 as comissões municipais, fato inédito nas comissões estaduais de outros estados. Todos os utensílios artesanais, o jeito de vida e entretenimentos, dos primórdios, até o dia 22 de agosto de 1846 tinham o nome de “Antiguidades populares”, quando o inglês William John Thoms propôs e foi aceita a palavra Folk-lore para substituir “Antiguidades populares”. Folk, povo, lore, estudo. Reconhecimento oficial – Dia do Folclore – 22 de agosto, lei pelo Presidente Humberto Castelo Branco, em17-08-1965. Foi criada também uma lei pelo Presidente Geisel, a Semana do Folclore Brasileiro, de 16 a 22 de agosto, para ser comemorada em todos os estabelecimentos de ensino. Em Goiás todo o mês de agosto é do folclore, por lei do ex-deputado estadual e presidente da Academia Goiana de Letras, Ursulino Tavares Leão. A Comissão Nacional passou por diversos nomes. Em 1951, no Primeiro Congresso Brasileiro de Folclore: Comissão Nacional de Folclore. Em 1958, Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. Em 1965, Instituto Nacional de Folclore. Depois, Comissão, novamente. Reza na Carta do Folclore Brasileiro de 1951, que “Constitui folclore a maneira de sentir e agir de um povo, conservada pela tradição e transmitida oralmente”. E os fatos folclóricos são justamente 5: Anônimo – Oral – Tradicional – Coletivo – Funcional. Outras definições: “Ciência Popular”, “Saber Popular”. “Saber do Povo” – “Estudo das manifestações materiais e espirituais do povo” – “Pesquisa da psicologia do povo”. Origem: Português – Indígena – Africano: “João curututu/detrás do murundu/vem pegá nenê/que tá com calundu”. Povo: Conjunto de pessoas que possui um modo de vida comum e habita o mesmo território e integra as classes menos favorecidas, tanto na área econômica, como na social, quanto cultural da sociedade. O povo é sábio. Tudo o que o povo diz e faz constitui sabedoria. A prova da sabedoria do povo está nas artes, causos, estórias, ritos, mitos, superstições, instrumentos, ferramentas, danças, festas, cantigas, poesias, magias, brinquedos, jogos, rendas, bordados, tecelagem, trançados, cestarias, cerâmica, remédios, comidas, benzeções, parlendas, travas-língua… No meio do povo há sempre alguém que cura sem ser médico, que calcula sem ser matemático ou engenheiro, conhece as fases da lua sem ser astrólogo, apenas pela intuição e pela inteligência… Pioneiros: Literatura: José de Alencar e Gonçalves Dias. Música: Alberto Nepomuceno (Batuque) e Alexandre Levy. Os que reclamaram o estudo do folclore: Amadeu Amaral (Dialeto Caipira), Afrânio Peixoto e João Ribeiro. Nós convivemos com o Folclore, com os utensílios da nossa casa: Quem não tem em casa uma colher de pau, uma peneira, um pilão, uma gamela… panela de barro, colcha de retalhos, (colcha de tear caseiro), cestas, balaios, jacás… Quem não tomou um chá de alho com limão ao ir para a cama com uma gripe, com sarampo? Não foi benzido, não comeu melado, boneca de engenho, mané-pelado, pé-de-moleque… Quem nunca ouviu falar que “É do couro que se tiram as correias”? “Quem tem boca vai a Roma”? Não assistiu a uma Folia de Reis ou do Divino? Não assistiu a uma quadrilha, uma catira? Não ouviu causos, estórias do Pedro Malazartes, não brincou de pique debaixo do poste, à noite, barra-bola, não cantou ciranda, cirandinha… Adivinhações: Aguçam o desenvolvimento da criança – “O que é, o que não é?” – Amendoim, chuva, boi… Música caipira e sertaneja – Música sertaneja é evolução da caipira… Moda de viola e recortado. Não obedece a nenhuma exigência musical e poética. Desafio, porfia, peleja: Sempre um cantador jogando insultos no outro e vice-versa, para depois acabar tudo bem entre os contendores. Embolada: Rapidez na pronúncia das palavras: “Eu lhe dei vinte mil réis pra tirar três e trezentos…”. Pagode: Como o fandango: qualquer baile de roça ou de ponta-de-rua tem o nome de pagode. Hoje é ritmo, batidão de viola. Mitos-entes fantásticos-lendas: Saci Pererê – Romãozinho – Lendas do Dia/noite – Caipora – boitatá – boiúna – boto – bruxa – lobisomem – caboclo d’água – mãe d’água – mãe do ouro – mula sem cabeça – Negrinho do pastoreio – negro d’água – pé de garrafa… Misticismo: Crendices-Superstições: Crendice é crença em coisas infundadas que a ciência e as pessoas cultas não aceitam. Superstição é sentimento religioso, baseado no medo e que a ignorância pretende explicar sobre as forças sobrenaturais. O supersticioso acha que tudo o que é de mal vai acontecer com ele. Rezas e Benzeções … Fábulas: São estórias de fundo moral onde os personagens, bichos e animais, falam (apólogo) – La Fontaine e Esopo: A raposa e as uvas; o gavião, o urubu e a rolinha… Estória & História: Pagode – Danças – Catira – Quadrilha, dança ou roda de São Gonçalo: Santo português comemorado em 19 de janeiro, violeiro e protetor das mulheres. É casamenteiro, também, como Santo Antônio. Congos-congadas: Dança guerreira dos negros com guizos nos pés- vermelho e branco: festas do Divino e do Rosário. Folias de Reis e do Divino – Festa do Divino – Imperador – maio/junho – folia – cavalhadas – (artesanato:) verônica – alfenim – medalhas. Folia: Pouso – terço – coreto – loa – décima – agradecimento de mesa – ceia dos inocentes e dos cachorros – catira – pagode. Décima: estrofes de 10 versos e de 8 sílabas (agora, apenas quadrinhas). Loa: versos em louvor a alguém ou em comemoração, dito por uma pessoa: “A pinga é minha madrinha, meu padrinho, o garrafão. Madrinha, traz o padrinho que eu quero tomar a benção”. “Meu santo Antônio, meu santo por quem sois; me dê o primeiro marido, que os outros eu arranjo depois”… Coreto: Pequeno coro de vozes que cantam bebendo, que ao término, é ofertada uma pinga mas o agraciado só pode beber se recitar uma loa, décima ou quadrinha: “Quando eu vim da minha terra/ perdi todo o meu respeito/ perdi a força das pernas/ perdi a força do peito/ mas o lugar de botar pinga/continua do mesmo jeito”. “Meu Santo Antônio, meu Santo Augustim, me dê a força no pinto que o porco tem no focim”… Jogos e brincadeiras: Há Jogos motores que são os de movimento: pique – acusado – escolha. Parlenda: une, dune… – par ou ímpar – cara ou coroa. Brincadeira é a ação de brincar – Hoje brinquedo e brincadeira são os mesmos jogos; antigamente jogo era de azar. Jogos: malha – peteca – pião – baliza – bolinha – pular corda e cela. Parlenda & Trava língua: Parlenda: une, dune e tre… Domingo pede cachimbo… – Trava língua: pia pinga, pinga a pia… Festas juninas e os Santos: mastro – fogueira – quadrilha – comadres e compadres. O galo e o milho – Pé de pimenta – Agulha na água… Quadrilhas dos palácios da França para o povo brasileiro. Cavalhadas: É o auto mais rico e empolgante do folclore brasileiro. Carnaval: Entrudo. Sábado da Aleluia: Testamento e queima do Judas – Leilão. Mutirão e Traição – Pesos & Medidas: Alqueire – Artesanato – Cerâmica – Cestaria. Artesanato é a arte de fazer com as mãos. Ditados, ditos populares, provérbios e suas derivações: Toda expressão curta, saída da filosofia popular, que encerra um sentido completo, que diz tudo em resumo, que tenha um princípio de verdade, é um ditado. São conceitos breves, ricos em imagens e de efeito rápido na compreensão do ouvinte. Para o povo isso é dito ou ditado. Mas o folclore, que é um ramo da Antropologia, estuda e divide o ditado em vários ramos, como: adágio, provérbio, anexim, aforismo, máxima, refrão ou rifão, sentença. Resumindo, podemos chamar tudo isso de filosofia popular, porque, nos adágios, ditados etc., entram sabedoria, malícia, ironia, sátira e… muita experiência de vida. São frases filosóficas e humorísticas, sentenças ditas pelo povo: sabedoria popular, filosofia popular. A sentença contém um sentido ou princípio geral: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido”. O provérbio tem caráter prático e popular: “Deus dá asas para quem não sabe voar”. O aforismo é sentença moral: “Quem dá aos pobres empresta a Deus” – “Não deseje para os outros o que não quer para si”. A máxima é uma expressão que encerra um sentido indiscutível: “O pau, quando nasce torto, até a cinza é torta”. Vamos ver alguns dos mais conhecidos ditados, adágios ou provérbios: “A galinha do vizinho é mais gorda do que a minha”. Sempre achamos que as coisas dos outros são melhores do que as nossas. “A cavalo dado não se olham os dentes”. “Quem tem boca vai a Roma”. “Mais feio que briga de foice no escuro”. “Pimenta nos olhos dos outros não arde… ou é refresco”. Filosofia popular (parachoques): “Não sou 7 de setembro, mas sou uma grande parada!” – “Não sou pipoca mas dou os meus pulinhos” – “Na escola da vida não há férias” – “Quem vive do passado é museu” – “Praia de pobre é gamela” – “A necessidade faz o sapo pular” – “A sombra do branco é igual a do preto” – “Preto é cor. Negro é raça!” – “Bronca de tostão não tem troco” – “Comigo cara feia é fome” – “Comer e coçar basta começar” – “Se conselho valesse não era de graça” – “Se me ver abraçado com mulher feia pode apartar que é briga!” – “Cada macaco no seu galho!”- Epitáfios (Epígrafe-Epílogo) – Estorinhas: “O veado e a onça … Cantigas-de-roda: “Atirei um pau no gato…” – “Nesta rua mora um anjo…” – “Pirulito que bate,bate…-”Terezinha, de Jesus…” – “Ciranda, cirandinha…” – “Senhora Dona Sancha…” – “Eu sou rico, rico, rico…” – “A canoa virou…” – “O cravo brigou com a rosa…” – “Fui no Tororó…” – “A Rosinha é bela…”. Quadras ou quadrinhas e trovas: Estrofes com 4 versos: redondilhas maior e menor, com 7 e 5 versos, respectivamente; têm sentido completo, umas engraçadas e algumas são filosóficas: “A alma de muita gente é como o rio profundo: a face tão transparente, mas quanto lodo no fundo!” – “Atirei um pau no gato…” – ”Atirei um cravo branco na morena da janela. Ela me chamou de louco, louco fiquei eu por ela”- “Meu amor é um diamante, mesmo assim não digo bem. Que diamante tem preço, e meu amor, preço não tem” – “Tenho meu chapéu de palha, de feltro não posso ter. De feltro custa dinheiro, de palha eu posso fazer”- “Até nas flores se encontra a diferença da sorte. Umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte” – “Com pena peguei na pena, com pena de te escrever, a pena caiu da mão, com pena de não te ver”. Pois, tudo isso é folclore. Macktub!
(Bariani Ortencio. barianiorten[email protected] – Presidente do ICEBO-Instituto Cultural e Educacional Bariani Ortencio -Membro e tesoureiro de todas as entidades culturais de Goiânia)
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