Como o Estado brasileiro se tornou o “gigolô do Sérgio Moro”
Diário da Manhã
Publicado em 19 de março de 2017 às 02:33 | Atualizado há 8 anosNo Brasil as coisas no Estado nunca melhoram por princípios morais ou intelectuais; aqui as coisas só melhoram quando se chama o Capeta para espantar o Belzebu. Na revista “Carta Capital” desta semana – revista cuja credibilidade questiono, assim como tantas outras, e que só leio pelo dever de ler a esquerda tanto quanto leio a direita – há um dado interessante sobre isso que eu disse: pela primeira vez em décadas os funcionários do banco estatal BNDES se reunem para tratar do funcionamento do banco e não de aumento dos salários…
Pois bem, a mesma revista, agora, servindo a Lula, opta por atacar o reto e eficiente juiz Sérgio Moro , dizendo entre outras coisas, que seu salário e benesses são altos e que ele é arrogante (em um vídeo, diz para um advogado “fazer concurso de juiz para assim poder comandar uma sessão”). O objetivo da revista é claro: usar das regalias do Judiciário – algo que tem despertado a fúria de parte da população – para, por tabela, desmoralizar Moro. E desmoralizar Moro para assim salvar Lula. É compreensível por parte de uma revista que é notória pelas verbas que recebe da esquerda, assim como as tantas outras também são notórias pelas verbas que recebem da direita. Como no Brasil é a verba quem manda, e não a honestidade intelectual, é assim que eu justifico para meus leitores o porquê de eu ter de ler tanto lixo, tanto da esquerda quanto da direita, pois só assim posso tirar uma média ponderada do que, de fato, estaria acontecendo na realidade.
E, na realidade, há um elemento oculto nisso tudo: o uso midiático de Moro que o Estado tem feito para melhorar a própria imagem: “olha como o Judiciário funciona, olha como a polícia funciona, olha como o ministério público funciona, olha como a receita federal funciona, olha como nossas instituições funcionam”, etc. É importante mostrar como “as instituições funcionam” num momento em que a economia mostra justamente: “olha como nossa sociedade não funciona”. E não funciona exatamente por causa de um Estado que a oprime, com impostos e mais impostos, “ilegalidades” e mais “ilegalidades”, a ponto do Estadão mostrar, nessa semana, que 86% dos empresários brasileiros estão irregulares. Ora, se 86% dos empresários está irregular, quem está irregular é o Estado, não a sociedade.
Será que, um dia, teremos um “Moro que irá nos defender”, assim como hoje temos um que defende o Estado? Sim, porque também nesta semana a Folha publicou uma nota onde questiona-se por que operações como a Lava-Jato só beneficia o Estado, ou seja, só se volta para quem “prejudicou o Estado”? Isto é, por que não temos igual eficiência ou iguais Moros, para defender a Sociedade Civil, justamente contra os ataques , asfixias e benesses do Estado? Por que não temos iguais Moros para colocar o Estado e seus protagonistas no banco dos réus? (lembando que, até hoje, nenhum político ou autoridade estatal ativa foi presa, inclusive Lula, apenas empresários).
Por que não vem ninguém a público defender o verdadeiro “herói” desse país – que não é quem tem cargo vitalício ou salário vultoso para cumprir nada mais que sua obrigação – , mas que é aquele cara que, apesar de tanta coisa contra ele – o “criminoso” -, apesar de tantas taxas, impostos, burocracias, mandados judiciais, subornos, regras, normas, fiscalizações, leis, injunções trabalhistas, etc, ainda tem o ânimo hercúleo de colocar o pé esquerdo fora da cama e ir defender o leite das crianças com sua banquinha de laranja?
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)
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