Como se construiu na mente de Adélio Bispo o quase-assassinato de Bolsonaro?
Diário da Manhã
Publicado em 15 de setembro de 2018 às 22:32 | Atualizado há 6 anosEle era fâ do cabo Daciolo, candidato à Presidente mais à Direita. O que há de comum na psicopatologia da teoria conspiratória de ambos? Ou não há nada em comum já que Adélio era filiado da esquerda?
Como já comentamos em dois artigos anteriores ( “Análise Psiquiátrica do Agressor de Bolsonaro” e “Por que o quase agressor de Bolsonaro era contra a Maçonaria?”), fizemos uma revisão nas postagens Facebook do agressor de Bolsonaro, a partir de fev 2018. Nesta revisão, em determinados momentos , deparamo-nos com comentários muito elogiosos ao atual candidato a presidência da República, cabo Daciolo. Como o cabo Daciolo, o agressor Adélio acredita que há uma “conspiração maçônica” para dominar o Brasil, assim como dos Illuminatti, ou da Opus Dei. Pregam uma rigidez moral, religiosa, teológica. No entanto, este “direitismo” de ambos é bastante incongruente com suas raízes políticas, ambos ligados ao Psol. Daciolo foi deputado pelo partido, Adélio foi ligado a ele entre 2005 e 2014.
Em nossos artigos anteriores, comentávamos sobre o “fanatismo de Direita Teológica” e o “fanatismo de esquerda” . Como conciliar o Esquerdismo, que geralmente é ateu, a-moralista, é contra a autoridade, com a Direita Teológica, que é justamente o contrário : a favor de Deus, da moral, da autoridade. No meu entender, ambas as tendências não são passíveis de convivência; não é possível ser fanático-esquerdista e moralista-teológico ao mesmo tempo. O esquerdismo adota a coletividade justamente para fugir da Autoridade de um Único.
Como já comentamos em nossos artigos anteriores, Adélio passou pelo Esquerdismo, assim como o Cabo Daciolo. Já analisamos que , no fanatismo, o paciente – ou o indivíduo – tem uma “energia aumentada”, e esta energia contrapõe-se à energia dos outros. Por isto contrapõe-se às autoridades, aos patrões, aos “Ditadores”, aos poderosos, Maçons, Grandes Grupos Econômicos, Rockfellers, Rotchilds, Soros, etc. No entanto, os fanáticos esquerdistas, quando não têm como exercer seu poder, ficam frustrados dentro do esquerdismo. No esquerdismo só há três caminhos : ou seguir um “guia-mestre”, tipo Lula, Mao, Stalin, Marx, etc, ou então adotar um igualitarismo do tipo “decisões colegiadas”; ou então, finalmente, usar esta energia para destruir os inimigos, inclusive com atos de terrorismo contra os poderososgrandesricos, assassinatos, etc. O lugar de Lula ninguém pode tirar; já entregar-se a um igualitarismo colegiado esses fanáticos não conseguem fazer. Para atuar em assassinatos, há de se ter uma instabilidade emocional a um nível tão patológico que o Cabo Daciolo não parece ter ( já Adélio, como vimos, o tem ).
Se a pessoa fanática não se enquadra nestes três canais para exercer seu poder, pode arranjar um jeito mais “funcional” : projetar todo seu potencial energético sobre um Ser Superior, sobre a Religião, sobre Deus. Esta projeção sobre o Ente Superior aplaca a própria energia patológica porque a coloca sob a humildade deste Ente, sob o controle da Ordem religiosa, sob a disciplina férrea da Bíblia. Muitos indivíduos, como Daciolo, procuram tal religião justamente para aplacar esta energia excessiva ou intensa; já outros justamente a conseguem aplacar porque esta energia já não é tão patológica, permite a construção de uma família, de relações sociais dentro de uma comunidade religiosa, comunidade política, etc. Assim como Daciolo , hoje pastor evangélico, o fez. Como a energia de Daciolo não é tão patológica, ele constroi uma rede de apoio que, por sua vez, gera um círculo virtuoso, pois ajuda a controlar a própria energia, disciplinando-a, colocando-a sob o afeto, sob a Ordem, sob a complascência e o amor de Deus.
Já com Adélio, esta energia, ou por seu excesso ou por falta de continência adequada, se patologizou, não foi possível contê-la com família ( é solteiro ) , com Deus, com religião. Na mente dele, de tão perturbada, houve um amálgama de coisas incompatíveis, esquerdismo e direitismo. Numa mente um pouquinho menos perturbada, como a de Daciolo, as duas tendências não seriam compatíveis, pois o Esquerdismo não aceita a Autoridade, entre elas a de Deus. No esquerdismo a Autoridade de Stálin, Mao, Lula, se exercem apenas porque, sem ela, o partido não funciona, o igualitarismo o destroi, o igualitarismo leva à mediocridade e às brigas invejosas intestinas da maioria.
Sem ter onde projetar toda esta energia patológica ( Daciolo a projetou sobre Deus e se “conteve” nele ), Adélio teve de colocá-la para fora do próprio Ego, partindo para o ataque terrorista dos inimigos poderosos externos ( militares – Bolsonaro junto – maçons, grandes grupos econômicos, políticos de direita e capitalistas, etc ). Neste sentido, Daciolo é um Adélio sadio, ou, pelo contrário, Adélio é um Daciolo adoentado. A Religião seria uma evolução saudável para o Esquerdismo. Mas no caso Adélio, não foi possível fazer esta transição. Sua energia excessiva tornou-se tão patológica que ele saiu do Esquerdismo ( não aguentava ser igual a todos, humilde ) e não se encontrou , não se projetou , no Teísmo. Ele tornou o seu próprio Deus, com toda a gana de mudar os rumos do mundo ( ele tem posts sobre isso ). Megalomaniacamente ( sua doença piorou ) ele queria mudar os planos do Universo por suas próprias mãos, custasse o que custasse. A falta de crítica, falta de auto-controle, promovida pelo déficit frontal ajudou nisso . Na megalomania há déficits da região frontal do cérebro. A pessoa fica , ao mesmo tempo, enérgica, desinibida, sem crítica, sem juízos inibitórios.
Comprova isso a mensagem de uma sobrinha de Adélio : “a gente não tinha dinheiro ou jeito de interná-lo, mas ele precisava”. ( análise teorica- em tese- com base nos dados disponíveis nas midias).
(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)
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