Controle e cirurgia da obesidade
Diário da Manhã
Publicado em 4 de janeiro de 2018 às 22:21 | Atualizado há 7 anosA prevalência de sobrepeso e obesidade vem aumentando rapidamente no mundo. E no Brasil, esta realidade não tem sido diferente. Alguns levantamentos apontam que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade. Entre crianças, estaria em torno de 15%. Tratando-se portanto, de um importante problema de saúde pública que merece atenção especial dos gestores de saúde.
Longe de ser um problema estético, a obesidade é uma doença crônica, que caracteriza-se pelo acúmulo de gordura corporal, que pode ser causado pelo excesso de consumo de calorias e/ou inatividade física. É fato que os fatores genéticos desempenham papel importante na propensão do indivíduo para o ganho de peso, porém são os fatores ambientais e de estilo de vida, como hábitos alimentares inadequados e sedentarismo, que geralmente levam a um balanço energético que favorece o surgimento da obesidade.
Considerando os diversos estudos epidemiológicos existentes que apontam claramente a obesidade como um dos fatores de risco para o colesterol alto, hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovasculares, dentre outras, hoje não existem dúvidas de que uma abordagem preventiva deve ser iniciada já na infância e adolescência. Até porque, os primeiros dois anos e também a fase pré-escolar são os períodos em que são formados os hábitos alimentares e de atividade física e que hoje já sofrem uma influência bastante negativa dos fast-foods e alimentos pré-fabricados, próprios da vida contemporânea.
Sabe-se também que o sobrepeso e a obesidade estão associados a distúrbios psicológicos, incluindo depressão, distúrbios alimentares, imagem corporal distorcida e baixa autoestima. E é com essa leitura ampliada acerca da complexidade das causas da obesidade, que o Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG) trabalha com o Programa de Controle e Cirurgia da Obesidade (PCCO) oferecendo o tratamento para o excesso de peso, que começa pela abordagem clínica multiprofissional e finaliza com o tratamento cirúrgico, caso seja a indicação médica.
O HGG é o único em Goiás a contar com a habilitação de unidade de assistência de alta complexidade ao portador de obesidade grave pelo Ministério da Saúde, conforme recente portaria 2.873, de 27 de outubro de 2017. Com este reconhecimento da qualidade do hospital, o Programa aumentou sua meta de cirurgias para 12 procedimentos mensais. O processo de habilitação durou cerca de três anos, quando foram realizadas diversas adequações para atender as normas da Vigilância Sanitária e adquiridos equipamentos específicos para atender pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40. São quatro enfermarias especiais, com camas que suportam pessoas com cerca de 300 quilos e banheiros com medidas e estruturas adequadas.
O Programa prevê uma investigação ampliada do estado de saúde do paciente, o que significa a avaliação por uma equipe multidisciplinar: médico cirurgião, médico endocrinologista, médico pneumologista, enfermeiro, psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista, fisioterapeuta e assistente social, que visa alcançar o estado nutricional adequado do paciente, mediante a perda de peso. E, no insucesso do tratamento clínico e para aqueles pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) maior do que 40 kg/m2, a cirurgia bariátrica tem sido apontada como a melhor alternativa.
No histórico de atendimentos do HGG, o tratamento cirúrgico tem se justificado, pela grande quantidade de pacientes portadores de obesidade mórbida que não responderam ao tratamento conservador (dieta, psicoterapia, atividade física, etc.) ou pela variedade de doenças associadas desencadeadas ou agravadas pela obesidade, tipo hipertensão, apneia do sono e/ou diabetes.
Após a cirurgia bariátrica é esperado que, nos primeiros dois anos, o paciente perca entre 60-80% do excesso de peso. E com a diminuição do excesso de peso e mudança dos hábitos após a cirurgia, é esperado que ele apresente melhora das comorbidades. Com esses resultados, é visível a melhora na qualidade de vida do paciente tanto nos aspectos físicos, psicológicos e emocionais, mas, sobretudo, nos sociais, uma vez que ocorre a sua reintegração no trabalho e na sociedade.
Vale alertar, que a obesidade vai muito além da questão estética. E a prevenção mais efetiva e saudável continua sendo aquela que envolve mudança no estilo de vida, com a prática de exercícios físicos regulares e supervisionados, em conjunto com uma alimentação balanceada e adequada. No entanto, uma vez adquirido o sobrepeso, o problema deve ser tratado como doença, que requer assistência médica especializada e multiprofissional.
(Rogéria Cassiano, diretora de Serviços Multiprofissionais do HGG e psicóloga)
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