Opinião

Corpo de mulher não é mercadoria

Diário da Manhã

Publicado em 24 de setembro de 2016 às 02:40 | Atualizado há 8 anos

Quando se ouve um caso de violência contra a mulher, a primeira coisa que pode vir à mente é a agressão física. Porém, uma propaganda de cerveja, que explora e sensualiza diariamente o corpo da mulher, por exemplo, também agride e rouba a personalidade de muitas delas. Pior do que isso, é ter de conviver em uma inversão de valores típica do contexto brasileiro, que culpabiliza mulheres estupradas por usarem determinadas roupas, como revelou recente pesquisa no País.

É lamentável saber quando mais de um terço da população brasileira atribui, conforme estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgada quarta-feira (21), à vítima a culpa por ter sofrido abusos sexuais. Dados deste levantamento mostra que 37% dos brasileiros concordam que ‘mulheres que se dão respeito não são estupradas’. E pasmem, pois a concordância – de mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for violentada sexualmente – chega de um a cada três brasileiros.

A náusea aumenta ao ser revelado que o percentual chega a 42% entre homens. Outros 30% acreditam que a ‘mulher que usa trajes provocativos não pode reclamar se for estuprada’. Temos o direito de caminhar na rua com o traje que quisermos sem sermos molestadas ou cantadas. Os números bem que assustam, mas são típicos de uma sociedade patriarcal, que romantiza “50 tons de cinza”. Uma sociedade autoritária de valores masculinos.

 

ABUSO ENRAIZADO

Engana-se quem pensa que a violência é somente física. Entenda, violência é toda forma de violação da dignidade que causa dor física ou emocional. Atentados contra a mulher, no Brasil, existe em vários níveis e a perpetuação da cultura do estupro é uma delas. O resultado do estudo da FBSP reforça tal cultura. Vale lembrar o caso de um ataque coletivo, em maio deste ano, contra uma adolescente no Rio de Janeiro, que ascendeu essa discussão.

O estupro é devastador e ignora consentimento. É bem mais ordinário do que se imagina, pois em sua grande maioria é praticado por pessoas do convívio da vítima, por exemplo, professores, padastro, pai, irmão, avó, vizinhos e amigos. Até mesmo pelo próprio companheiro ou marido.

Como na natureza, em que nada se cria, tudo se transforma, é preciso um esforço mútuo para transformar essa realidade, entre sociedade e governos. Além disso, nós, mulheres, necessitamos falar de violência de forma plural, pois ninguém fará nada por nós mesmas em um sistema masculino e cultural que culmina muitas vezes em morte. Por tanto, precisamos ter mais mulheres na vida política, no poder, mulheres capazes de romper com o silêncio e as relações abusivas. Empoderamento é a palavra de ordem!

 

(Adriana Machado, administradora, empresária no ramo de alimentos, voluntária e candidata a vereadora por Goiânia)

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