Opinião

Desapega que a vida flui

Diário da Manhã

Publicado em 2 de janeiro de 2018 às 23:46 | Atualizado há 7 anos

 

Toda virada de ano o ritual é o mesmo. Da­mos uma olhada nas gavetas, no guarda-rou­pa ou naquele quartinho de entulhos da casa e num desses lugares encontramos aquele carrinho de bebê que já não usamos há um bom tempo, pois nossos filhos cresceram; ou aquele terno que há muito está esqueci­do num canto ou aquele belo conjunto de fer­ramentas ainda na caixa, que só depois per­cebemos que não seria tão útil. Pois pode ter certeza, se não serve mais para gente para ou­tra pessoa certamente servirá.

Então façamos esse exercício não só no fi­nal ou início do ano, mas sempre que puder, ao longo dos próximos 12 meses desapegue. Faça isso e ganhe imediatamente mais es­paço e, porque não, um bom lucro com isso. A cultura do desapego tomou força nos últi­mos anos com a internet. Para se ter ideia, um dos maiores portais de classificados online do Brasil, movimentou só em 2015, cerca de R$ 70 bilhões em transações de compras e ven­das de produtos usados.

Em tempos de economia compartilhada e racionalização do uso dos recursos naturais, o desapego tem sido palavra de ordem. Di­ferente da época de nossos pais e avós, hoje não nos importamos tanto com casas muito grandes e preferimos os apartamentos com­pactos. Essa mudança de cultura, em deixar de ostentar com que não se usa e fazer a eco­nomia girar com que já se tem, é uma tendên­cia inexorável e cada vez mais fortalecida com as plataformas digitais de permutas.

Na economia compartilhada, quando nos desapegamos, espaço é só um dos nossos ga­nhos. Sabendo que o que eu tenho, mas não uso, pode ser útil a alguém, porque não agre­gar valor a esse bem ou serviço e negociá-lo? Nada contra o desapego no sentido de doação ou para ajudar alguém, aliás isso é uma práti­ca saudável e necessária ao espírito humano, mas também é preciso entender como natu­ral a oportunidade de negócio com um bem que não usamos mais.

Ao contrário de outros países, o Brasil ain­da não explora todo o seu potencial de com­pra e venda de produtos usados. Esse amadu­recimento depende da superação de alguns preconceitos, como a ideia de que só vende­mos nossos bens quando precisamos de di­nheiro com urgência e ainda, lidar com a desconfiança numa negociação com um des­conhecido. As plataformas digitais de permu­ta e vendas de produtos usados estão aí para garantir a seriedade e eficiência nessas novas relações de consumo e fazer a economia girar de uma forma muito mais sustentável.

(Rafael Barbosa, especialista em economia compartilhada e CEO da plataforma XporY.com)

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