Desinteresse político, a quem interessa?
Diário da Manhã
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 22:16 | Atualizado há 6 anosQuando alguém diz que não se interessa por política, acreditando que pode cuidar exclusivamente de seus interesses particulares e que estes nada têm a ver com as atividades políticas, está revelando falta de consciência. Na realidade não existe quem não sofra as conseqüências das decisões de governo, que são essencialmente políticas. Manter-se alheio à política é uma forma de dar apoio antecipado e incondicional a todas as decisões do governo, o que é, em última análise, uma posição política. Por aí se vê o engano de quem acredita que pode manter-se fora da política, sem nenhuma relação com ela. Há vários grupos interessados, por diferentes razões, em difundir o desinteresse político. Mas, todos eles têm um ponto comum: O desejo de afastar o povo das resoluções políticas, reservando para um pequeno grupo tais resoluções. É evidente que isso não convém ao povo, pois o que a história demonstra muito claramente é que todas às vezes em que um grupo decide sozinho acaba pondo em primeiro lugar seus próprios interesses, deixando em plano secundário, ou mesmo ignorando, os interesses comuns de todo o povo. Assim, pois, o desinteresse político não é interessante para a sociedade como um todo. Se estiverem sendo adotados processos de decisão política que não asseguram a prioridade dos interesses comuns, é preciso trabalhar pela mudança de tais processos. E para que as mudanças sejam feitas visando favorecer a democratização política é indispensável que o povo participe desse trabalho. Em termos de conclusão: ao povo sempre interessa a participação, ou para tomar decisão, usando as regras já estabelecidas, ou para estabelecer novas regras que possibilitem maior participação do povo nas decisões políticas do seu país.
O Voto é a arma da participação política, o instrumento com o qual o povo participa da organização do Estado na realização do bem comum. Infelizmente, muitos brasileiros ainda não aprenderam a manejar essa arma que não fere, nem mata. Mesmo entre os críticos habituais de nossas instituições, poucos se dão ao trabalho de participar efetivamente do processo político, caminho legal para o aperfeiçoamento das mesmas instituições que criticam. A questão fundamental de procurar conhecer os candidatos, para a escolha acertada dos melhores, não chega a preocupar boa parte de nossos eleitores. O mal é bem antigo e não pode ser corrigido de uma hora para outra. Para que não continue prejudicando indefinidamente o Brasil, é necessário que as novas gerações, que surgem e se renovam, aprendam, desde já, a colocar o interesse coletivo acima do próprio comodismo, convencendo-se de que a participação no processo político é condição prioritária do estabelecimento e exercício da democracia. O Voto é um direito, mas também um dever cívico e moral. Constitui assim grave culpa cívica e moral não votar, ou não votar naquele que a consciência indica como mais honesto e mais competente. Por isso, na escolha do candidato, ninguém pode deixar-se levar por interesses pessoais, mas deve inspirar-se exclusivamente nos imperativos do bem público. O candidato que, de qualquer maneira, procura obter votos pelo suborno ou pela mentira, não é digno deles.
Apenas com a participação do povo, através do escrutínio (votação em urna), é capaz de afastar a gravidade de nossa situação sócio-político-econômica. Só com o voto consciente e fiel evitaremos que o governo se entregue a si mesmo, isto é, aos ambiciosos de seu meio, arruinando-se na discórdia dos partidos políticos que o sustentam, excitados pela sede de poder, e nas desordens resultantes destas desarmonias. É possível a um governo pensar e agir normalmente em meio a rivalidade? Poderá dirigir bem os negócios do País confundindo-os com interesses pessoais divergentes? Poderá manter uma sociedade soberana e unida? É impossível. Um governo dividido por seus próprios membros, quantos há no poder, perde a sua unidade, torna-se irrealizável e ininteligível. O eleitor sensato, é também fiel: Vota, para todas as funções políticas do governo, na mesma sigla partidária – ou na das suas coligações –, do candidato escolhido para gerenciar, para comandar, os interesses nacionais e do seu povo. A união faz a força: Eis, um sábio adágio popular…
(Edmilson Alberto de Mello, escritor)
]]>