Do para sempre e do nunca mais
Diário da Manhã
Publicado em 5 de janeiro de 2017 às 02:01 | Atualizado há 8 anosSempre fui do para sempre e do nunca mais nunca gostei de meias palavras. Ou sim, ou não. Não aceito talvez. – Pode me dar uma carona amanhã? – Talvez, a depender da resposta de outro amigo. Diante disso, melhor comprar logo o bilhete de viagem e esquecer a dependência de alguém. É sempre melhor transformar a dúvida em certeza do que a certeza em dúvida. Salvo no caso da dúvida metódica, de Dèscartes, ou seja, da dúvida dialética como forma de obter a certeza.
Sempre como antes
Com essa forma de ser, me sinto inteiro no que faço, mesmo que me transforme sempre. Quando me mudo, ou seja, me desloco de um lugar para outro, ou de um ponto para outro, ou de uma vírgula para outra, faço-o pensando em estar encerrando uma etapa e começando outra. Oh quantas mudanças desfeitas, porque não foram perfeitas. Mas foram de verdade, na linha do para sempre. Hoje vejo o que não volta nunca mais a ser como era antes.
Relação com o tempo
Na minha infância era assim. Nunca mais voltei a ser do que era recriminado. Aprendi cada lição para sempre. Por isso nunca mais na adolescência voltei a repetir a infância. Hoje na maturidade deixei para sempre a adolescência. Foram três etapas de completas mudanças, embora o passado tenha ficado no para sempre, o presente continue no nunca mais e o futuro será a síntese do tempo que não se repete. Nossa relação com o tempo é para confirmar nossa transitoriedade na busca do que é definitivo.
Começando novo tempo
Às vezes penso que já fui muitos e que estou tendo a oportunidade de escolher o melhor. E o que o melhor a ser será a última oportunidade para sempre. Porque pode ser que não volte nunca mais. Cada nova existência nossa é uma nova edição do nunca mais em função do para sempre. Cada vez que o sol nasce, ou se põe, é para um novo dia, ou uma nova noite, que nunca mais será como foi para sempre. Ao começar um novo tempo, pensemos em nosso projeto existencial.
Projeto do nunca mais
Nunca mais serei mais que o dever ser. Nunca mais serei menos que o dever. Nunca mais serei mais que o não dever. Nunca mais serei menos do que mais. Nunca mais serei mais que outro ser. Nunca mais serei menos que ser outro. Nunca mais serei mais que o não ser. Nunca mais serei menos do que menos. Nunca mais serei meio para um fim. Nunca mais serei fim para um depois. Nunca mais serei outro além de mim. Nunca mais serei eu, sem ti, mas entre. Nunca mais serei outro entre nós dois. Nunca mais serei dois, presente e ausente.
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa)
]]>