Opinião

Dona Maria Madruga, exemplo de altruísmo e empreendedorismo

Diário da Manhã

Publicado em 21 de abril de 2016 às 01:43 | Atualizado há 9 anos

“Eu sou aquela mulher

a quem o tempo muito ensinou.

Ensinou a amar a vida

e não desistir da luta,

recomeçar na derrota,

renunciar a palavras

e pensamentos negativos.

Acreditar nos valores humanos

e ser otimista.”

(Cora Coralina)

 

Meu destaque hoje no espaço que me cabe neste jornal é para homenagear uma grande mulher que sobressaiu no cenário social e comercial do Estado de Goiás. Refiro-me a Senhora Maria Fernandes de Goes Madruga.

Nascida em 28 de março de 1918, em Malta, Pernambuco, ela percorreu um caminho de dignidade, afetividade e trabalho por 98 anos, quando nos deixou no dia 16 de abril, para viver a plenitude da vida junto de Deus.

Dona Maria Madruga, como era chamada, fez história na Empresa Tecidos Tita e também em Goiás. Co-fundadora da Empresa, essa admirável mulher, ao lado de seu marido, Manoel da Cunha Rego Madruga (in memoriam), elevou o nome da firma. Aqui podemos fazer um retrospecto do belo trabalho do casal iniciado há 62 anos, em um espaço que, segundo dona Maria “eram só duas portinhas”: Toda a história inicia-se quando o casal Madruga chegou a Goiânia no início de 1954. A cidade não tinha 50 mil habitantes. Havia falta de água, eletricidade, transportes e telefones. A Urbanização terminava nas imediações do Jóquei Clube, na Avenida Anhanguera, Centro. Até Campinas, tudo era mato puro nos dois lados da Avenida Anhanguera. Nesta cidade, recém chegados, o casal Madruga enfrentou as dificuldades da época, viajando pelo interior do Estado por todos os meios de transportes disponíveis. Era muito sacrifício, mas a vitória desse casal teve o mesmo tamanho de seu esforço. O homem que enxergava com a alma foi testemunha de uma vida cidadã, alicerçada em uma história humana e de sucesso com o respaldo de dona Maria, a grande companheira na materialização de responsabilidade da maior atacadista de tecidos do Brasil. Em 2014 tive a honra de condecorá-la com a “Medalha Pedro Ludovico Teixeira”, pela coragem, pelo dinamismo, por ter dirigido tamanha empresa, por ter presidido a Fundação Manoel Madruga, bem como, pelo reconhecimento aos relevantes serviços prestados no município de Goiânia. Dona Maria deixou um legado de luta e de trabalho aos goianienses, revelando o seu instinto humanitário e um grande exemplo de humildade e bondade. Ela se recordava sempre que nos encontrávamos, com particular orgulho, do quanto o esposo acreditava no futuro do Estado e de sua jovem Capital. Uma frase que seu marido sempre dizia era: “Não recebi a cegueira como punição, mas como um desafio do meu destino.” Foi neste cenário que nasceu Tecidos Tita. Nasceu e prosperou de forma contínua e segura, pois o casal fez de seus clientes, seus amigos, além de primaram por se relacionar, também, nos comércios com fornecedores das maiores fábricas têxteis existentes no país, o que deu visibilidade comercial ao nosso Estado de Goiás. Com mais de meio século, a primeira maior empresa atacadista de tecidos do país preserva o mesmo endereço da primeira loja na Avenida Anhanguera – o belo complexo, moderno e com todo aparato de uma grande empresa: “Tecidos Tita”, honrando a origem e permanecendo até hoje no mesmo local. Toda a trajetória de sucesso dessa Empresa tinha a presença de dona Maria.

Do elevado espírito natural e humanitário, da preocupação social da diretoria da empresa, o casal Madruga, num gesto de nobreza, estabeleceu um novo critério de sociedade: reduziu o capital e doou cotas da Empresa aos seus funcionários mais antigos, que se tornaram sócios de Manoel Madruga. Com o aumento do número de funcionários, surgiu a Fundação Manoel Madruga com a finalidade de proporcionar assistência aos funcionários e seus familiares. Dona Maria Fernandes esteve à frente da Presidência deste drupo desde novembro de 2002, após o falecimento de seu marido, até 2005, sempre com apurado espírito humanitário e preocupação social.

É neste contexto que Maria Fernandes de Goes Madruga se realizou e realizou o sonho de várias pessoas, acolhendo-as ao trabalho, nos moldes da dignidade humana. Um exemplo para todos nós, tendo em vista que ela iniciou sua carreira de empreendedora ao lado de seu marido, numa época em que predominava a voz masculina para o trabalho que não fosse do lar. Um exemplo de companheirismo, tendo em vista que, quando seu esposo foi acometido da doença que o cegou, ela foi os olhos dele, guiando-o com amor, carinho e paciência, tanto que ele desempenhou suas atividades com toda segurança e dinamismo de antes.

Minha homenagem a essa grande mulher é para que sua memória nunca feneça aos familiares, aos amigos, aos goianos da Capital e de todo o Estado de Goiás. Lembro-me bem de que ela se referia às pessoas, com as quais conviveu, com muita ternura e carinho, com palavras que nos transmitia calma, sabedoria e o amor que acomodava em seu grande coração. Este proceder me faz recordar das palavras de nossa querida Cora Coralina: “Fiz a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores.”

Dona Maria, parabéns por ter sabido encontrar, neste espaço da terra, todos os caminhos guiados pelo bem e pelos dons que Deus lhe concedeu. Obrigada, Deus, pela honra de conhecer e conviver com essa mulher tão especial e encantadora!  Que Jesus a receba no céu junto com Nossa Senhora e todos os anjos.

 

(Célia Valadão, cantora, bacharel em Direito e vereadora)

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