Opinião

E sereis como Deus

Diário da Manhã

Publicado em 22 de março de 2016 às 23:08 | Atualizado há 9 anos

O mítico pecado do Éden foi contado pela teologia judaico cristã como a busca do homem em estabelecer para si domínio e igualdade com Deus. Oferta que entrou no coração da mulher e do homem, como uma proposta sedutora da serpente. “Então a serpente disse à mulher: certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal. Gênesis 3:4-5.” Se tornar como Deus foi a proposta mais sedutora que uma pessoa poderia ouvir. Ninguém conheceu Deus como Adão e Eva, então ela sabia do que se tratava aquela proposta, criar, dar vida, governar, ser senhor, controlar todas as dimensões e ser adorado, não era de se resistir mesmo. Dessa forma, talvez todos nós sendo tentados a comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, não resistiríamos como eles não resistiram. Entretanto, talvez nem precisássemos conhecer muito a Deus para poder desejar do seu poder e conhecimento do bem e o mal.
Entre a humanidade sempre existiu àqueles que se destacaram e buscaram estabelecer um reino sobre essa terra. A fruta que Eva e Adão comeram no Éden, realmente era poderosa, a humanidade veio desde a expulsão tentando criar para si, modos de vida a semelhança do que se imaginavam ser, como Deus. Impérios foram sendo edificados em torno de homens que eram conhecidos como Reis deuses, que todos tinham que se curvar diante deles, para permanecerem vivos em suas terras imperiais. Nesse contexto, que a nação de Israel após conquistar a terra prometida, de escravos a livres, em uma terra que manava leite e mel e independente, mesmo assim, não quiseram ficar sob o governo teocrático estabelecido por Deus, invejando as outras nações desejavam ser como eles. Com esse sentimento conseguiram implantar o governo monárquico em Israel. Esse fato, por sua vez denuncia o caminho que a humanidade sempre procurou, mesmo quando esteve sob os cuidados de Deus.
Algum tempo depois, mas, ainda sob o mundo do poder político foi que Maquiavel escreveu o livro “O Príncipe”. Nele, o autor recomenda que as pessoas tenham “habilidades” como astúcia, hipocrisia, crueldade e desumanidade para manter algum poder a todo custo. Maquiavel é conhecido como o pai da Teoria Política Moderna é famoso por ensinar princípios que norteariam os políticos, dispostos a qualquer coisa pelo poder. Veja alguns de seus ensinamentos: “Deixe um príncipe ter o crédito, e os meios sempre serão considerados honestos… Porque o vulgar sempre é tomado por aquilo que uma coisa parece ser e pelo que vem dela.” “Todos veem o que você parece ser, poucos veem o que você realmente é”. “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, faça-o de uma vez só”, “Já que amor e medo dificilmente podem existir juntos, se precisarmos escolher um deles, é muito mais seguro ser temido do que amado”, “Como é perigoso libertar um povo que prefere a escravidão”, “Nunca tente vencer pela força o que pode ser ganho pelo engano”. Não parece que Maquiavel esta sistematizando um método, para alguém conquistar e manter o que foi desejado por Eva e Adão seduzido pela promessa da serpente no Jardim do Éden, o poder?
Com a afirmativa que política é coisa do Diabo, é que muitos se esquivam do processo como um todo, mas não acredito que seja assim, pois, são homens quem estão governando, estes por sua vez também são reféns da sedutora proposta de poder que Eva e posteriormente Adão estiveram dentro do Éden, à promessa de ser igual a Deus no conhecimento do bem e do mal. Todos humanos tem em certa medida esse desejo em seus corações. Diante dessa realidade humana, que invoco o nome de Deus em Jesus Cristo. Esse por sua vez, veio ao mundo para reconciliar essa humanidade com Deus, humanidade autônoma, autossuficiente, independente de Deus, necessitada de poder, de um poder que o faça capaz de dominar o mundo e se sentir mesmo por um instante como é ser Deus.
Para elucidar esse estado humano, até mesmo quando Jesus veio com a proposta de reino, os discípulos que andavam com ele, acreditavam que era físico e para aquele tempo. Judas quando descobriu que não era como ele imaginava, vendeu Jesus, Pedro que prometeu ser um escudeiro de Jesus, defendendo o mestre com sua vida, no Getsêmani quando Judas chega para entregar Jesus, Pedro cumprir o prometido, sendo o primeiro a arrancar a espada e decepar a orelha de Malco. Mas, quando descobre que não era esse o plano de Jesus foge com os demais discípulos, negando até mesmo diante dos que o identificaram como do grupo de Jesus. Mas, Pedro realmente estava falando a verdade, do Jesus que havia incitado toda uma nação, separando homens para governar com ele e na hora do confronto se acovardou. Não parecia ser esse o fim que Pedro esperava, por isso, negou veementemente. Mas, Pedro fez tudo isso, por não haver compreendido de que reino Jesus havia falado e como deveria ser conquistado.
Com essas evidências, é que não me surpreende ver alguns seguidores de Jesus, nos dias de hoje, achando que instituições religiosas e política são a causa que Deus tem para eles. Acredito que eles estão na primeira fase, onde estiveram os discípulos, aceitando andar com Jesus para atender seus interesses e expectativas humanas com o poder político. Após essas lições de Jesus e conhecer alguns dos princípios de Maquiavel para política, sou incapaz de imaginar algum modelo político, mesmo que ofereça a melhor distribuição de renda e serviços públicos de qualidade, impostos baixos, como sendo o reino de Deus. Penso assim, por que sempre existe alguém nesse cenário de política, que usa dos princípios de Maquiavel para construir um governo de prosperidade e também sempre existirão outros que usarão desses princípios para tomar o poder de quem esta no governo. Por isso, que nenhuma luta política nesse mundo foi à causa de Jesus Cristo, quando os discípulos compreenderam isso, deixaram a intenção de libertar instituições e passaram a libertar vidas da sedução da serpente pelo poder do Sangue de Jesus Cristo. Acredito ainda, que para implantar o reino de Deus com as ferramentas indispensáveis de Maquiavel, seria preciso arrancar a orelha de muitos Malcos, por isso também, que esse governo, não poderia ser o reino de Deus.
Quando conheci a Jesus, imaginei o que os discípulos imaginaram, vou me dar bem com esse Deus, poderei ter o que quiser em nome de Jesus, obedecerei alguns ensinos Dele que terei alguns privilégios. Quando o Jesus ressuscitado se revelou a mim, entendi que não converti a Jesus para tê-lo como meu servo, buscando nele meus interesses políticos e realizando nele minhas ambições de bem e mal, como os apóstolos inicialmente também acreditaram. Hoje acredito no reino que os apóstolos passaram a compreender após a ressurreição do Rei dos reis. Por isso, e que enquanto for tempo de anunciar o reino de Deus, é por ele que lutarei.
Para complementar, novamente volto ao Getsêmani onde Jesus disse a Pedro, no ato de sua prisão, que poderia ter invocado legiões de anjos para protegê-lo. Mas escolheu, se sujeitar ao julgamento, sendo julgado como falso rei e recebendo o veredicto, que era composto das chibatadas e de transportar uma cruz até o monte caveira, onde foi crucificado. Fez isso, para cumprir sua missão de salvador, como um cordeiro mudo, ele permitiu que o levasse ao matadouro. Dessa forma, estava instituindo seu reino bem como a única forma permitida de conquistar novos cristãos. Tudo isso, para servir de exemplo, a nunca lutar contra nem um sistema político nem resistir o opressor. Assim sendo, seu exemplo foi seguido pelos apóstolos e seguidores de Jesus posteriormente. Tendo em vista, que os discípulos também não lutaram contra o sistema político da época para usurpá-lo ou mudá-lo, todos os discípulos foram ensinados a cumprir a lei dos homens. Ninguém negou ou resistiu à perseguição política, nem lutaram por trégua sobre essa terra. Dessa forma fica claro que eles sabiam qual era a missão da igreja, e era a de anunciar boas novas até os confins da terra, independente do regime político, sempre anunciando o reino de Deus que é eterno.
Com essa certeza, é que recordo de outro momento que Jesus esteve com seus discípulos, e um escriba, talvez procurando contribuir escrevendo as crônicas de quem ele imaginava ser o futuro rei de Israel, aproximou de Jesus e anunciou que seguiria ele, por onde ele fosse, é foi surpreendido por uma resposta legitimadora de tudo que argumentei até aqui. “E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.” Mates 8: 20, confirmando que não era aqui o seu reino. Esclarecendo que, aos que querem seguir Jesus, precisam escolhê-lo sem um reino físico nesse mundo.
Os reinos desse mundo são para os desse mundo, entretanto ainda falando de poder e política, chegou outro homem a Jesus querendo segui-lo, mas, antes era necessário sepultar seu pai. Queria esperar seu pai morrer para poder seguir Jesus. Esse discípulo estava simpático a Jesus, mas não se via desprendido de suas obrigações com as instituições política daquela época, por isso pediu um tempo, para sepultar seu pai, que era um costume instituído para manutenção do sistema político. Foi nesse contexto, que Jesus respondeu para aquele discípulo com uma convocação. “Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos.” Mateus 8: 22. Quando Jesus falou de mortos enterrarem seus mortos não era literal, e sim, estava memorando na forma figurativa o estado humano decaído a partir do Éden, conhecida pela teologia como morta, pela sedutora proposta da serpente, feita a Eva e sendo seguida por Adão e por toda humanidade alimentadora da ambição e suas concupiscências.
Ainda sobre esse texto, para Jesus existiam somente dois lados o dEle, que veio trazer com sua morte o direito de arrependimento e retorno para Deus e seu soberano e terno governo e o dos mortos, representado pelos que perderam a vida eterna seguindo o pecado de Eva e Adão. Por isso, Jesus chama aquele homem, que desejava o poder que Adão e Eva conquistaram no Éden, para se separar dos seus iguais, pois esses foram seduzidos a terem esse mundo como seu, bem como toda sua política como sua, essas lutas como suas e essas causas humanas como suas e por isso, apóiam grupos “menos ruins” por um mundo “menos injusto”, esses estão mortos e aparentemente são uns pelos outros.
Assim sendo, prefiro fazer como o discípulo que recebeu a convocação e continuou seguindo Jesus e deixando os mortos sepultarem seus mortos, ou seja, lutando por um mundo melhor, pois é o mundo que eles têm, pois a vida dos que estão salvos em Cristo é vida em abundância, para poderem pregar boas novas a toda humanidade. Diante dessa consciência não me sinto alienado nem omisso ao momento político do Brasil, somente aceitei que a nova vida que recebi foi para uma causa maior, e estou convocado para ela, pois minha vida e meu reino são eternos. Mesmo, não estando independente das instituições, lutarei com o evangelho, pois somente esse, transforma o caráter das pessoas. E se assim for feito, poderemos um dia possibilitar um governo onde Cristo irá ser testemunhado no cenário político, que ainda não será o reino de Deus. Mas para isso, o evangelho precisa gerar mudanças claras em toda sociedade.
Enfim, para concluir, recordo de outra afirmação de Jesus “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.” João 10: 10. Com esse texto, mesmo sendo de interpretação figurativa, é fundamental em seu contexto, para sabermos que a serpente pode ser conhecida aqui na figura de um ladrão, que com sua sedução, conseguiu roubar, matar e destruir a humanidade, atraindo-os pela ambição e pela falsa esperança de um mundo melhor, mas, que sem salvação e o seguir a Cristo, sempre estarão nas mãos de políticos maquiavélicos, não importe o lado se do bem ou do mal.

(Pr. Sérgio Batista de Oliveira dos Santos, teólogo, especialista em teologia, mestre em ciências das religiões, pastor dirigente na Igreja Assembleia de Deus Ministério Fama – Parque das Flores II, pregador e palestrante)

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