É simples o verdadeiro presente de Natal
Diário da Manhã
Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 23:55 | Atualizado há 7 anosSentada à beira do caminho, olhava os diferentes ritmos, as expressões de alegria, as expressões de dor, os olhares duros, os olhares doces, nas variadas faixas etárias dos diversos rumos; contemplava a marcha das imagens humanas, umas bem produzidas, nutridas, outras com fome e esfarrapadas; observava a lentidão de uns e a pressa de outros caminheiros. Admirava as vestes de todos os passos: mais simples, suadas, retrôs, sovadas, novinhas, cheirosas, modernas, clássicas, últimos lançamentos…
Resolvi participar da caminhada, com o meu jeito caipira. Pensei em cantar, em dar as mãos, em perguntar os nomes e os endereços de meus parceiros. Tornei-me plural. Os vários pares de passos dividiam com os vizinhos um pouquinho de suas histórias, pedacinhos doídos, pedacinhos felizes. Outros, calados. Ouvi e fui ouvida.
Uma sombra de árvore frondosa envolveu-me e a outros companheiros de viagem; assentamo-nos, às margens da estrada. Há caminhadas na Vinte e Cinco de Março, na Esplanada dos Ministérios, na Avenida Atlântica, na Avenida Goiás, nas procissões das capitais e do interior; há caminhadas nos parques, nos desfiles cívicos, nas romarias, nas trilhas; há caminhadas, rumo aos clubes, aos campos de futebol, à Praça Cívica de Goiânia; rumo aos presídios, às creches, aos lares de idosos e de crianças; rumo às casas de recuperação, aos hospitais, aos templos, aos cemitérios; há diferentes caminhadas, na cidade e no campo.
_Fiquei pensando: como o Natal acontece nas pessoas, em cada dia de cada ano que passa?…Lembrei-me das reflexões de vizinhos, moradores do Edifício Rio São Francisco, em Goiânia, durante os nove dias que antecedem a celebração da Noite Santa: reflexões sobre a força de palavras boas que edificam as pessoas, que fazem brotar ações a favor da vida; sobre a ternura das atitudes de acolhida, dos gestos que aconchegam, da generosidade que estende a mão, da misericórdia que compreende e perdoa; sobre os cuidados para com a natureza e sobre o respeito para com o ser humano, o administrador de tudo o que foi criado; sobre a sintonia das criaturas com o Criador; sobre a riqueza do sorriso que planta alegria no mundo.
_Fiquei pensando em mãos calorosas que apóiam deficientes e eficientes na travessia das avenidas; nos gestos que amenizam perdas e outras dores, que evitam trombadas de pessoas, carros e motos; nos anjos, vestidos de gente, guiando gerações até as portas de suas casas; no prazer dos encontros nos lares, nas praças e nos quintais, onde crianças, jovens e adultos se encantam com presépios, ternamente montados, com árvores e com brinquedos iluminados, com a ternura no aconchego da lapinha dos corações.
_As crianças sorriem nos sorrisos dos palhaços coloridos. Há orações verdadeiras, louvores e ação de graças, nas artísticas e ternas Cantatas de Natal, que celebram o Nascimento de Cristo nos corações, que têm sede de luz e paz, de simplicidade e afeto.
Valho-me do poema de Guilherme Brito e Nelson Cavaquinho, “O espinho e a flor”: tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor. Belíssimos versos. No entanto, peço licença a esses inesquecíveis poetas, e brinco seriamente com os versos e com as palavras desse forte poema.
Neste Natal, no Natal de todos os dias, convido as pessoas das diversas etnias, de todos os perfis sociais, dos diferentes credos, das variadas idades, das mesas e indumentárias diversificadas; convido-as para uma única e lírica caminhada, carregando dentro do peito, uma feliz e alegre canção. Convido a cada cidadão sozinho, a cada cidadã solitária, a toda juventude e infância, e a outras idades amadas e abandonadas, a participarem publicamente de uma mesma ciranda.
_Elos quentes de uma mesma corrente, seda e calos de muitas mãos, de todas as cores, de todas as vestes, de todas as crenças, de todas as dúvidas, de todas as mesas, somos o povo de Deus. Com o mesmo calor humano, com diferentes timbres de vozes saídas do peito, com um sorriso, brotado de almas irmãs, cantemos e vivamos a mesma canção: Tire seus espinhos do caminho, que eu quero passar com minha flor. Hoje, pra você eu sou carinho, carinho não machuca o amor.
Feliz Natal!
(Sonia Ferreira. É escritora, presidente do Centro de Cultura da Região Centro-Oeste/CECULCO e membro da Associação Nacional de Escritores/ANE/DF. É integrante de diversas instituições culturais do Estado de Goiás e de outros Estados. E-mail: ceculcosoniaferreira@yahoo.com.br)
]]>