Economia, política e ética
Diário da Manhã
Publicado em 14 de março de 2017 às 01:49 | Atualizado há 8 anos“É a economia, estúpido!” Esta frase rude, proferida por James Carville, estrategista da campanha (1992), foi fundamental para a vitória do Clinton sobre o favorito Bush.
Clinton ganhou a eleição. A frase ganhou o mundo e virou um mantra para demonstrar o peso do cotidiano das pessoas frente aos grandes trunfos do candidato republicano: o fim da guerra fria e a vitória na Guerra do Golfo.
Com efeito, a cartilha de Carville reforçava a peculiaridade anatômica de um pragmatismo demolidor: “o bolso das pessoas é a parte mais sensível do corpo humano”.
Algumas evidências revelam que economia em expansão, o prazer do consumo e a sensação da abastança, anestesiam o efeito de argumentos valorativos e enfraquecem o debate sobre políticas públicas consistentes.
O caso brasileiro é emblemático. Lula resistiu e venceu o escândalo do mensalão. A economia segurou o tranco. Reelegeu-se e conseguiu a proeza de eleger e reeleger a sucessora. A “Mãe do Pac”, sem os predicados de líder e sem traquejo para o jogo parlamentar, foi arrastada ao impeachment menos pelo petrolão e carência de atributos do que pelo desastre econômico que legou ao país.
Que conselho daria, hoje, o “Carville brasileiro”?: “é a política, Presidente”!Que política? A política do “é dando que se recebe”, pregada pelo então Ministro da indústria e Comércio, Roberto Cardoso Alves, para, “franciscanamente”, explicar a aprovação do mandato quinquenal de Sarney (1985/1990) e, recentemente, escancarada pelo Ministro Eliseu Padilha?
Patrimonialismo, fisiologismo, corrupção marcaram, desde sempre, as relações políticas. A esperança é que a armadura da impunidade vem sendo trespassada pela liberdade de expressão e pela ação da Polícia Federal, do Ministério Público, do Judiciário.
Agora, as ruas bradam: “é a ética, pessoal”! Somam-se, pois, retomada da economia; mudança nos padrões políticos e a restauração de uma nova ética que permeie as relações sociais. É falso arguir que uma coisa atrapalha a outra. Elas andam, institucionalmente, juntas. Refletem a demanda real por mudanças.
O desafio do atual governo é desatar o nó do paradoxo brasileiro: um governo impopular realizar reformas necessárias e impopulares que fazem “adversários à vista e aliados a prazo”; recuperar a economia; resistir ao impacto dos processos judiciais, deles rebrotando a ética pública compreendida pela obediência à lei da consciência individual e pelo respeito cívico ao ordenamento jurídico.
Gustavo Krause, ex-prefeito de Recife, ex-governador de Pernambuco e ex-ministro da Fazenda no governo Itamar Franco
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