Eleição não para mudar um governador, mas sim o Estado
Diário da Manhã
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 22:23 | Atualizado há 6 anosFaltam só 30 dias para a data da eleição. Já fizeram de tudo para derrubar Ronaldo Caiado do topo das pesquisas ou mesmo reduzir qualquer coisa na sua pontuação – e nada. Caiado não cede. Está sólido, variando, como sempre variou, dentro da margem de erro de três pontos para mais ou para menos, na faixa de 37 a 41% das intenções de voto. Não importa, porque qualquer um desses percentuais é suficiente para garantir a ele vitória folgada no 1º turno, com 57 a 62% dos votos nominais válidos.
O candidato democrata é um fenômeno eleitoral. Em maio último, o jornalista Afonso Lopes justificou em uma de suas análises o sucesso de Caiado nas pesquisas, que ele liderava (e lidera), “pela sua extraordinária capacidade de se espraiar emocionalmente no pensamento geral do eleitor”. Nada mais correto, tanto que seus índices não diminuem e seguem assegurando a sua supremacia, a quatro semanas e poucos dias do pleito. Caiado entrou na cachola dos goianos.
Dá pena ver a vice-governadora Raquel Teixeira comemorando a virada que “já começou”. Onde? Quando? Ela se agarrou a pesquisas de baixa credibilidade, uma das quais apontou o governador Zé Eliton com fantásticos 25% das preferências do eleitorado – e não demonstra um pruridozinho de vergonha. Deslumbrada, Raquel postou nas redes sociais as suas manifestações de entusiasmo, esquecendo-se de que, fora da militância partidária apaixonada e por isso mesmo cega, não existe reviravolta nenhuma e tudo segue como antes, quer dizer, com Caiado na frente, ganhando no 1º turno.
ESTRATÉGIA ERRADA
Como os adversários atuam para tentar crescer nas pesquisas e provocar o 2º turno, hoje a única meta que Zé Eliton e Daniel Viela podem perseguir? Uma estratégia tem sido inundar a internet de vídeos anônimos mostrando cenas de brigas que Caiado, como deputado federal ou senador, teve com outros parlamentares no Congresso Nacional. Os que apelam para esse recurso acreditam ingenuamente que vão desgastar e prejudicar a candidatura democrata. A ideia é transformar Caiado em um político desequilibrado, que perde a cabeça com facilidade e por isso não estaria apto para governar Goiás.
Ledo engano. Esses vídeos, na verdade, contribuem para a consolidação da imagem positiva que ele construiu como político corajoso, intransigente com a corrupção e capaz de ir às últimas consequências para defender as suas posições e os seus ideais. Alguém que não titubeia e enfrenta quem quer que seja, sem medo, quando se trata de repelir agressões e ofensas, com coerência e determinação.
O que se comprova, mais uma vez, é que os concorrentes de Caiado continuam sem saber o que fazer para confrontá-lo e diminuir alguns pontos nas pesquisas que o apontam como vencedor da eleição no 1º turno. Acusar o candidato democrata de ser o que é, e o que é o trouxe até aqui, prestes a se transformar em governador de Goiás, não deu certo até agora e não vai funcionar.
Assim, para que Zé Eliton e Daniel Vilela tentem de alguma forma superar o favoritismo de Caiado, o que resta é o horário eleitoral na televisão. Mas aí as coisas só se complicam. Horário eleitoral não faz milagres. Horário eleitoral, em seus efeitos, costuma apenas refletir o que está presente na sociedade. Portanto, para alcançar algum resultado, os dois – Zé e Daniel – teriam que ser políticos carismáticos, excepcionais, magneticamente dotados do poder da palavra e apresentados na TV em formatos inovadores, capazes de atrair a atenção dos goianos e mudar as suas intenções de voto.
Infelizmente, nem Zé nem Daniel vestem esse figurino. E, pelos programas iniciais, ainda não conseguiram se sair com qualquer novidade. Ao contrário, Caiado é que surpreendeu: apesar de ter o menor tempo, foi quem se exibiu na TV de modo mais afirmativo e também mais dinâmico, avançando com o seu discurso de mudança. Seus marqueteiros, dizem que baianos, foram competentes na potencialização do impacto dos seus parcos 1min20seg no palanque eletrônico. E já deram a ele a oportunidade de dizer a melhor frase pronunciada até agora nesta campanha: “Esta não é uma eleição para mudar o governador, esta é uma eleição para mudar um Estado”.
VIDA LIMPA
Caiado chegou até aqui na crista de uma carreira política sem paralelo no Brasil. Não responde e nunca respondeu a qualquer inquérito. Jamais foi alvo de qualquer investigação. Não precisa dar explicações sobre nenhuma mancha biográfica. Zé Eliton responde a mais de uma dezena de processos por improbidade administrativa. Daniel enrolou-se com uma delação premiada de executivos da Odebrech. Marconi Perillo, pior. Em plena campanha, conquistou as manchetes da imprensa local e nacional, quando o Poder Judiciário acatou denúncia do Ministério Público e o converteu em réu em processo criminal por crime de corrupção, ao lado de outros acusados, como, por exemplo, do empresário Carlos Cachoeira.
E não é só Caiado: toda a sua chapa majoritária é ficha limpa. Lincoln Tejota, Wilder Morais e Jorge Kajuru não são réus em processos de improbidade. Kajuru tem uma vasta folha judicial, mas relativo a processos movidos por pessoas atingidas pelas suas agressões verbais. Em um mundo de eleitores descrentes com a classe política e suas falcatruas, a campanha democrata tem uma vantagem ímpar.
O cabeça de chapa tem firmeza e determinação. Coragem. Biografia escorreita. Uma vida política de mais de 30 anos de destaque nacional, como uma das principais figuras do Congresso Nacional, sempre indicado como parlamentar atuante. Intransigência com a corrupção. Redes sociais com mais de um milhão de seguidores, multiplicando esses conceitos a todo vapor. E, somando-se a tudo isso, a ajuda que vem dos seguidos erros cometidos pelos oponentes, que deram a ele a vantagem de meses e meses navegando sozinho em águas calmas. Com esses trunfos, Caiado, inevitavelmente, só teria mesmo que “espraiar-se emocionalmente no pensamento geral do eleitor”.
PAU MANDADO
Enquanto isso, o candidato da coligação liderada pelo PSDB Zé Eliton não vai deslanchar nas pesquisas se não conseguir resolver o principal desafio da sua campanha: libertar-se de Marconi Perillo e provar que pode ser um governante com autonomia e independência e não um pau mandado a serviço do continuísmo do mesmo dono do poder dos últimos 20 anos. Até Marconi, pragmático, tem essa opinião: em seu primeiro programa de TV como candidato ao Senado, defendeu Zé como o mais preparado para governar Goiás e repetiu solenemente que, eleito, ele vai administrar com au-to-no-mia, recitou pausadamente – como que prometendo que vai conceder essa autonomia a ele.
Preste atenção, leitor: nos seus programas de televisão, Zé aparece com falas equilibradas, procurando se mostrar como uma pessoa simples, gente como a gente, em uma overdose de súbita humildade, mas aí começa a recordar o que foi feito em Goiás nos últimos 20 anos e traz a lembrança irresistível de que há alguém muito poderoso por trás dele, ansioso por se prolongar controle do governo e se perpetuar como o verdadeiro manda-chuva de Goiás. Alguém que não quer entregar o osso. Alguém que você, leitor, sabe quem.
Isso derruba o Zé. Marconi jamais concordará com essa visão, mas ele é fisicamente o que de mais negativo um candidato a governador poderia ter na eleição deste ano. Não à toa, o tucano-chefe é campeão de rejeição para o Senado. Zé não era o mais rejeitado para governador, mas, iniciada a campanha, quando foi intensificada a sua presença ao lado de Marconi, subiu também para o pódio como mais rejeitado. Não é simples coincidência. É uma onda. A verdadeira onda azul.
P.S. – Finalmente, Batista Custódio retornou à arena política e jornalística com os seus artigos, parte da história de Goiás. Eu, especialmente, insisti muito com ele, nos últimos tempos, para a reocupação de um espaço que é exclusivamente seu – carregado de maior importância ainda em época de definição de rumos para os goianos e brasileiros. E ele pulou para dentro. Está na luta. Seu primeiro texto defendeu uma campanha de alto nível, condenando as manobras sujas armadas à sombra do Palácio das Esmeraldas contra o líder das pesquisas, Ronaldo Caiado. Mostrou também que a população se cansou dos governantes que se rodearam de marqueteiros e bajuladores e se desgastaram na repetição vazia de projetos que não mais atendem à modernidade de Goiás. Sobre o Zé, lembrou que seu governo-tampão começou tomado pela melancolia que marca os finais de gestões. E o preveniu sobre os aplausos que ouvirá em 1º de janeiro próximo, na cerimônia de posse do novo governador, não para ele, mas para Caiado. Batista é assim: não tem medo de arriscar um prognóstico. Não tem receio em expor seu pensamento, porque o tem bem fundamentado na leitura, no conhecimento da História e na avaliação do caráter dos homens (e das mulheres). Se concordamos com ele ou não, o que importa é que somos levados a considerar os seus argumentos e a bela conjunção de palavras com que os expõe. A ele, rendo o meu tributo e espero que siga formulando os seus artigos e colaborando com os leitores do Diário da Manhã na formação do seu voto.
(José Luiz Bittencourt, jornalista e autor do Blog do JLB – blogdojlb.com.br)
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