Eleições 2018 – a hora e a vez da coerência
Diário da Manhã
Publicado em 4 de outubro de 2018 às 21:50 | Atualizado há 6 anosQuestão que tem atormentado a vida dos brasileiros nos últimos dias é saber em quem votar nas eleições presidenciais de 2018. Democracia pressupõe, além da liberdade de escolha do candidato, a responsabilidade do eleitor em decidir quem representará os mais profundos anseios da coletividade. Essa fidelidade à sua própria consciência legitima o eleitor a exigir do candidato eleito o cumprimento dos compromissos firmados na campanha eleitoral, possibilitando, inclusive, o acionamento de mecanismos judiciais para destitui-lo do cargo, como a impugnação e a cassação do mandato, o impeachment, entre outros.
É importante que a responsabilidade do eleitor para escolher ocorra não só em relação aos candidatos a deputado estadual e federal, senador e governador mas, principalmente, quanto aos candidatos à presidência da república. Ora, sem desmerecer as atribuições e as relevantes funções desempenhadas pelos candidatos aos demais cargos, é ao presidente da república que compete o comando da nação, conduzindo-a neste ou naquele rumo. Nem é preciso dizer que regime de governo, seu posicionamento mais ao centro ou à esquerda ou à direita, por exemplo, são questões mais diretamente afetas ao chefe da nação, daí a importância de o eleitor, nesse particular, esforçar-se para agir com máximo acerto. A dificuldade em agir acertadamente aumenta, ainda mais, quando se constata que os mais cotados para serem eleitos presidentes situam-se em extremos ultrarradicais e diametralmente opostos: um assumidamente à extrema direita e o outro, comprovadamente de extrema esquerda.
Ao meu ver, os candidatos à presidência da república com chances reais de governabilidade (João Amoedo, Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meireles e, até mesmo Marina e Ciro Gomes) são candidatos menos extremistas do que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Ocorre que, pelo andar da carruagem e, a não ser que fato novo ocorra nos próximos dias, Bolsonaro e Haddad se enfrentarão no round do segundo turno.
A expectativa é de que a disputa será travada em clima de enorme divisão do país: de um lado, os que anseiam por um país de sociedade mais conservadora, com enfoque nos valores que permeiam a família cristã, a ordem e o retorno do respeito à autoridade. Desse lado estão também os que desejam uma economia mais liberal e desaprovam a interferência total do Estado, política que foi plantada e colhida nos quase treze anos de administração petista comandada por Lula – líder máximo da legenda. Do outro lado estão os que, inconformados por terem sido depostos antes de completarem seu longo projeto de perpetuação no poder, pretendem retomar o comando da nação, ávidos pela conclusão do que intitulam “projeto de poder para o Brasil”, fazendo o diabo, se possível.
Partindo do pressuposto que as recentes pesquisas de opinião divulgadas pelos institutos de pesquisas retratam o quadro atual de intenção de voto, as eleições presidenciais de 2018 nos conduzem a fazer algumas reflexões. Em quem votar para presidente da república nesse primeiro turno? E se meu candidato não for para o segundo turno, quem escolherei no segundo turno? É importante o chamado “voto útil”? Estas indagações, por certo, atormentam o coração de milhões de brasileiros honestos, trabalhadores e sedentos por um governo cuja estabilidade moral e legal do comandante máximo conduza o país por trilha auspiciosa de ordem, progresso e justiça social.
Numa democracia o ideal seria que a escolha ocorresse em razão das convicções do eleitor quanto à honorabilidade do candidato escolhido, e não influenciado por pesquisas de opinião. Nesse raciocínio, não importa se o candidato escolhido tem ou não chances de ganhar, mas sim a manifestação positiva do eleitor quanto a abraçar a proposta do seu candidato. Certamente nossa democracia não avançou o suficiente para que os eleitores ajam nessa conformidade. Nas eleições proporcionais isso pode até ocorrer, mas para governador e presidente da república a escolha pelo eleitor ainda passa pelo crivo da efetiva possibilidade de o candidato vir a ser eleito.
Então! Nesse primeiro turno, vamos de João Amoêdo, Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meireles, Marina ou Ciro Gomes? E quem simpatiza com Eymael, Cabo Daciolo, Guilherme Boulos, João Goulart Filho e Vera Lúcia, deve votar neles, mesmo sabendo das pouquíssimas chances que esses candidatos possuem? Acredito que a decisão passa não só pelo grau de maturidade e de consciência política de cada eleitor mas, principalmente, pela constatação de que o país vive quadro dramático de caos econômico, político e social, sem precedentes na história.
O quadro atual permite fazer a seguinte indagação: é mais coerente votar no candidato da minha convicção no primeiro turno ou já vou logo de Bolsonaro ou de Haddad, candidatos certos do segundo turno? A resposta, mais uma vez, passa pela percepção do eleitor quanto à urgência em consertar o estrago feito em nossa república, ao longo de décadas, tanto por governos mais à direita, como por governos de centro e de esquerda, como foram os oito anos de governo FHC e o ciclo petista iniciado por Lula em 2003 e desastrosamente sepultado por Dilma em 2016. A expressão “estrago” é fato incontestável, a discussão gira apenas em saber sobre quem é o grande vilão da história. Quem são os responsáveis maiores pelo caos que se instalou no seio da nossa república? Ao que parece, a resposta às duas indagações é o que vai preponderar na escolha pelo eleitor que optou por abrir mão, já no primeiro turno, de votar no candidato de sua preferência e escolher entre Bolsonaro e Haddad.
Na análise do voto útil pesa a questão da coerência. Coerência e sensatez é o que eu tenho buscado, diariamente, para minha vida pessoal, profissional e enquanto cidadão, sempre procurando ser congruente, harmônico e lógico. A incoerência gera contradição, discordância, contraposição e incompatibilidade; e isso faz mal à alma e à consciência.
Tenho comigo que o mar de lama que se instalou no seio da nossa república, apesar de ter origem remota, agravou-se enormemente nos últimos anos, não sendo o caso enumerar aqui nem mesmo as mazelas advindas dos governos Collor, Sarney e Fernando Henrique, cujas ações desastrosas colaboraram para o aprofundamento da crise geral, em especial a aprovação do instituto da reeleição – negociada e aprovada espuriamente no primeiro governo FHC e usufruída pelos governos posteriores.
Minha convicção é a de que o viés ideológico e a política internacional implantados pelos governos do PT foi decisivo para que a nação brasileira desviasse do eixo da normalidade e perspectiva de progresso social e seguisse a trilha da massificação e aparelhamento do Estado. Não se faz necessário elencar aqui a extensa lista de lixo cultural inculcado goela abaixo, ora sutil, ora às escâncaras, pelo governo de esquerda que o nosso país experimentou, a fim de dilapidar a família brasileira, além da tentativa de unir a américa latina comunista capitaneada por Lula e os asseclas do Foro de São Paulo. Tamanha foi a doutrinação que, mesmo condenado e preso, Lula ainda consegue conduzir e ditar as regras desse jogo sujo e repugnante. Para piorar, o governo que sucedeu à queda de Dilma, envolvido com os “mal feitos” engendrados ao longo dos governos petistas afundou, ainda mais, o nosso país, sendo certo que o governo Temer só chegará ao fim do mandato graças à benevolência do legislativo federal e da complacência da nossa acovardada suprema corte – cognominação essa dada por Lula. De igual forma, Temer só não fez companhia a Lula, ainda, em Curitiba, graças ao foro privilegiado que o blindará até 31 de dezembro de 2018. A continuidade da sua soltura vai depender do resultado das eleições presidenciais, uma vez que não está descartada a possibilidade de o mesmo vir a assumir uma embaixada distante e de pouca visibilidade, como a de Guiné Bissau, por exemplo.
Não há dúvida de que a situação do Brasil no que se tange à estabilidade das instituições é muito grave. A urgente urgentíssima necessidade de busca de solução a curto prazo está a exigir de cada um de nós, eleitores politizados e responsáveis, muita sabedoria, reflexão e abnegação. O propósito é refletirmos se não é o caso de abrirmos mão, já neste primeiro turno, de votar no candidato de nossa preferência em prol de uma causa maior.
A crise ética pela qual passa o Brasil pode ser comparada a um doente internado na UTI com quadro infeccioso muito grave a quem foi ministrado, de forma alternada, variedade enorme de antibióticos sem que houvesse melhora do quadro. A questão é saber se repetimos as drogas anteriores – com risco de o paciente evoluir para o estado terminal – ou se ministramos um antibiótico pouco conhecido, mas com princípio ativo diferente e com potencial de eficácia infinitamente superior às drogas já utilizadas.
Não concordo com algumas das ideias do capitão e deputado federal Jair Bolsonaro. Sua exagerada autenticidade e jeito rude e falastrão acabam por prejudicar a sua imagem e põe em xeque a sua capacidade de temperança. Isso pode ser negativo mas, a meu ver, não chega a ser grave a ponto de descredenciá-lo a ocupar a presidência da república. No fundo, no fundo, eu preferiria um candidato um pouco mais sereno, comedido e com papas na língua, um político um pouco mais experiente, de preferência alguém que já tivesse governado algum Estado da federação. Mas soaria tão infantil como reclamar do desconforto do bote salva-vidas do Titanic. Acredito que, sendo eleito, aos poucos, Bolsonaro se adequará a um novo estilo de comunicação, com melhor elaboração e divulgação do que pensa e fala. Bolsonaro demonstra abraçar princípios e valores caros e raros na atualidade como é a questão da submissão a Deus, a valorização da família, a honestidade, o firme combate à corrupção e à criminalidade e o compromisso de romper com a velha política. Isso é muito importante e é o que o diferencia dos demais candidatos: o compromisso de uma nova prática na gestão administrativa da coisa pública, com ênfase no critério técnico quando da nomeação de seu quadro de auxiliares diretos.
Assumidamente cristão, Bolsonaro posiciona-se frontalmente contra o aborto, a liberação das drogas e a ideologia de gênero, tão difundidos e estimulados pelos candidatos de bandeiras esquerdistas; além do seu compromisso de restaurar o respeito à autoridade. Esses princípios e valores por ele defendidos permitem recolocar o país no trilho da estabilidade e normalidade institucional, possibilitando o progresso, a justiça e a paz social. Além dessa bandeira restauradora da ordem, penso que a eleição de Bolsonaro quebrará o ciclo vicioso atualmente existente no país, caracterizado pela corrupção sistêmica nos órgãos de governo e cujas ações foram protagonizadas por políticos da envergadura de Lula, Temer, Dilma, Renan, Aécio Neves, Beto Richa, Marconi Perilo e tantos outros que ainda insistem em continuar com a velha prática odiosa. Estou convicto de que todos esses investigados sonham, defendem e estão confiantes de que a vitória de Haddad significará a continuidade desse sistema viciado e o fim da Operação Lavajato. Isso é grave, gravíssimo.
Penso que está na hora do movimento #ele não repensar sobre o que eles realmente querem, e não o que não querem. Não seria mais produtivo e construtivo para o processo democrático irem às ruas e defenderem publicamente o nome e as idéias do seu candidato, seja ele quem for? Não estaria o movimento #ele não sendo utilizado como massa de manobra cujo comando e instruções têm partido de dentro de uma cela em Curitiba? Que tal aderir a um movimento mais assertivo como #amoêdosim, #daciolosim, ou #haddadsim, por exemplo? São reflexões, apenas reflexões, que julgo importantes para que vários integrantes desse grupo – pessoas honestas e corretas – possam de fato, entender o jogo político que está por detrás desse movimento e, assim, abandonando essa bandeira negativa, optem por uma bandeira positiva, assumindo qual candidato e propostas, efetivamente, querem apoiar.
De minha parte, optei pela coerência com meus valores e princípios, mesmo discordando de algumas ideias do candidato em quem irei votar. A responsabilidade com que agirei trará à minha consciência a certeza de que dei minha parcela de contribuição por um pais mais justo e fraterno. Não me sentirei responsável pelo continuísmo da classe política atual, nem pelo fracasso do combate à corrupção e fim da Operação Lava Jato; nem pelo aumento da criminalidade, do desemprego e pela falta de investimentos na educação e na saúde. O que mais importa é a coerência e o sentimento do dever cumprido. No mais, é confiar em Deus e acreditar em nosso país e na força do seu povo. Alea jacta est.
(Edercley Moura, engenheiro e empreendedor, morou e trabalhou na África e alguns países da América Latina eder[email protected])
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