Opinião

Eleições e pesquisas eleitorais

Diário da Manhã

Publicado em 5 de outubro de 2018 às 23:38 | Atualizado há 6 anos

As pes­qui­sas po­dem de­fi­nir o ru­mo das dis­pu­tas elei­to­ra­is? Os em­pre­sá­rios do ra­mo de pes­qui­sas, ne­gó­ci­os ca­da vez mais ren­tá­veis, res­pon­de­rão que não. Sa­be­mos que o elei­tor é li­vre, ale­gam, e es­co­lhem de acor­do com sua con­sci­ên­cia. O pró­prio elei­tor, se pes­qui­sa­do so­bre o te­ma, di­rá mais ou me­nos a mes­ma coi­sa. É ra­zo­á­vel que as­sim se­ja.

Os elei­to­res, pa­ra pre­ser­va­rem a sua au­to­es­ti­ma, e a ati­vi­da­de em­pre­sa­ri­al, pa­ra os­ten­tar a li­su­ra do seu ne­gó­cio, não po­de­ri­am res­pon­der di­fe­ren­te. No en­tan­to, a ob­ser­va­ção con­ti­nu­a­da dos fa­tos re­co­men­da co­lo­car na pau­ta ou­tros in­gre­di­en­tes, es­ses di­re­ta­men­te en­vol­vi­dos no jo­go elei­to­ral.

O de­ba­te de con­te­ú­do po­lí­ti­co, mes­mo na re­ta fi­nal, es­tá afas­ta­do e o elei­tor dis­tra­í­do ape­nas apon­ta na car­te­la os no­mes mais co­nhe­ci­dos. Ain­da as­sim, os di­re­ta­men­te in­te­res­sa­dos en­tram em pro­ces­so de ebu­li­ção ou abu­lia di­an­te do re­tra­to do mo­men­to es­tam­pa­do pe­la mí­dia.

Os can­di­da­tos, os as­ses­so­res, as bu­ro­cra­cias par­ti­dá­ri­as sa­bem que a co­ta­ção no mer­ca­do elei­to­ral pas­sa pe­los nú­me­ros das pes­qui­sas. É em fun­ção de­las que jor­nais, rá­di­os, re­des so­ci­ais, in­ter­net e TVs pau­tam sua co­ber­tu­ra. E, da­do de­ci­si­vo, os gran­des fi­nan­cia­do­res de cam­pa­nha elei­to­ral se ori­en­tam por ela e é ela que de­fi­ne, na bol­sa de apos­tas no mer­ca­do fu­tu­ro, o des­ti­no dos re­cur­sos con­ta­bi­li­za­dos ou não. As pes­qui­sas jo­gam, na cul­tu­ra po­lí­ti­ca do­mi­nan­te, pa­pel im­por­tan­te na ar­ma­ção do ce­ná­rio da dis­pu­ta elei­to­ral. E, mais gra­ve, são na mai­o­ria das ve­zes ma­ni­pu­lá­veis, di­re­cio­na­das.

Do pon­to de vis­ta téc­ni­co, não exis­te coi­sa mais fá­cil de ma­ni­pu­lar. São in­fi­ni­tas as pos­si­bi­li­da­des: ela­bo­ra­ção de ques­ti­o­ná­rios, es­co­lha da amos­tra­gem, in­ter­ca­la­ção dos di­as de con­sul­ta… pe­lo me­nos é o que lhe di­rá, sob ga­ran­tia de si­gi­lo, qual­quer es­pe­cia­lis­ta da área. E mais, tu­do ci­en­tí­fi­co, sem dei­xar ves­tí­gios de má-fé. Pe­que­nas al­te­ra­ções na mar­gem de er­ro bas­tam pa­ra mu­dar a po­si­ção re­la­ti­va dos can­di­da­tos.

En­tre as úni­cas ga­ran­ti­as de li­su­ra, co­mo o fio de bi­go­de dos an­ti­gos, es­tão a in­de­pen­dên­cia dos ins­ti­tu­tos de pes­qui­sa e a even­tual com­pe­ti­ção en­tre eles. São ar­ti­gos es­cas­sos en­tre nós. Eles são pou­cos e a mai­o­ria tra­ba­lha, fo­ra do pe­rí­o­do elei­to­ral, pa­ra os mes­mos cli­en­tes de sem­pre: go­ver­nos e gran­des cor­po­ra­ções pa­tro­nais. A re­pu­ta­ção da em­pre­sa, fa­to por de­mais ale­ga­do, só se­rá me­di­da pe­la com­pa­ra­ção en­tre o vo­to na ur­na com a úl­ti­ma pes­qui­sa re­a­li­za­da.

Ape­sar das li­nhas de­li­ne­a­das, em­bo­ra se apre­sen­te co­mo tal, as pes­qui­sas não são o orá­cu­lo de Del­fos. Elas po­dem er­rar feio, co­mo vem acon­te­cen­do com fre­quên­cia. Ape­sar de seu pe­so na cul­tu­ra po­lí­ti­ca do­mi­na­da pe­la má­qui­na mer­can­te, elas não são pro­fe­cias que se au­to re­a­li­zam. As for­ças que tra­vam a dis­pu­ta elei­to­ral com ba­se em pro­je­tos e idei­as de­vem olhar as pes­qui­sas com sa­u­dá­vel des­con­fi­an­ça.

 

(An­dré Mar­ques, ju­iz do tri­bu­nal de éti­ca e dis­ci­pli­na da OAB/GO e ad­vo­ga­do – an­dre­mar­que­sadv@hot­mail.com / @an­dre­mar­que­sadv)

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