Opinião

Eleições: macacos me mordam!

Diário da Manhã

Publicado em 29 de setembro de 2018 às 23:41 | Atualizado há 6 anos

Era uma vez o rei­no da Ba­na­no­lân­dia. On­de vá­ri­as es­pé­ci­es con­vi­vi­am pa­ci­fi­ca­men­te, ou pe­lo me­nos den­tro dos li­mi­tes do res­pei­to si­mi­es­co. Ca­da ma­ca­co no seu ga­lho. Po­rém nos úl­ti­mos 12 anos, hou­ve uma pi­o­ra na qua­li­da­de de vi­da, de­sem­pre­go e as­sus­ta­do­res ín­di­ces de vi­o­lên­cia. Uma par­te da li­de­ran­ça ven­deu ba­na­nas sem las­tro e en­di­vi­dou a to­dos.

As­sus­ta­da, a ma­ca­ca­da pro­cu­ra um lí­der de­ses­pe­ra­da­men­te. En­con­tram um go­ri­lão que gri­ta, es­per­neia e de­fen­de-os dos usur­pa­do­res. Ma­ca­co ve­lho não me­te a mão em cum­bu­ca. Ele, ape­sar de ser ho­nes­to (co­mo se is­so fos­se uma re­den­ção e não uma obri­ga­ção ma­ca­cal) é ape­nas um ve­ge­ta­ri­a­no so­zi­nho con­tra uma hor­da de oní­vo­ros pre­da­do­res e ar­ti­cu­la­dos.

Den­tre eles exis­tem oran­go­tan­gos an­ti­gões com dis­cur­so no­vo. Co­mo se ma­ca­co ve­lho pu­des­se apren­der ar­te no­va… Tam­bém há de­ri­va­ti­vos da mes­ma pos­tu­ra. Um lí­der bem agres­si­vo, que ten­ta agra­dar a am­bos os la­dos di­zen­do im­pro­pé­ri­os a to­dos. Até um jo­vem chim­pan­zé, in­te­li­gen­tís­si­mo e que con­se­guiu for­tu­na por seus pró­prios ga­lhos, ten­ta se can­di­da­tar… Coi­ta­di­nho des­se, não sa­be fa­lar ma­ca­quês, e nu­ma flo­res­ta de in­ve­jo­sos da ri­que­za e da pros­pe­ri­da­de aca­ba fi­can­do num ga­lhi­nho bem mar­gi­nal.

O plei­to vai se apro­xi­man­do e eles se tor­nam vis. Um dis­cur­so de ódio se alas­tra por to­do o ma­to se­co e ar­de sem dó. Mas ma­ca­co gor­do não tre­pa em ga­lho se­co. Aque­les que sem­pre es­ti­ve­ram no meio das ár­vo­res, as­sim o fa­zem; e não cres­cem nas pes­qui­sas. O ou­tro que par­ti­ci­pou eco­no­mi­ca­men­te de vá­rios go­ver­nos não con­se­gue ar­ti­cu­lar pa­la­vras e se­rá sem­pre um ex­ce­len­te eco­no­mis­ta e pés­si­mo po­lí­ti­co. A gri­ta­ria au­men­ta.

O go­ri­la é agre­di­do co­var­de­men­te e ten­tam eli­mi­ná-lo. Nin­guém fa­la na­da so­bre o aten­ta­do e nem con­se­guem en­con­trar as ra­zões, tão ób­vias. A sa­ga de des­tru­i­ção des­se ani­mal vai de en­con­tro con­tra sua fa­mí­lia, su­as re­la­ções pes­so­ais, so­bre qual­quer coi­sa, ex­ce­to seu pla­no de go­ver­no. E ele per­ma­ne­ce de pé, pa­ra o des­con­ten­ta­men­to de seus ini­mi­gos.

Por ou­tro la­do, seu ad­ver­sá­rio; um bo­ne­co de pa­no, uma ma­ri­o­ne­te de no­me im­pro­nun­ci­á­vel pe­la ala mais po­bre ten­ta se co­lo­car ao la­do do no­me do gran­de sí­mio cri­mi­no­so. Ma­ca­co não en­jei­ta ba­na­na. Com um dis­cur­so me­dí­o­cre, um pla­no de go­ver­no que já fa­lhou em to­das as flo­res­tas on­de foi apli­ca­do, ele dis­tri­bui co­mi­da aos me­nos fa­vo­re­ci­dos do rei­no. Ten­ta com­prar a ig­no­rân­cia com ba­na­na ver­de.

Os bo­no­bos, ra­ça que se des­ta­ca por se fi­xa­rem ape­nas no pra­zer, ten­tam fa­zer um le­van­te. Pois eles sem­pre di­ver­tem a po­pu­la­ção com su­as ar­tes. En­tre­tan­to são re­cha­ça­dos por uma so­ci­e­da­de que os ad­mi­ra pe­la li­ber­da­de e gra­ci­nhas, mas não os imi­tam. Ca­da vez mais as elei­ções se po­la­ri­zam. De um la­do um sol­da­do pre­so nas amar­ras de sua ho­nes­ti­da­de e de ou­tro um pre­so sol­to em sua in­sa­na se­de pe­lo po­der.

E exis­te uma clas­se es­pe­ci­al da ma­ca­ca­da, os cu­ran­dei­ros. Es­tes são no­bres, vi­vem bem e sem­pre fo­ram pre­o­cu­pa­dís­si­mos com a po­pu­la­ção, pois a as­sis­tem di­re­ta­men­te. Pois bem, na úl­ti­ma dé­ca­da fo­ram tri­pu­di­a­dos, sub­sti­tu­í­dos por es­pé­ci­es des­co­nhe­ci­das. Pa­ga­ram um mi­co enor­me. E nun­ca aban­do­na­ram seus se­me­lhan­tes. Per­gun­ta­do ao ex­pe­ri­en­te ba­buí­no, já ca­re­ca e de bar­ba bran­qui­nha, po­rém com os olhos vi­vos e o cor­po in­tei­ro e for­te, o que fa­zer? Res­pon­deu en­tão o ani­mal:

– Edu­ca­ção, meus fi­lhos. Edu­ca­ção. En­quan­to vo­cês fi­ca­rem olhan­do pa­ra seus pró­prios ni­nhos e não se pre­o­cu­pa­rem com a co­mu­ni­da­de, não fo­rem gen­tis uns com os ou­tros, não se­rão na­da. Quan­do a ár­vo­re cai a ma­ca­ca­da se dis­per­sa. Co­nhe­ci­men­to le­va a ci­vi­li­da­de. Não se dei­xem in­flu­en­ciar por ou­trem. Te­nham opi­ni­ão. Mui­ta gen­te se ad­mi­ra do ma­ca­co an­dar de pé, mas o ma­ca­co já foi ho­mem po­de an­dar co­mo qui­ser.

 

(JB Alen­cas­tro é mé­di­co)

 

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