Entre o espírito e a matéria
Diário da Manhã
Publicado em 24 de março de 2016 às 02:19 | Atualizado há 9 anos1 Viemos da grande distância e marchamos para o rumo do sonho. Queremos respirar como as árvores, fora das próprias raízes. Essa paisagem visual não nos absorve: nossa sinfonia é o universo.
2 Vamos viver todas as vidas e sonhá-las. Vamos sonhar todos os sonhos e vivê-los. Ser de todos os seres uma forma e de todas as formas, uma essência.
3 Nosso eu é plural. Não temos mais o direito de vivermos sozinhos, porque somos uma só matéria e um só espírito e nossa individualidade é também plural.
Não temos mais o direito de isolar nossas vidas e vivermos nossos sentimentos para sentir apenas nosso mundo íntimo. Só existimos como parte de um todo que não existe sem nós.
Todos somos pais, todos somos filhos, todos somos órfãos, vítimas ou heróis de nossa própria sorte. Dividir é preciso nossa humanidade.
Uma das sensações de chegada da velhice é certamente a solidão. O afastamento do mundo social e o isolamento no mundo individual. Mas tanto o jovem quanto o idoso buscam sua autoafirmação no outro, já que o ser humano é essencialmente relacional.
Às vezes o jovem, atraído pelos chamamentos da vida, entre o presente e o futuro, não sente que o idoso precise de sua companhia ao descer os degraus da existência na direção oposta, entre o presente e o passado. Quantos jovens não deixam sozinhos o velho pai ou a velha mãe em casa para saírem em busca dos prazeres irresistíveis da rua?
Talvez o próprio jovem busque iludir-se com tantos afazeres cotidianos, também com medo da solidão que já vê prenunciada no idoso que lhe está próximo. E então, antes que chegue a sua vez, dedica-se a construir castelos de ilusões no terreno movediço da materialidade.
Quando abre os olhos para o campo da espiritualidade como realidade maior da vida, já é tarde: há de enfrentar a solidão existencial e os remorsos acumulados como saldo negativo de seus investimentos frustrados.
Essa fase contemplativa da vida é tão fértil na maturidade quanto a fase ativa de competição foi também fértil na juventude. É assim nossa escala ascensional na aventura de viver. Tivesse o jovem a sabedoria da experiência e aprenderia a viver do fim para o começo, tal como o idoso, por sua vez, só aprendeu também do começo para o fim.
Espírito e matéria
Deus, espírito e matéria formam uma trindade universal. A matéria não vive sem o espírito que a anima. O espírito é o princípio inteligente do universo. O espírito é energia pura que move a matéria: extensão visível que impressiona os sentidos.
A matéria está ligada ao espírito por meio de um fluido magnético que permeia suas propriedades. A matéria é formada de moléculas primitivas e secundárias responsáveis pela sua gradação desde a forma visível à invisível.
A ponderabilidade é um atributo da matéria visível, sendo que os corpos se atraem pela gravitação universal. Mas a matéria etérea é invisível e imponderável, fora das esferas de atração dos mundos. Força e movimento são duas propriedades essenciais da matéria em constante transformação.
O perispírito é a ligação entre a matéria e o espírito. O perispírito ou corpo espiritual recebe e transmite vibrações ao espírito, que se expressa por meio de fenômenos parapsicológicos. O perispírito está para o espírito como memória de suas sucessivas vivências, tal como o subconsciente está para o ser humano como arquivo de seus impulsos e desejos acumulados.
O espaço universal é infinito e absoluto, pois se estende além de todos os espaços relativos. Mesmo os espaços supostamente vazios estão ocupados por uma matéria invisível e imperceptível aos nossos sentidos.
Os espíritos não se deixam atrair por fórmulas mágicas, mas por energia do pensamento. E há pessoas dotadas de força magnética e de faculdades especiais que os atraem.
Num primeiro momento nosso ser – que é uno – fragmenta-se na multiplicidade. Num segundo momento, os fragmentos do nosso ser confundem-se na busca da unidade. E num terceiro momento, o uno e o múltiplo refundem-se na busca da espiritualidade. Eis quando se dá a união entre espírito e matéria.
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa – E-mail: [email protected])
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