Escravidão
Diário da Manhã
Publicado em 10 de junho de 2017 às 02:30 | Atualizado há 8 anosPós modernidade a mesa. Um dos paradigmas mais impressionantes de nossa atualidade esta na ruptura dos processos de humanização e qualidade de vida. O modelo neo liberal de produtividade contra o de tempo. O retorno de um modelo administrativo Taylorísta aliado a psicose de nossos dias, megalomania e onipotência em um delírio, querer sucesso, status, alta produtividade e performance a qualquer preço. Pós modernidade é demarcada pelo retorno da escravidão em jornadas de trabalho desumanas de mais de 60 horas de trabalho semanais , na ideologia neo liberal de homens máquina que jamais se cansam e que são capazes de produzir 20 horas diárias, dormir 4 horas entre um emprego e outro e caso não consiga tal produção ganham a humilhação, chibatas, desemprego e o banimento social como incapazes, improdutivos ou inábeis. O estado, recursos humanos e o delírio megalomaníaco que jamais planeja delimitou este cenário no mercado de consumo e a crise vindoura engendra hoje uma alta ansiedade social por uma vivencia produtivista que diariamente é confrontada com nossa incapacidade e limitações. O paradigma do tempo de Kant dá vazão ao tempo do delírio e absurdo, o tempo do realismo deixado de lado na ruptura do tempo do delírio.
Nos anos 90 quando era um traineei de recursos humanos em uma multinacional, via em meus mentores uma preocupação clara de manter o clima organizacional, a qualidade de vida em uma empresa , a saúde dos colaboradores, visando evitar problemas judiciais e o turn over em uma corporação o que elevaria em muito os custos do processo de trabalho. O tempo perdido em recrutar novos membros, selecionar, treinar até capacitar o novo colaborador para o trabalho. Existia uma tentativa de humanização nos processos.
Com a entrada da década de 2010 os processos e humanização são destituídos no capitalismo selvagem, nas idéias de jerico de altíssima produtividade diante de um cenário de crise econômica mundial. Querer lucros exorbitantes dentro de uma crise é a meu ver o ápice de uma incapacidade administrativa e gerencial , o distanciamento da realidade, um mergulho na fantasia , delírio , psicose , megalomania e paranóia. As idéias coletivas evidenciam a crise de valores: O sadismo aparece de forma Sombria e a Persona ilimitada vira alvo das novas identidades alinhadas com este novo mercado que não respeita individualidades, o conceito de pessoa é destituído diante da barbárie e voltamos ao inicio da era industrial, onde não existiam regras nem leis trabalhistas, voltamos ao tempo da chibata.
Seria viável e de bom tom diminuir margem de lucro para se preservar ambiente de trabalho, clima organizacional , sobreviver sem prejuízos de médio e longo prazo mas a moda agora é o imediatismo, o materialísmo, egoísmo e tornar o dinheiro e status em novas divindades nas quais a voracidade evidencia que não há limites. O limite claro é a escravidão que torna o outro em um objeto descartável.
Diariamente em meu consultório como psicólogo clínico recebo pessoas adoecidas e exaustas em alta ansiedade por que tentam adequar se a este formato novo de sociedade escravizando se diante de uma estrutura que não tem concerto. Normal trabalhar em três empregos para tentar manter um padrão de vida sujeitando se a condições desumanas. Com a elevação do custo de vida, com altíssimas taxas de juros vivenciamos a volatilidade e o ápice da instabilidade agenciada.O sonho da distribuição de renda agora é pesadelo. Como se respeitar neste cenário?
(Jorge Antônio Monteiro de Lima, analista, pesquisador em saúde mental, psicólogo clínico e músico, mestre em antropologia social pela UFG)
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