Estouro da boiada nas urnas
Diário da Manhã
Publicado em 9 de outubro de 2018 às 04:09 | Atualizado há 6 anosA sociedade brasileira tem dado o seu recado em diferentes momentos nacionais. Infelizmente, nem todos percebem. Parecem cegos e nessa condição se comportam. Foi assim. Em 1964, em plena “guerra fria” com a polarização entre a União Soviética e os Estados Unidos, os brasileiros promoveram procissões contra o comunismo que era uma ameaça real. Marcha “da Família, com Deus pela Liberdade” era o seu slogan.
O regime militar assumiu o poder. O povo se cansou da falta de eleições. E, assim, nasceu o movimento pelas Diretas Já. Um milhão, dois milhões de pessoas na Praça da Candelária e nas demais cidades brasileiras clamando pelo voto direto. Os generais entregaram o poder aos civis.
Com a reconquista da democracia, o governo Sarney não inflação, que minava o bolso do brasileiro. A remarcação de preços era um fato freqüente nos supermercados. O salário cada vez encurtando mais.
Nos governos Itamar Franco e de Fernando Henrique Cardoso nasceu o Plano Real. A moeda brasileira representava, talvez pela primeira vez na história brasileira, sentimento de orgulho. Pessoalmente, senti essa satisfação no aeroporto de Santiago do Chile. Conduzia dólares para a troca de moeda e os cambistas chilenos pediam “Real”, dando toda ênfase em espanhol na pronúncia da palavra. O dinheiro brasileiro valia mais que o dólar.
Lula conseguiu se eleger, depois de derrotas para Collor de Mello e FHC. Afinal, um nordestino, oriundo do sertão, chegara à Presidência da República. No fundo, poder-se-ia ser contrário ao PT. Mas, havia certa admiração por um “trabalhador” chegar lá.
Em minha visão, e creio que também de outros compatriotas, Lula poderia se tornar um novo Lech Walesa, polonês filho de carpinteiro, foi mecânico de carros e empregado eletricista. E se insurgiu pelos direitos dos trabalhadores, a democracia, em pleno regime ditatorial polonês.
No seu governo, promoveu inserções sociais. Plenamente válidas e dignas de elogios. Mas, para manter o partido no poder, quebrou o País numa corrupção sem precedentes. De causar inveja ao “rouba, mas faz”, slogan implantado pelos partidários de Ademar de Barros, em São Paulo. Ou Paulo Maluf, seguindo a mesma trilha.
Empresa petrolífera dá lucro em qualquer país do mundo. Exceto no Brasil com a quadrilha comandada por Lula. A Petrobras, criada por Getúlio Vargas, para incrementar o processo industrial, deixava de merecer orgulho nacional, mesmo para quem não fosse getulista.
O brasileiro, mais uma vez, saiu de seu casulo e promoveu manifestações espontâneas em todos os cantos. O País estava cansando do lulismo e do petismo. O povo, rico ou pobre, acorreu às ruas para gritar contra a ladroeira, que ganhou o nome de corrupção. Mas, mas muitos de seus líderes não acordaram para a nova realidade.
Sérgio Moro e a Polícia Federal vem fazendo um trabalho elogiável. Mas, petistas (há, claro exceções) não abriam os olhos. Estavam fascinados pelo poder. Muitos deles defendendo retaliações ao juiz que contribuía fortemente para o resgate da ética e da moral do Brasil.
Não enxergaram que o País, pela primeira vez, estava prendendo políticos e empresários meliantes do erário. Ex- presidente na cadeia, ex-governadores na cadeia. Cassação e prisão de senadores, deputados, prefeitos, vereadores, etc deixavam de ser novidades. Os três poderes estavam agindo como continuam punindo. Parece ser uma revolução sem tiros.
Agora, no último pleito, o processo de mudança continuou pelo voto. A sociedade cansou dos políticos da “velha guarda”. Bons nomes, pessoas de bem, foram removidas do mapa, agregando outras. Algumas até causam estupefação.
Mas, pelo que se depreende, a nova realidade exige uma leitura acurada. Os jovens precisam ser ouvidos.
O poder econômico, se teve influência, sofreu redução, pelo menos no caso da eleição presidência.
O eleitorado levou Jair Bolsonaro para o segundo turno. A grande mídia e o tempo da televisão, pouco ou nada influenciaram num resultado espetacular do candidato do PSL.
O Congresso Nacional passou por renovação. Em Goiás, os tradicionais clãs sofreram derrotas sem precedentes e até humilhantes.
O estouro da boiada se deu nas urnas, através do voto. É o fortalecimento da democracia.
(Wandell Seixas, jornalista voltado para a agropecuária, bacharel em Direito e Economia pela PUC-Goiás, ex-bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histadrut, em Tel Aviv, Israel, autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste, e editor da página de Agroindústria no Diário da Manhã)
]]>