Gabriel Nascente é merecedor
Diário da Manhã
Publicado em 19 de janeiro de 2016 às 21:59 | Atualizado há 9 anosNo livro “A árvore dos Escritos: testemunhos de uma trajetória literária”, 2ª edição, (2013), o inteligente poeta Gabriel Nascente, entre os muitos e notáveis escritos a seu respeito e de sua consagrada obra, sobretudo poética, incluiu artigo que publiquei nesse jornal, intitulado “Gabriel Nascente: poeta discriminado”, fato que acredito desaparecido ou esmaecido desses gerais depois que o Gabriel, para não dizer querido “Bié”, tornou-se conhecido e respeitado Brasil afora. Em 5 de maio de 2015, provando ser poeta em tudo o que escreve, autografou-me a “Árvore dos Escritos”: “Ao nobre Martiniano, um nome há décadas inscrito na legenda do meu afeto.”
Em conversa telefônica com Bié e informes de jornais, vejo que está comemorando 50 anos de poesia, a partir da bonita e surpreendente edição de “Os Gatos”, seu livro de estreia aos 16 anos, desde quando nunca mais deu trégua ao seu fecundo e valoroso talento. Desde quando demonstrou ser estrela de primeira grandeza e que brilha e se faz acesa o tempo inteiro nesse Brasil e chão telúrico de Goiás, onde nasceu predestinado a ser poeta agitado, agoniado, dia e noite. Deve ser por isso que Licínio Leal Barbosa, jurista e escritor da AGL, escreveu e publicou que o poeta Gabriel Nascente “é um vulcão em permanente erupção”. Tornou-se por reconhecidos méritos uma personalidade cada vez mais respeitada e admirada. Seus livros, cada vez mais convincentes, além das leituras atraentes, são objeto de bons e cuidadosos estudos, inclusive na academia, justificando o porquê de Gabriel Nascente se destacar como um escritor à altura da corporação acadêmica da ABL.
Sua autobiografia intelectual, selo Kelps, 2013, citada, onde presta contas aos seus muitos admiradores, mesmo como livro com mais de mil páginas, tamanho “tijolo”, enorme conteúdo de cuidadosas opiniões sobre a obra e a vida de GN, é dos mais bem organizados que conheço, certamente para mostrar a gregos e troianos, que o estimado poeta Bié, com certeza conhece o ofício que exerce, mais propriamente o poeta russo Vladimir Maiakovski, em sua mais importante obra teórica, “Poética: como fazer versos”, onde ensina a todos nós ser essencial “saber organizar a compreensão de um livro”. Noto que começa da escolha de “Árvore dos Escritos: testemunhos de uma trajetória literária”, onde enfeixando um abundante conteúdo poético em prosa e verso, organiza o livro de forma admirável, a partir do sumário, no qual exibe interessante cronologia, oportuna e merecida crítica nacional à sua obra, sem omitir a crítica internacional, entrevistas, traços dos cartunistas, entorno de uma causa, memorial de autógrafos, palavras que vieram de longe, poemas traduzidos, discursos impressionantes, sobrando espaço até para cá o escriba denunciar o cinismo dos que discriminaram e duvidaram do inegável talento do poeta.
Nenhuma biografia de escritor nascido ou residente em Goiás, mostra a grandeza e dimensão intelectual desta de Gabriel, a partir do charme e astúcia como pagina e distribui o vasto conteúdo do livro. Gabriel, acolham ou não os “clássicos” corifeus da cultura, destaca-se como um raro estrategista na busca do que planeja, quer e define. Meu tributo, pois, de profunda gratidão e reconhecimento ao caro poeta Gabriel Nascente e à sua obra extraordinária. Que sorte, tê-lo conhecido já no velho bairro Popular em Goiânia! Ser seu amigo, tendo clareza de que tudo isso ainda é muito pouco. Notem que até na sala onde trabalha, chamada “Albert Camus”, demonstra muita segurança e zelo pelo que pensa e escreve. Foi assim muito longe, sem deixar de ser pequeno (Castro Alves), sobretudo goiano autóctone, “do pé rachado”, de onde vem alçando os mais sublimes e serenos vôos, com os quais, por certo, alcançará a Academia Brasileira de Letras. Ali onde já obteve merecida premiação. Conquistou a amizade e a mais honrosa admiração de vários membros daquele sodalício de Machado de Assis, fato divulgado na imprensa e amplamente comprovado em sua sábia autobiografia. Que não me deixe mentir o consagrado poeta Carlos Nejar, da ABL, em texto de apresentação da autobiografia, define GN de “Máquina de Metáforas”:
“Gabriel Nascente é um poeta em estado fonético. E também em estado puro. Profeta nos presságios, opulento de infância, com seu destilar verbal filtrado por rico imaginário, é fonte de dorida humanidade, na medida em que se preocupa com o respirar coletivo, ou o respirar da terra. Sua voz é mais do que instinto que da razão, mais do que grito e do sangue que das coisas, antenado com a loucura do mundo, com a torre de babel das línguas e almas, ou do sofrimento que se alarma. Fiel à inquietação do tempo, embora se despreocupe do textual rigor, pela vontade insaciada de dizer e sentir. E suas imagens se agregam belas, aguçadas ou entretecidas como um balde de flores, nome de livro que se destaca, em sua vasta obra – Um balde cheio de flores para Manuela não chorar (1974), além de outro, que chama atenção pela força de obscura e sensível labareda, O Anjo em Chamas (1998)”, acrescentando:
“Gabriel Nascente surgiu com Os Gatos (1966), máquinas de metáforas e sonhos, ou ‘flautista do caos’, vai-se descobrindo menestrel ou segrel, contista precioso em Sapatos do Infinito (2009), tem seu ‘coração: uma praça, com liberdade para todos’. Se Gilberto Mendonça Teles é o poeta de um Goiás primevo, Gabriel Nascente faz-se inventariante deste Goiás, com a goteira na casa velha, a goteira nos olhos da esperança, desconhecendo onde vai ou demora a dor dos mortos.”
(Martiniano J. Silva, escritor, advogado, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego, mestre em História Social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – [email protected])
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