Opinião

Inflação, flagelo da arte de governar

Diário da Manhã

Publicado em 5 de novembro de 2016 às 01:53 | Atualizado há 8 anos

A inflação galopante inviabiliza a arte de bem governar, a nossa, atualmente, na casa dos dois dígitos atormenta a governança, e, bem mais, as classes média e de baixa renda, pois ela, inflação, promove redistribuição de renda no sentido contrário, ou seja, tira dos mais pobres para os mais ricos, isto, de forma natural, como se diz na gíria popular, sem querer querendo. Culpa de quem? Dos próprios governantes! Veja aí leitor, o paradoxo, nosso país já é, creio, o quinto maior concentrador de renda do mundo, com ela, no pódio, o dobro ou mais do dobro da meta programada pelo Banco Central, os tão badalados programas de redistribuição de renda dos governos Lula e Dilma, se é que houve, estão indo para o brejo, arrastados pelo amargo atoleiro econômico, aliás, do atual também, porquanto eram coligados.

Por isso, a inflação, mal que vem infernizando as nações desde a segunda metade do século XX, é resultante de mal muito maior cometido pelos próprios governantes ao abusarem do poder, gastando muito mais do que podiam gastar. Assim procedendo, como ficaria sua situação financeira leitor, gastando mais do que ganha, por vários anos? No tocante ao governo, foi ele beneficiado pelo fajuto estatuto da reeleição, felizmente há pouco banido, extinto para o poder executivo, vez que, no poder legislativo, prossegue: “Tudo dantes como na corte de Abrantes”, de igual forma, abusivo. Há mais de século a monarquia foi banida, com ela o feudalismo, contudo, na república, embora o mandato de deputados, vereadores, seja de quatro anos, podem eles se reelegerem a vida toda, o mesmo no senado, como aconteceu com o senador José Sarney, cinquenta anos no poder, como ele, muitos outros, aproximando do meio século, subsidiado por reeleição infinda, calcada no voto subserviente leniente.

No passado, tempo do rei figura divina, era o senhor feudal que ficava no poder a vida toda, beneficiado pelo sangue azul, árvore genealógica, com a república, sangue vermelho, como natural sua cor, continuam no legislativo da mesma forma, reeleição perpetua, beneficiados por direito constitucional, privilégio execrável, caducando, carecendo de mudança, limitação, no máximo, a dois períodos de reeleição, assegurando a oxigenação do poder legislativo, nas três esferas: Municipal, Estadual, principalmente Federal, onde o continuísmo infindo condicionou o maior  escândalo de nossa história, com a metade do congresso lambuzada pelo Petrolão.

Ademais, esse quadro vexaminoso vem sendo subsidiado, também, pelo voto subserviente leniente. Fosse a sociedade politizada, desde o começo da república, ou, pelo menos do Muda Brasil, por meio de aulas práticas e teóricas, sobre a arte da política, política ensinada por Aristóteles e nunca aquela de Maquiavel, contida, na sua obra prima “O Príncipe”, o voto já seria consciente sapiente, como tal, arma mais poderosa para promover a alternância do poder, vital ao bom funcionamento da democracia, como foi praticada no passado, verdadeira, a atual, é a do faz de conta, de meia tigela. Por isto, aumenta, a cada eleição, a descrença dos eleitores, com abstenção de mais de vinte por cento nas últimas eleições. Ela, crescente, abre caminho à oportunistas de cartola, de esquerda ou direita, numa sociedade que não conhece o lado bom, positivo da política, mas, assiste diariamente, pela TV, um tanto abismada, desiludida, a prática do lado negativo, ruim. O voto quando consciente sapiente premia os bons e pune, ao mesmo tempo, os ruins. Sem violência, de forma pacífica, promove a substituição de um governante por outro, dessa forma, areja, tonifica a alternância do poder, marca registrada da democracia.

Mas voltando a diabólica inflação, inimiga da boa governabilidade, afanadora de renda das classes média e operária, para corrigir seus efeitos danosos, foi criado, no governo do saudoso presidente Itamar Franco, o plano real, herdara ele a inflação galopante dos governos: José Sarney e Collor de Melo. Urgia restabelecer as condições de governabilidade, perdidas. Elaborado e implementado por equipe douta, coordenada pelo ministro Ricupero, da fazenda, conseguiu restabelecer a governabilidade, de forma inusitada promovendo, inclusive, distribuição de renda, creio, salvo juízo mais acurado, por mais de dez anos.

Entrementes, essa regalia, esvaiu-se com a mania de gastar mais do que o estado arrecadava endividamento crescente, aumentando, de modo abismal, a dívida interna, atualmente, superior a três trilhões de reais, gerando como caldo de cultura, novamente, a ingovernabilidade, e, como corolário, a estagflação, ou seja, redução da atividade econômica, aumento do índice de desemprego, cerca de cem mil empresas fecharam suas portas, segundo as estatísticas, mais de dose milhões de desempregados, certamente entre eles, os beneficiados pelos programas demagógicos dos governos. Demagogia fundada na gastança desenfreada do dinheiro público: impostos, ora sacrificando, principalmente eles, ao serem alijados do emprego. Infração provendo remarcação de preços, carestia desenfreada, copiosa, nos alimentos, abocanhando a maior parte do orçamento familiar, boa parte dela, empobrecida pela inflação galopante dos governos, como dito, de José Sarney e Collor, agora, de novo, castigadas por sua ressurgência.

A república jamais alcançara aquele inolvidável bem-estar de dar água na boca, como provou no passado, sem a participação da sociedade, a que paga a conta de tudo – o olho do dono é que engorda o gado – na vida política do município, estado e país, controlando, cutucando, com vara curta, dentro da ordem constituída, toda sorte de gestores públicos. Assim, como você na sua propriedade familiar, ou mesmo, média e grande empresa, só prospera cuidando, com maestria, de sua administração, ou controlando os contratados para administrá-la, de modo semelhante, o estado, governo, não é outra coisa senão uma grande empresa, empresa esta que, para prosperar precisa, de forma incisiva do controle de todos brasileiros, genuinamente, seus acionistas, porquanto, entes legítimos da nação.

De tal modo, com eles marginalizados da vida política, a democracia nunca será, de fato, democracia de todos, mas, propriedade dos ocupantes dos poderes constituídos. O dever de votar, pagar tributos, lhe confere direito de participar, ativamente, da vida política de sua comunidade, participação esta, maior virtude pública da república. A sociedade contribuinte terá que exercitar o papel, ora vago, de freio, para frear a vontade egoística dos eleitos, que, por falta de controle, desembocou na atual conjuntura dramática, vivida pela nação brasileira. Freando essa colossal vontade egoística, irá fazê-los, legalmente, abraçar a vontade universal, aquela acessível e aceitável por cada um, e, válida por todos patrícios. Este mesmo freio, de forma singular, pode funcionar, na forma de assessoria, conselho douto, junto à presidência da república, para controlar os atos instintivos do presidente, com poder igual ao do extinto monarca, mostrando-lhe a decisão, medida, mais racional a ser tomada. Amortecendo sua paixão, e, ao mesmo tempo, fortalecendo sua razão, no tocante a mais sábia decisão, aliada aos lídimos anseios da sociedade contribuinte.

Nos países de primeiro mundo, como EUA, Inglaterra, França, Alemanha, funciona, há muito, tais conselhos, o que existe atualmente em nossa república, nada apita, portanto virtual, constitui apenas um conselho do faz de conta, como a própria república. Afinal, na democracia tem que prevalecer, os lídimos interesses da comunidade, e, nunca, a paixão de governantes, em sua maioria, sequer, preparados, para tão elevado encargo, missão.

 

(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-GO, produtor rural)

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