Opinião

Internerds, vicionéticos e cibernautas

Diário da Manhã

Publicado em 6 de outubro de 2016 às 01:59 | Atualizado há 8 anos

Não é a primeira vez que este tema está impresso nessas páginas. Quem sabe a coisa não se desenvolva por insistência? É sabido que cada vez mais as crianças e jovens trocam o lazer e o esporte, suas saudáveis brincadeiras da infância, pelas telas televisivas, pela Internet e pelos videogames.

De fato, quem colhia informações de livros, histórias e enciclopédias, ou até mesmo pelo contato popular, daquela geração do sucesso (atualmente fracassado) Atari, há que se surpreender com os gráficos dos novos jogos e da celeridade da internet. Mas é uma velocidade preguiçosa, que transforma os mais nerds em impacientes irônicos, vidrados no vício do mundo virtual.

Constato, a cada dia mais, a quantidade de baboseiras, lixo e informações erradas na net. Como recurso de pesquisa, muitas vezes é preciso peneirar bastante para encontrar fontes mais confiáveis, e o computador deixa mesmo mais lerdos os mais capacitados. Precisando de cálculos, a calculadora, ou melhor, o Excel e assemelhados estão ali para fazer quase tudo por você.

Os internerds, vicionéticos e cibernautas são facilmente reconhecidos. Alguns deles usam óculos, uns magros pelo esquecimento dos alimentos, outros são obesos pelo excesso de sedentarismo. Mas todos têm a epiderme esbranquiçada ou amarelada pela ausência da luz solar, e na maioria deles, as pálpebras são ornamentadas por olheiras. Se não adquiriram “ler” ou tendinite, algum dia seus tendões e nervos serão encurtados. Os vicionéticos dos games ostentam dedos e falanginhas calejadas.

Reconhecidas essas figuras, agora façamos um mutirão operacional para detê-los e muitas cabeças deverão ser chacoalhadas, para ver se o cérebro pega no tranco, com o devido respeito aos direitos humanos.

Há que se falar da celeridade da vida a ser desperdiçada numa tela. Primeiro o óbvio: entretenimento é necessário e útil, mas toda moderação é bem vinda e desejada. Há tempo para navegar, ser mestre invulnerável em um jogo, ler boas histórias da sadia literatura e praticar um esporte.

A questão crucial e motivada do texto de hoje é originária de uma pesquisa, com iniciativa da Organização Mundial de Saúde, que constatou os lapsos de memória e possível queda do Q.I. de seres humanos, anteriormente tidos como super inteligentes, fracassando em testes dos mais bobos aos mais importantes como vestibulares, concursos e entrevistas de emprego. O excesso da telinha deixa os nervos à flor da pele, tensos, há queda de raciocínio e o óbvio declínio do condicionamento físico.

No Brasil não se encontra facilmente o costume popular do apreço por coisas mais culturais, para alimentar o intelecto. Aliás, são as coisas anticulturais as de maior sucesso e que não sairão da moda por muito tempo. Talvez por isso, torna-se necessário priorizar o condicionamento físico. Aos jovens e crianças: o esporte em geral. Às crianças, a verdadeira descoberta da infância nos antigos moldes de cantigas, gincanas, brincadeiras de roda, jogos de rua (podendo ser praticado na sala do apartamento), salvo pipa e outros que exigem ar livre, lógico.

O convívio com a natureza em estadias, comumente repudiada pelos jovens, deve ser estimulado e buscado pela família. Os tempos não voltam e não há saudosismos bem-vindos pelas novas gerações. Inovar, investir e insistir são aconselhados por profissionais. É uma séria questão de saúde. O que vale é o equilíbrio; difícil é ver essa moçada longe das telinhas. Por falar nisso, tenho que ler meus e-mails. Até a próxima página!

 

(Leonardo Teixeira, escritor, escreve às quintas-feiras neste espaço. Contato: [email protected])

 

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