Júri ao Revés
Diário da Manhã
Publicado em 10 de dezembro de 2015 às 23:20 | Atualizado há 9 anosO autor do livro não é terrorista, radical e nem fanático por alguma ideologia exclusivista do sistema padronizado. É um bancário aposentado, que trabalhou na Caixa Econômica Federal de Rio Verde e sempre gostou de escrever, expressando os pontos de vista. Publicou diversos livros, entre eles a Dama da Tarde, um doce romance intuitivo. Mas a ficção criada em Júri ao Revés mexeu com o poder Judiciário brasileiro, deixando até pontos de interrogação sobre os personagens envolvidos na trama bem bolada. Ênio Ferreira de Macedo criou os personagens os Vingadores, além de um juiz e um psiquiatra. Mexeu em temas relevantes da Justiça e mergulhou na rotina do júri popular. O tema se parece com a situação do Brasil onde a figura do impeachment é discutida em todas as instâncias e também em cada esquina e botequim do Brasil.
A figura do juiz e seus poderes é discutida, pois quem estaria acima da lei e das relações humanas no contexto da Justiça e do ofício de fazer leis e buscar o tempero e equilíbrio social? O juiz e o psiquiatra são sequestrados, e desta vez o motivo do sequestro não é o dinheiro, como se percebe na grande maioria dos casos. Na versão automática dos fatos até um juiz quis saber de Ênio se o fato narrado por ele tinha alguma verdade ou conotação política. Ênio Ferreira Macêdo explicou que o livro é apenas uma ficção e que cada leitor deve tirar as suas próprias convicções e conclusões. É uma analogia, um passeio de um júri simulado que busca questionar os dois profissionais sobre o drama da morte de 6 meninos e cujo desfecho o psiquiatra e o juiz teriam importância capital. A obra mexe com a imaginação e até coloca um ponto de curiosidade sobre a rotina e essência dos homens da Toga. Uma criação bem feita e que busca mexer com os neurônios do leitor, forçando uma autocrítica do sistema Judiciário e da própria sociedade e seus comportamentos. A capa do livro já insinua o tema instigante, onde o martelo simula bater na cabeça do símbolo da Justiça. No Brasil da Lava Jato, das trapaças e pedaladas fiscais, Júri ao Revés é uma boa sugestão de reflexão sobre as leis e as decisões do Direito em todas as instâncias. A filosofia clássica de que o juiz brinca de ser Deus (e até se julga como tal) é explorada na obra, pois a família das vítimas se coloca como os próprios julgadores da questão na figura dos Vingadores. No imaginário de Ênio os personagens dos doutores Justino e Sigismunndo funcionam como o contraponto da Justiça em julgamento, quando os homens da Lei sentem na própria pele a força e repercussão de suas decisões. Uma viagem literária sugestiva, sobretudo colocando em pauta a união da OAB, a força dos estudos jurídicos, o papel do julgamento e a difícil arte de expor as diversas fases de um processo. Muitas vezes se faz justiça ao processo e não à verdade nua dos fatos. Na trama de Ênio seis meninos foram violentamente mortos, e o assassino suicidou-se quando foi descoberto. Uma trama bem feita e elaborada, mexendo em pontos sensíveis da lei, liberdade e todos os expedientes de um julgamento. Será que o juiz foi condenado?
Ênio Ferreira de Macedo é goiano, de Rio Verde. Foi professor de disciplinas jurídicas para alunos dos cursos de Direito e de Ciências Contábeis por 3 anos e meio. Bacharelou-se em Direito em 1980 pela Faculdade de Direito de Barbacena, em Minas Gerais. Foi bancário por mais de 30 anos e conserva sua boa memória e imaginação, traços que aprecem em Júri ao Revés. O livro deixa um pensamento: como agiriam os juízes se estivessem do outro lado da questão e como funciona o ordenamento jurídico brasileiro e mundial. As fases, personagens e ideias do livro parecem deixar uma revelação: não julgue ninguém pelas aparências a não ser que você conheça todas as verdades de Deus. Mas para quem é juiz e se considera um ser superior fica a reflexão social.
(José Carlos Vieira, escritor, jornalista do Jornal Folha da Cidade de Rio Verde – E-mail [email protected])
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