Opinião

NATHALIA (mártir) e NATÁLIA (sem alma)

Diário da Manhã

Publicado em 7 de março de 2016 às 01:53 | Atualizado há 9 anos

Ultimamente tenho escrito coisas que vivenciei nas minhas muitas décadas de vida. Escrito coisas que ouvi nos ônibus, nas feiras degustando pastel gorduroso, ouvindo um ou outro amigo que passou ou está passando por uma situação engraçada ou vexatória e coisas que eu invento. Como não sou técnico em português, os escritos saem com erros que estarrecem os doutos e aos quais, eu, humildemente, peço desculpas por tamanha afronta. Às vezes tento escrever algo mais ameno, engraçado e a coisa sai é caricata, de um humor enviesado, sem sal, despinguelado mesmo.

E assim, escrevendo errado deparei com o assassinato da menina Nathalia (com agá), estudante de apenas 18 anos pela outra menina Natália (sem agá) de 19 anos, mãe de dois filhos. Dá-me engulhos sempre, não consigo tirar a imagem dantesca das minhas sofridas retinas. Resolvi escrever, me redimir diante delas, pela nossa omissão.

Quem entende me ensinou que o termo natale domini significa “dia de natal” ou Natália, que deriva de Natalis que em latim quer dizer dia do nascimento. Assim nominavam as meninas nascidas no Natal, lindo nome feminino que simboliza um marco importantíssimo para os Cristãos. Para os meninos, Natalício, Natalino, Natal.

Natália, com acento, Natalhia como alternativa, Natalie (nome de artista americana) ou Natacha, diminutivo lá na Russia, refletindo, todos, a alegria da festividade do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A que morreu tinha sonhos de salvar vidas com o curso de medicina e a que matou saiu para conseguir dinheiro para alimentar os filhos que estavam com fome. A que morreu teve infância sem lágrimas, amada, protegida e foi feliz.

A assassina, gerada em ambiente de absoluta miséria, teve a mãe levando chutes na barriga e tapas na cara. Será que o parto não assistido foi realizado na privada de fundo de quintal? Não lhe ensinaram respeito aos mais velhos e nem amor a Deus! Será que ainda na infância, pré-adolescência e adolescência não fora violentada, centenas de vezes, pelo pai, irmão, tio, primo, vizinho ou por um outro tarado? Imagino que crescestes sob pontapés, pescoções e xingatórios cabeludos. Será que alguém solfejou canções de ninar ou leu historinhas infantis ou beijou-lhe a fronte abençoando-a por existires? Será? Imagino que na escola – se tivestes escola – esfaqueara, mordera e até esfregara seu absorvente usado na cara daquela rival que estava lhe tomando o namorado, macho como qualquer cachorro o é e não um homem e sim um pária, um imprestável e inútil mocorongo que lhe plantara filhos e que falava pra todo mundo que seu hálito rescende a tábua de chiqueiro, que você bebe pinga e fuma crack e que suas axilas e todo seu corpo exalam perfídia, suas roupas íntimas são presentes do belzebu, daí o forte cheiro de enxofre misturado com perfumes adocicados e nauseantes e você, inculta, se achando bonita com sua cabeça de medusa onde os cabelos são serpentes, desfilava numa imaginária passarela exibindo revólver e demais armas para uma platéia de horrendos e cruéis parceiros no crime.

Pra você Natália matadora, pedimos-lhe perdão por causar-lhe constrangimento ao trazê-la ao mundo egoísta, materialista. Um mundo onde você não vale nada se nada tiver, isto é, vale o que você tem. Você, que é uma desgraçada miserável, um monstro inoculado de todos os venenos, quando viu a outra Nathalia, bonita, limpa, rescendendo a flor de jasmim, com um celular bonito nas mãos matou-a a tiros para vender o butim a um monstro receptador e com o dinheiro empapado de sangue comprastes drogas e junto aos outros monstros riram em sons guturais da expressão de pavor, do medo estampado no rosto da Nathalia, a mártir. Não alimentastes seus filhos.

Para você Nathalia, mártir, rogamos-lhe clemência por tê-la iludido que Goiânia oferece condições de se morar e viestes na esperança de se tornar uma salvadora de vidas e nós, toda a sociedade, não tivemos competência para lhe dar proteção com as nossas estruturas falidas, com os super salários de alguns, do pouco salário de muitos, do roubo do dinheiro público destinados à saúde, educação, segurança, das nossas polícias, civil e militar assoberbada com milhares de outros problemas. Misericórdia, Nathalia!

 

(Alcivando Lima, [email protected])

 

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