Natureza, preservação e destruição
Diário da Manhã
Publicado em 17 de maio de 2016 às 02:35 | Atualizado há 9 anos1
Ali era a serra, agora a pedreira que encerra a história do homem e da terra.
À margem da vida, os velhos amigos, os meninos velhos ainda analfabetos.
À margem do tempo, os parentes pobres, pobres pares, entes ainda analfabetos.
À margem da estrada, agora o progresso: segue como a serra, que vai para onde?
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Por que amam as máquinas e não as almas? Por que roubam as almas inocentes?
Por que não conciliam o hoje e o ontem, os que entram na fila do amanhã?
O que fazer com teus sentimentos neste mundo mecânico de homens biônicos?
O que fazer com as tuas verdades se outras leis governam a tua vontade?
O que fazer com teu amor ao passado nesta terra de sonhos futuristas?
Por que visitarás os campos santos se até os mortos já foram despejados?
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Destruímos o que mais amamos, inclusive a nós mesmos.
Destruímos nosso espaço vital e a natureza chora por nós.
Destruímos o passado e o futuro num presente anárquico.
Destruímos cegamente os outros pelo nosso egoísmo congênito.
Destruímos até o arquivo secreto de nossa memória íntima.
Não se confunde evolução com progresso. Evolução é lei natural, progresso é conquista social. A ciência deve contribuir para a marcha da natureza, mas não para contrariar seus fins.
Não confundir estágio natural do homem primitivo com lei natural do homem como parte da natureza. Tanto o homem primitivo quanto o civiliza¬do estão sujeitos às leis naturais. O desenvolvimento humano é devido à lei do progresso que lhe é inerente e que se opõe ao estágio natural do homem primitivo.
Uma vez iniciada a evolução da humanidade, jamais retornará ao seu estágio pri-mitivo. Apesar da propensão ao progresso contínuo, nem todos os homens progridem ao mesmo tempo: é do contato social que uns promovem os outros. Ao progresso social ou intelectual não segue concomitantemente o progresso moral.
O excesso do mal gera transformações que repõem os indivíduos na escala do bem. O egoísmo e o orgulho são os maiores obstáculos ao progresso individual e social. A visão subjetiva de indivíduos egoístas não detém a marcha objetiva da humanidade no rumo do progresso e do bem social.
Pela lei do progresso os povos primitivos se tornarão civilizados e os povos civilizados que se degenerarem, estes sofrerão ruptura com o avançar da humanidade. Não há povos superiores uns aos outros, há povos que se desenvolvem desequilibradamente no aspecto intelectual e no aspecto moral. A degeneração moral é causa de decadência de algumas raças, bem como de certos indivíduos.
Os povos se reconciliarão, como os indivíduos, quando se ajudarem mutuamente, vencendo o egoísmo e o orgulho e praticando a justiça e a caridade. A transformação da sociedade humana pela espiritualidade só virá por etapas na medida em que os homens aprendam o valor da solidariedade.
A natureza não faz saltos. Assim como a natureza, o progresso deverá vir acompanhado da evolução necessária. Do contrário, o homem continua primitivo e o progresso se torna destrutivo. A sociedade humana não segue as leis naturais, como acontece com a sociedade animal. E as leis humanas não bastam para atender às suas aspirações.
Assim como a sociedade de hoje é a evolução da sociedade do passado, a sociedade do futuro será a evolução da sociedade de hoje. A reforma da sociedade humana só se dá pela educação, não pelas leis que só punem o mal quando já praticado. As leis espirituais confirmam as leis naturais e estas nem sempre aprovam as leis humanas.
Preservação e destruição
A destruição como transformação é necessária à renovação: trata-se de lei natural. Não confundir destruição do supérfluo com a do necessário. O sentimento de crueldade é o mais vil dos instintos de destruição.
A tendência da destruição pende mais para o lado da matéria, a da conservação para o lado do espírito. Conservação e destruição representam peso e contrapeso pela busca do equilíbrio. É inútil tanto a preservação em excesso de coisas naturais quanto o investimento excessivo em objetos artificiais.
Deus deu ao homem a vida e os próprios meios para sobreviver. Mas este por imprevidência substitui o necessário pelo supérfluo. Os produtos da terra garantem a primeira necessidade humana. A transformação deles provê as demais necessidades.
A reprodução dos seres vivos é uma lei natural. A superpopulação não gerará desequilíbrio, se vista na harmonia do existente em conjunto. O instinto da preservação é inerente a todos os seres vivos que se destinam a concorrer para os desígnios de Deus.
A evolução das raças é como a evolução dos indivíduos e tende ao seu cons¬tante aperfeiçoamento, numa escala infinita, mesmo que em processo de substituição, desde os seres primitivos até seus descendentes atuais.
A diferença do homem primitivo para o homem civilizado está na diferença de uso da força bruta para o uso da inteligência. Mas a humanidade sempre evoluiu setorizadamente e não como um todo. O aperfeiçoamento dos seres vivos pode dar-se tanto pela lei natural quanto pela ciência, desde que corresponda à mesma finalidade.
O princípio da evolução implica a transformação dos seres vivos e entes da natureza no seu tempo certo. O controle da reprodução humana depende da inteligência a serviço do bem, assim como o equilíbrio da reprodução animal depende do instinto dos animais. Em sentido espiritual e segundo a necessidade do autoaperfeiçoamento, a vida do ser humano torna-se mais longa ou mais breve.
Os flagelos destruidores servem para adiantar a transformação da humanidade pela regeneração. Por isso Cristo disse – os justos pagam pelos pecadores. As vítimas dos flagelos de hoje serão recompensadas na vida eterna. Os flagelos que atingem os indivíduos e a humanidade servem para educar a consciência e fazer o homem resignar-se perante Deus.
O senso moral é inerente ao ser humano e na medida em que se desenvolve afasta gradativamente o instinto de crueldade. O homem precisará de tantas existências para expiar suas culpas quantas sejam as mortes que haja causado. A expiação é proporcional ao mal que lhe serviu de causa.
(Emílio Vieira, professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de Letras, da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa. E-mail: evn_advocacia@hotmail.com)
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