Novas vacinas precisam vencer antigos preconceitos
Diário da Manhã
Publicado em 3 de maio de 2016 às 01:41 | Atualizado há 9 anosDesde o início deste século estamos vivenciando o aumento de uma grande variedade de doenças, emergentes e reemergência de doenças antigas, que já não tínhamos notícias. Após mais de uma década de sucesso no controle do Sarampo, vivenciamos desde 2010 surtos localizados no Brasil e no mundo. Apesar de níveis elevados de cobertura vacinal, a existência de pessoas suscetíveis pode levar ao ressurgimento da doença e ocorrência de surtos. Não só do Sarampo, mas a Coqueluche e a Caxumba retornaram com expressividade. As facilidades cada vez maiores de viagens vêm possibilitando a importação de doenças. Além disso, os grupos anti-vacinas têm espalhado informações sem fundamentação científica afastando as pessoas da vacinação.
Questionamentos têm surgidos como possibilidade da perda de imunidade ao longo do tempo, além de uma possível perda da proteção da vacina em função de mutação do vírus. Fatos que estão sendo estudados e regularmente os calendários vacinais têm sido adaptados para cobrir falhas. Exemplo é a introdução das segundas doses das vacinas Varicela e Tríplice Viral antes do término do segundo ano de vida.
Vivenciamos um dramático aumento nos casos de dengue no mundo nos últimos 10 anos. A dengue é a mais comum infecção viral transmitida por artrópodes e é endêmica em mais de 100 países na África, Américas e Ásia. A transmissão pelo mosquito, que mantém proximidade com os humanos, e a existência de quatro sorotipos facilita a disseminação da doença e dificulta a prevenção.
O desenvolvimento da vacina contra a dengue tem sido dificultado pela complexa virologia do vírus. Já existem outras vacinas eficazes contra outros flavivírus, como a vacina contra febre amarela, mas grande problema tem sido produzir uma vacina que induza imunidade contra os quatro sorotipos. Fato que não acontecerá com as possíveis vacinas para Zika e Chikungunya.
Após décadas de tentativas infrutíferas para desenvolver vacinas eficazes contra dengue, pelo menos duas apresentam resultados promissores. A vacina do Butantã encontra-se em fase III dos estudos clínicos, com previsão de liberação 2017/2018, e a vacina da empresa Sanofi obteve o registro na Anvisa e acaba de chegar ao Brasil. A vacina apresentou extensos estudos publicados demonstrando segurança e eficácia. Inicialmente, quinhentas mil doses serão destinadas a clínicas privadas, para atualização a partir do mês de junho, prazo previsto para que a Câmara de Regulação de Medicamentos determine o preço de venda do produto.
Aguardamos com ansiedade pelas novas vacinas com acesso amplo pela rede particular e pública, pois sabemos que eventos com as Olímpiadas no país tornam o desafio do controle de surtos ainda mais complexo. Mas não basta superar os desafios de conter vetores. Precisamos vencer os obstáculos dos falsos mitos sobre vacinação e a desinformação. A vacinação é a forma mais eficaz de prevenção e controle das doenças.
(Dra. Marilene Lucinda, médica responsável técnica pelo setor de vacinas do Laboratório Padrão do Grupo Hermes Pardini)
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