Opinião

O abacaxi da Segurança

Diário da Manhã

Publicado em 22 de dezembro de 2016 às 00:59 | Atualizado há 8 anos

Fossem verdadeiros os resultados que a imprensa tem divulgado como sendo obtidos pela Segurança Pública na gestão do vice-governador, então sua saída seria ainda mais constrangedora do que se motivada pelo fracasso total. Sim: confessar que fracassou e que sai para dar lugar a alguém mais qualificado seria mais digno que dizer que teve sucesso e que, em menos de um ano, quando nem o concurso anunciado foi realizado, deixará a pasta. Na verdade, o vice-governador não sai porque alcançou resultados positivos. Sai porque sabe que o horizonte não é bonito para nenhum órgão, menos ainda para a segurança, pasta que assumiu para imprimir suas qualidades de bom gestor, no exato momento em que seu governo elegeu a SSP como o causador da desordem econômica do Estado.

Num contexto em que os recursos só diminuem a cada dia, sabemos que não é só culpa sua o quadro atual. Na verdade, até o respeitamos por ter retornado após os fatos tristes de Itumbiara, quando o candidato a prefeito e um PM morreram e ele, o próprio secretário, saiu ferido. Previ na época que ele não retornaria. Retornou e isto é um mérito. Mas creio que o fato lhe abriu os olhos para enxergar a arapuca em que entrou. Para ficar num exemplo, a PM, entidade em que milito e que já teve 14 mil homens, tem hoje escassos 10 mil. Não há recurso para contratação e o aumento dado às vésperas da eleição passada, reconhecemos, sai agora pelo esforço de sua equipe. Tanto entendemos e fomos solidários que aguardamos todo este período, calados.

É possivel que o sr. José Eliton já não tenha reais pretensões de candidatar-se ao governo. Não creio que queira, quando tem possibilidade de tornar-se membro de um dos três tribunais do Estado. No entanto, uma passagem malsucedida na Secretaria mancharia qualquer curriculo. Sua saída então, por esta visão, serviria ao propósito de conter os danos que poderiam ser maior ainda. Mas ficará difícil justificar perante a sociedade como, tendo resultados tão positivos, abandonou uma pasta tão complexa. Neste caso, sua saída contraria três grupos distintos: Primeiro o povo que o elegeu e espera dele o sacrificio necessário para dirimir os problemas, particularmente da segurança, saúde e educação; Segundo, à equipe do governo que espera dedicação de seus melhores quadros para alcançar os resultados esperados pelos eleitores, este ser intangível e cada vez mais exigente; e terceiro, às instituições da SSPAP que esperam um líder firme que não só lhes mostre o caminho, mas que defenda suas ações.

A cerca de defender as instituições, devo dizer que foi o ponto forte da gestão do Sr vice-governador. Defendeu a PM nos momentos críticos, colocou-se ao lado dos policiais e ainda mobilizou os Secretários de outros Estados em busca de uma agenda comum que incremente as suas atividades. Pontos positivos estes, claro. No entanto, penso que tais posicionamentos poderiam ter sido ainda mais robustos, não permitindo que a Polícia Federal procedesse em conduções coercitivas e prisões de militares como ocorreu. Tais ações são ilegais e as PMs precisam se posicionar firmemente, reagindo inclusive com a força contra isto. A Polícia Militar tem o dever de prender e conduzir seus integrantes quando requisitada pela justiça ou solicitada por outra força, seja ela a PF ou a Policia Civil. Se a Segurança não foi informada da condução de seus membros, então não precisa permitir que ocorra.

Por fim, fica claro que o governo está com um problema nas mãos: quem será o novo secretário? Tem circulado diversos nomes nas redes sociais. Nomes bons, nomes não tão bons e nomes nada recomendáveis. Mas creio que nenhum deles terá a melhor solução para a segurança, o que afasta a pretensão de pessoas qualificadas.

Em tempos pretéritos eu disse aqui que os governos têm repisado as mesmas soluções que já se provaram fracassadas no país todo. É certo que para a segurança, como para a saúde, o que precisa é dinheiro. Mas não só dinheiro. Coragem para mudar de rumo seria uma boa decisão. Questões como TCO e da mediação de conflitos, por exemplo, estão latentes há anos e nunca foram implantadas. O TCO foi criado em 1995 para ser confeccionado pela PM e só o Paraná e São Paulo o levou adiante. A este respeito, vejam a série “retratos de Policia” publicados aqui. Mas se são soluções plausíveis, o que tem impedido de avançar? O peso do sistema. E parece ter sido este o maior obstáculo enfrentado pelo vice-governador. Enfrentar o sistema dominante na SSPAP não é tarefa fácil. Além do que, suas pretensões parecem muito além do que a SSPAP pode oferecer. O caminho escolhido pelo governo é o do sacrificio. Sacrificios numa estrutura inoperante não só não traz resultados, como queima a imagens de homens que elegeram pautar-se pela competência. Quem sabe o Sr José Paulo Loureiro assuma esta missão.

 

(Coronel Avelar Lopes de Viveiros, comandante do 16º Comando regional da PM)

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