O aleitamento materno e a saúde oral
Diário da Manhã
Publicado em 24 de novembro de 2016 às 00:56 | Atualizado há 8 anosO aleitamento materno é considerado o método de alimentação infantil mais natural e reconhecido como a melhor forma de nutrir, proteger e amar uma criança. A amamentação é também um fator decisivo e importante para a correta maturação e crescimento dos ossos e músculos da face. Os músculos envolvidos são adequadamente estimulados, aumentando o tônus e promovendo uma postura correta para futuramente exercer a função da mastigação.
Nos primeiros meses após o nascimento, há necessidade de contato corporal, e sugar, é a atividade principal do bebê, o que deve acontecer de forma harmônica, com ritmo, força e sustentação. Ao sugar o seio, a criança estabelece o padrão adequado de respiração e postura correta de língua.
A amamentação preenche também as necessidades emocionais do bebê, fortalecendo o vínculo mãe-filho. Solidifica a relação de afeto pelo bebê, pois enquanto se alimenta ao seio materno, o bebê passa por sensações que já eram percebidas no útero como os batimentos cardíacos e a respiração da mãe, proporcionando calma, bem-estar e carinho materno. As crianças amamentadas ao seio são menos ansiosas e mais tranquilas.
A amamentação sob livre demanda (mamar à vontade) logo após o nascimento, favorece a mãe ter uma maior quantidade de leite. A eficiente sucção do recém-nascido e a ação hormonal (prolactina e oxitocina) é que comandam o volume de leite produzido por cada peito.
O leite materno é um alimento especialmente adaptado para atender as necessidades nutricionais da criança. Protege contra infecções respiratórias e gastrointestinais com grande importância na qualidade de vida da criança, diminuindo o risco de infecções e com melhor desenvolvimento emocional, físico e intelectual. Além disso, apresenta temperatura adequada, é completo do ponto de vista nutricional, hidrata a criança, é mais higiênico, econômico e de fácil digestão. Contém substâncias essenciais para crescimento, manutenção e desenvolvimento cerebral podendo ter efeito protetor contra o Início da obesidade infantil.
Entre os benefícios para a mãe estão a redução do câncer de mama, a prevenção da hemorragia pós-parto e a aceleração da involução uterina. Sendo assim, é importante realizar também o pré-natal odontológico para ser mais um ponto de apoio familiar no manejo, apoio e incentivo à amamentação. O atendimento multiprofissional proporcionará informações relevantes que possam contribuir para o incentivo ao aleitamento materno.
A pega adequada do mamilo no ato da amamentação é aquela em que a ponta do nariz e do queixo ficam encostados o tempo todo em contato com a mama, os lábios evertidos sobre a auréola fazendo um selamento hermético permitindo o avanço da língua até a gengiva. Esta posição é essencial para a movimentação correta das estruturas orais.
Com relação aos aspectos odontológicos, o recém-nascido tem a mandíbula pequena e retraída (retrognatismo) e o seu crescimento para frente é estimulado pela amamentação. Durante a amamentação a mandíbula realiza movimentos para a frente para baixo, para cima e para trás coordenados com a respiração e deglutição. A língua estimula o desenvolvimento do palato. Dessa forma concluímos que a amamentação natural previne a síndrome do respirador bucal, além de prevenir o desenvolvimento da deglutição atípicas, más oclusões, disfunções craniomandibulares, alterações de fala, e doenças do aparelho respiratório. O aleitamento funciona como uma fisioterapia para o desenvolvimento da face, evitando assim, tratamentos ortodônticos longos, com extrações dentárias no futuro.
O formato das arcadas dentárias é influenciado por forças exercidas através dos músculos da língua, lábios e bochechas, promovendo uma ação modeladora.
Muitas vezes por dificuldades na prática da amamentação, por falta de motivação ou por achar que o leite é fraco, as mães introduzem as mamadeiras.
Vários estudos mostram uma maior propensão da criança a desenvolver hábitos de sucção de chupeta, dedo e padrões anormais de respiração e deglutição com o uso da mamadeira.
Algumas dificuldades em amamentar podem estar relacionadas a uma anomalia chamada de anquiloglossia (língua presa) onde uma pequena prega de membrana mucosa situada embaixo da língua está encurtada e limitando a mobilidade da língua. Por fazerem muito esforço para mamar, os bebês com a língua presa acabam gastando muita energia, o que pode levar á dificuldade para engolir e ganhar peso.
No Brasil a partir de 20/06/2014 foi transformado em lei um projeto que obriga a realização do protocolo de avaliação do frenulo lingual em todas as maternidades do Brasil, tornando possível identificar se os movimentos da língua estão limitados dificultando as funções exercidas pela língua (amamentação e futuramente a deglutição, mastigação e fala).
O teste da linguinha é um exame padronizado feito por um profissional da saúde, que possibilita diagnosticar e indicar um tratamento precoce das limitações dos movimentos da língua presa. A cirurgia para liberar o freio é realizada por dentistas ou médicos após a avaliação funcional da língua nos movimentos de ordenha durante a mamada.
Para muitas mães, o início da amamentação é muito difícil por diversas razões, entre as quais dores, sangramentos, fissuras, mas cremos que todo esforço é válido devido a todos os benefícios que ela pode proporcionar, lembrando que o vínculo afetivo mãe e filho estabelecido no ato de amamentar é insubstituível.
(Dra. Marilda Moreira e Almeida Salviano, odontopediatra – Cirurgiões Dentistas Associados – CDA)
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