O eleitor e o marketing
Diário da Manhã
Publicado em 29 de agosto de 2018 às 22:18 | Atualizado há 6 anosOrganizar uma campanha não é tarefa que dispense a visão do especialista. O Marketing eleitoral tem demonstrado ser ferramenta preciosa na conquista da vitória nas urnas. O marketing eleitoral preocupa-se, portanto, com a formação da imagem em curto prazo. O fato crucial é o tempo. Assim, os candidatos precisam desenvolver um trabalho contínuo e sistemático de formação de imagem, objetivando aumentar seu poder de influência sobre o eleitor na decisão de voto. Mas, no jogo democrático, todas as partes possuem seus direitos e seus deveres. Ouve-se muito falar sobre como os nossos representantes devem agir com a responsabilidade que o cargo exige. Mas qual, afinal, é a responsabilidade de quem está na outra ponta do processo eleitoral, o eleitor? Muitas vezes não para-se para refletir sobre esse assunto, afinal minimizamos a importância da participação do eleitor. Qual é a diferença de um voto a mais ou voto a menos, não é mesmo? Pois saiba que cada voto conta e os eleitores não podem fugir de sua grande responsabilidade.
No estudo do Marketing Eleitoral aprendemos que, de modo geral, existem duas tipologias de conjunturas: a da conservação (continuidade) e a da mudança. A vitória, em parte, depende da eficácia do agente na utilização dos meios. Dizemos “em parte” porque, muitas vezes, uma campanha pode utilizar boas formas de convencimento e mesmo assim não se sagrar vencedora. Isto ocorre porque existe sempre a determinação da realidade vinculada às conjunturas políticas, sociais e econômicas. A força da natureza é a maior do universo. Os homens até conseguem, com obras monumentais de engenharia e arquitetura, driblar as forças naturais. Estão aí os diques, os túneis debaixo dos rios e dos mares, ícones da grandeza criativa do homem. Mas os furações e terremotos que devastam espaços, não fazendo concessões aos mais avançados bastiões da tecnologia, provam que a natureza não pode ser sempre enganada. É por isso que o povo, mesmo o mais sofrido, aquele do qual se tira a energia pelas doenças, pelas sequelas, mazelas e omissão dos governantes, desenvolve uma incomensurável força: a força para construir seus próprios caminhos.
A questão vem a propósito da luta política das estratégias que candidatos a pleitos majoritários e proporcionais engendram para escalar a montanha do poder. As táticas, os meios, as formas, os recursos, o marketing das campanhas eleitorais consegue enrolar o eleitor uma capa mistificação tão densa que lhe turve a visão, tirando a capacidade de ajustar o raciocínio? Mais exatamente: é o marketing que dá a vitória ao candidato? Essa é uma constante indagação de leitores e da imprensa. Vamos ás respostas. Primeira: quem ganha uma campanha é o candidato; o marketing ajuda a potencializar qualidades e virtudes e a atenuar defeitos. Segunda: o marketing malfeito contribui para derrubar candidatos. Terceira: o eleitor sabe distinguir entre o certo e o errado, entre o adequado e o inconveniente, entre o simples e o exagerado.
Neste ponto, cabe arrematar: o eleitor é sábio e o candidato é quem ganha a campanha. A sabedoria do eleitor está na virtude da observação e no poder da análise. Não precisa ser um poço de conhecimentos nem um acurado intérprete dos fenômenos sociais. O eleitor mais pacato tem condições de distinguir qualidades de vícios de seus semelhantes, a partir de um código de referências e do sistema de associação de ideias, que incluem companheiros, amigos, conversas, diálogos e comparações. Há pessoas que consideram o eleitor um ente imbecilizado, extensão da irracionalidade animalesca que não sabe votar. Trata-se de um equívoco.
Essa é a razão pela qual não se devem exagerar as cargas informativas, emotivas, expressivas e argumentativas do marketing. A tecnologia e o sofisma criam certos embaraços mentais na maquinaria psíquica de pessoas menos preparadas para entende-las, mais sujeitas aos processos de manipulação. Mas o ser humano, quando confrontando com cargas informacionais que não absorve ne, entende, desenvolve mecanismos de proteção. Refugia-se na desconfiança. Observe-se o olhar desconfiado e matreiro de quem se sente enrolado. A esmola quando é muita o cego desconfia.
O desconfiômetro, portanto, está presente nos processos cognitivos das pessoas, sejam quais forem suas habilitações e potenciais. Não se pode lutar contra a força do pensamento, a capacidade imaginativa de cidadãos que pensam e costumam agir em função de códigos que orientam o sistema de decisões. Nos últimos 60 anos, desde a Segunda Guerra Mundial, registraram-se ganhos formidáveis nazista ficou para trás. O universo globalizado exerce um autocontrole. Se alguém erra, já não esconde o erro tão facilmente. A subordinação pela opressão dos esquemas e estratagemas de comunicação, controlados por ditadores ou por poderosos grupos e feudos, já não tem a mesma força do passado. Os cidadãos despertaram. Como a natureza, têm força para quebrar os grilhões da vontade de seus semelhantes e fazer valer a sua vontade.
(Ilton Belchior Cruvinel, professor universitário, estrategista de marketing eleitoral)
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