Opinião

O famoso especialista em cristologia Reza Aslan

Diário da Manhã

Publicado em 21 de janeiro de 2016 às 21:52 | Atualizado há 9 anos

Conforme temos aqui discutido, numa série de artigos anteriores, o livro “Zelota” ( Ed. Zahar), sobre o Jesus histórico, de R. Aslan, só podemos obter desta análise a conclusão de que, apesar de seus 10 anos de estudos teológicos  nas prestigiosas Universidades de Harvard e da Califórnia, o cientista da religião não entendeu nada de Cristo.

Para ele Jesus era um revolucionário (daí o termo “Zelota”, seita judaica “zelosa” da Lei), cuja mensagem era basicamente anti-império romano e pró-semítica (“Eu sou o Rei dos judeus”, “eu sou o portador de uma mensagem de reinstauração do Reino de Israel contra o jugo romano”).

Ora, a mensagem psicológica de Jesus diz justamente o contrário da busca pelo poder e prestígio: “quem quiser ganhar sua alma, perde-la-á”, “quem quiser ser o maior que seja o servo de todos”; “evitai os primeiros lugares nas sinagogas”, “os últimos serão os primeiros”, “é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”, “daí a César o que é de César ( poder, dinheiro ) e a Deus o que é de Deus”, “quem se exalta será rebaixado”, “bem-aventurados os humildes, estes possuirão a Terra”, etc  [ citações livres ].

Para a mensagem de Jesus, a vida afetivo-relacional (“o cuidado com o próximo”) é a única coisa importante (“daí decorrem toda a Lei e todos os profetas”).

É claro que Aslan, sendo um teólogo tão bem-formado, sabe destas coisas, pelo menos num plano cognitivo. Talvez, como todo teólogo materialista (por incrível que pareça, por mais paradoxal que pareça, são um grande contingente hoje nos EUA e Europa), Aslan julgue que essas frases de impacto de Jesus sejam apenas uma jogada de marketing, visando esconder seu “verdadeiro objetivo”, algo feito de modo pretensamente ético e politicamente correto. O objetivo maquiavélico final, para Aslan, seria o poder, o sentar-se no trono do Rei dos Judeus unificando o Reino de Israel. O problema é que, se tudo isso que Jesus fez foi uma “jogada de marketing”, o Messias, ao mesmo tempo, mostrou-se ou muito inteligente ou muito burro (ou louco). “Muito inteligente” porque bolou um plano genial, tão genial que conquistou o mundo; mas, ao mesmo tempo, também muito burro ou muito louco, porque o plano acabou levando-o deliberadamente para uma morte e um sofrimento infame.

Ora, se Jesus fosse um estrategista político  assim tão empedernido e ambicioso, a última coisa que ele seria é um louco suicida, justamente porque os “idealistas”, “espertalhões” (vide Lula, Cunha, Renan, etc )  ou revolucionários políticos, são muito espertos e muito  focados no seu objetivo final.

Continuamos a discussão sobre a “psicologia de Jesus versus a psicologia de Aslan” no nosso próximo artigo, agora neste domingo.

 

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra (artigos às terças, sextas, domingos) – [email protected]

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