O Natal exalta a miséria interior de muitas pessoas
Diário da Manhã
Publicado em 27 de dezembro de 2017 às 23:42 | Atualizado há 7 anosEu poderia neste texto estar a falar de abundância, de fartura, de festas e banquetes. São termos e verbetes, cenários e fatos, muito repetidos em festividades, em celebração de aniversários, de batismos de pessoas e empresas, de natal e passagem de ano. E as pessoas têm absoluto motivo para tanto! Afinal a vida merece todas essas solenidades, esses júbilos e expressões de energia e felicidade. Imagine o que pensaria a sociedade se deparasse alguém com palavras de ordem do tipo viva o desânimo, morra a alegria, abaixo o regozijo e o prazer!
Tal arauto, com tais anúncios negativistas e destrutivos, seria no mínimo tachado de sandeu, mentecapto e atrapalhado do juízo. Então viva a vida e a alegria.
E aqui eu exalto e brado eu uníssono com esses mensageiros da alegria, do júbilo, do riso, do humor. E entremeado a tais sentimentos, o prazer e gozo das deliciosas libações, das bebidas do gosto de cada um, dos apetitosos e gustativos alimentos. Dos capitosos e inebriantes pratos em tais comemorações. São exemplos as tão concorridas e esperadas datas natalinas e de passagem de ano. Aliás, Natal e ano novo, cada vez mais perdem o sentido original. Tudo se tornou um mercado e seus mercadores. Assim se vê no comércio, na indústria de tudo, nas cervejarias, nas empresas e indústrias de bebidas, etc.
Contudo, feitas essas referências a essas datas festivas de muita pompa, de expansividade, de efusão de nossos sentidos, de nossos instintos de conservação e sobrevivência, como são nosso olfato e paladar no ato de comer e alimentar, vejamos outras considerações, em um outro polo da vida e de nossa sociedade. Nem só de alegria, efusão, prazer e festas se faz a vida.
Com todas essas alusões, então tenho como objetivo maior falar de outra condição humana, a miséria. Tal palavra vem do latim, miser e significa desafortunado (desprovido do bens materiais, sem fortuna), desgraçado (sem o benefício ou dádiva de Deus) ou infeliz (desprovido de qualquer condição que traga felicidade, seja moral , emocional ou materialmente falando).
De forma didática podemos classificar a miséria humana em material e espiritual. E para dar formato de melhor compreensão eu trago dois exemplos, de duas mulheres que tem o mesmo nome, Maria. São dois casos concretos, por mim testemunhados em uma atitude filantrópica.
Filantropia. Palavra que vem do grego, philo = amigo, anthopus= homem, amizade ou amor ao homem. O contrário de filantropia é misantropia. Termo que lembra miséria, miserável, sem misericórdia. Misantropo. Do grego mis (o) ou misein, aversão ou ódio ao homem, ao semelhante.
Nessa visita feita à primeira Maria, se constatou que ela combinava em tudo (como pessoa) aos poucos pertences e objetos em sua posse. A começar pelo seu abrigo, casebre ou barracão. Todos aqueles “miseráveis bens” de sua sobrevivência encontravam-se em petição de miséria ou de misericórdia. Todas as condições básicas e mínimas de higiene, limpeza, de organização eram precárias, de penúria e indigência. Combinado a todo esse deplorável estado de desconforto material era o estado de desânimo e de espírito ou de índole dessa mísera pessoa de nome Santo, Maria. Nossa primeira Maria, fez de seu humilde abrigo, um autêntico muquifo. Tomo de empréstimo este termo, com a licença dos puristas de nosso idioma. Nossa primeira Maria, se revelava uma mísera de alma, de espírito, de humor, de espírito; ela tinha deficiência de várias virtudes internas sem dependência e sem nexo com conforto material ou pecuniário, para encontro da felicidade.
Ato contínuo de visitação deparo-me na casa da segunda Maria. Ao contrário da primeira Maria, encontro agora uma mulher efusiva de alegria, receptiva, cordata, gratíssima pelo mínimo conquistado e recebido de terceiros nessas visitações. Era a pessoa em simpatia e otimismo.
Os humílimos e simples pertences de nossa segunda Maria encontravam-se nos padrões de excelência nos quesitos de higiene, manutenção, limpeza e organização. Sua tacanha e singela casinha em tudo combinava com o seu humor, alegria e mostras de felicidade e realização. Essa segunda Maria era uma mostra viva de que nem sempre dinheiro traz felicidade. Ele não constitui um item exclusivo e imperativo de felicidade humana. Quando bem manejado e se usado de forma racionalizada pode colaborar nesse sentido. Tanto que muitos ricos e abastados são eternamente infelizes. E muitas pessoas sem posses materiais maiores esbanjam alegria e felicidade.
O certo e concreto que ficam nas visitas a essas duas Marias é que os visitantes voluntários e filantrópicos podem sair mais fortalecidos e confortados do que as visitadas. A conclusão de tais visitas é que a pior miséria de que pode sofrer o ser humano não é a privação de bens e conforto material, mas aquela que está entranhada no espírito, no íntimo e no caráter da pessoa. A miséria de espírito, a miséria de generosidade, a miséria de fraternidade , de amor e respeito ao próximo. Estas , sim, são as miséria mais degradantes de que pode sofrer o ser humano. Natal/2017.
(João Joaquim, médico, articulista DM. facebook/ joão joaquim de oliveira www.drjoaojoaquim.blogspot.com – WhatsApp (62)98224-8810)
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