O que esperar das Olimpíadas Rio 2016
Diário da Manhã
Publicado em 6 de agosto de 2016 às 03:46 | Atualizado há 8 anosÉ a primeira Olimpíada na América Latina e já é a mais criticada em todos os tempos. Como uma piada, o país já passa vergonha com obras atrasadas e superfaturadas. A contestada Vila Olímpica foi entregue aos atletas sem estar concluída, apesar dos sete anos que o país teve para se preparar, vimos as denúncias e frustrações dos australianos e outros atletas. O Rio de Janeiro chegou aos assuntos mais comentados no Twitter por causa da poluição na Baía de Guanabara, ainda longe de estar pronta para as competições de vela. Ao mesmo tempo os pesquisadores da Universidade de Nova York pediram que a Olimpíada fosse adiada ou até mesmo cancelada por causa da epidemia de zika. Há o trânsito caótico no Rio de Janeiro com obras de mobilidade que não resolvem a situação, ou até pioram, como o caso da ciclovia, que caiu matando duas pessoas. Tem ainda o medo da dengue e chikungunya. Mas talvez, o maior pavor seja o da violência de uma cidade dominada pelo tráfico.
Como se não bastasse todos esses dramas, o país esta mergulhado na recessão e em uma crise política e econômica sem precedentes, com uma presidente afastada, existe a iminência de protestos. O Brasil passa por vexame até na passagem da tocha olímpica pelo país, dinheiro falso foi atirado em direção da tocha. Baldes de água, extintores de incêndio tentaram apagar o fogo olímpico, em vídeos que viralizaram na internet. Pessoas já foram presas tentando pegar a tocha. Tamanha incompetência dos organizadores do evento foi responsável pela morte de uma onça em Manaus. Vemos carregadores sem nenhuma ligação com qualquer que seja o esporte. Muitos dos homenageados não mostraram o menor constrangimento. Eles mal fizeram seu percurso de 200 metros, compraram sua tocha, e a colocaram a venda na Internet.
Para tentar atrair a atenção do país do futebol, artistas como Luan Santana, Sabrina Sato, Zezé de Camargo e Luciano, Daniel carregaram a tocha. Chegaram a convidar uma ex-BBB, uma subcelebridade popular pra carregar a tocha. Esta popularização forçada se explica pelos milhões de ingressos encalhados. O medo pode ter afastado milhares de turistas que viriam ao Rio, inúmeros cancelamentos por conta da violência, doenças e ameaças de atentados terroristas. A crise econômica nacional e a falta de tradição em esportes olímpicos obrigaram os organizadores a fazerem várias promoções para tentar se livrar dos ingressos encalhados. Existe a possibilidade de que estudantes sejam convidados de última hora para preencher lugares vazios, em disputas que não houverem procura.
Essa Olimpíada já custou aos brasileiros, oficialmente R$ 36,7 bilhões. Não haverá o retorno sonhado em 2009, com o turismo. A imagem do país nunca esteve pior. O Brasil é ridicularizado em todo o planeta pela desorganização, violência e poluição. Esse é o preço de trazer os holofotes com a competição. Creio que antes de fazer jorrar dinheiro público para construção de “elefantes brancos”, como houve no caso da Copa, o Brasil precisa melhorar seus índices sociais. Essa ideia equivocada de que os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro transformarão o Brasil em uma potência é uma grande ilusão. O caminho é justamente o inverso. Temos que, antes, ser socialmente evoluídos e justos para só então pensar em Olimpíadas. Temos muito a evoluir. Não é um evento importante como esse que vai nos transformar do dia pra noite. O Rio, assim como o Brasil, tem uma inegável beleza natural. Mas isso não basta para ser a sede de um dos mais importantes eventos mundiais. A paisagem carioca não consegue esconder as mazelas da cidade, nem os problemas de um país carente por grandes mudanças.
(Fernando Henrique Freire Machado, servidor público, pós-graduado em Marketing e Gestão de Pessoas e atualmente é secretário geral do PHS de Goiânia)
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