O tamanho da preguiça
Diário da Manhã
Publicado em 6 de julho de 2016 às 03:17 | Atualizado há 9 anosPessoas que desfrutaram do convívio e da amizade de Francisco Cândido Xavier, quase 14 anos depois de sua morte, continuam encantadas e divulgando casos reais de sua vida, marcados por bela sabedoria e extraordinário talento. Uma delas é Adelino da Silveira, seu companheiro de mais de três décadas, registrados na mais recente edição do seu livro Kardec Prossegue, onde conta e explica:
– Doutrinadores, conferencistas e pregadores gostam de casos, da narração de historietas, coisas acontecidas ou inventadas. Eles acreditam – penso que com boa dose de razão – que este recurso facilita-lhes o trabalho, tornando- mais atraente e didático. Francisco Cândido Xavier era um manancial de belos casos, coisas vivas e vividas no seu ministério, no contato estreito e diário com as humanas alegrias e tristezas. E contava-os com tocante candura e simplicidade. Não os usava, entretanto, como suporte para fazer proselitismo ou convencer. Contava-os porque gostava de conversar, gostava de contato com as pessoas. Gostava de gente.
Um exemplo: Chico passava por grandes dificuldades. Problemas gigantescos se avolumavam sobre sua cabeça e ele perguntou a seu guia Emmanuel se não era possível rogar às esferas superiores um conselho de Maria de Nazaré, que o ajudasse naqueles dias terríveis.
Alguns dias se passaram e Emmanuel lhe disse que a protetora Mãe de Jesus havia atendido ao seu pedido, enviando-lhe a seguinte frase: “Isso também passa”.
– Esta sentença foi como anestesia sobre uma dor imensa – disse-nos o médium. Fez-lhe tanto bem que a escreveu num papel e a colocou sobre a cabeceira de sua cama.
Todas as noites e todas as manhãs, o extraordinário sensitivo as lia, sentindo grande consolo. Um amigo, ao entrar no seu quarto, achou a frase muito interessante e falou:
– Vou fazer o mesmo: colocar esta frase na cabeceira de minha cama.
Chico aconselhou-o a fazer isso, mas que não se esquecesse de que o espírito Emmanuel também lhe avisara que a frase serve tanto para os momentos tristes, como para os alegres…
Chico Xavier por juiz
Ainda no Kardec Prossegue, outro caso, desta vez com experiência própria do autor:
– Quando estávamos fundando o Grupo Espírita da Paz, em Mirassol, a generosidade de um coração amigo nos doou o terreno, o material e a mão de obra. A única coisa que fiz foi dizer, mais ou menos, como gostaria que o Centro fosse: um pequeno salão, uma câmara de passes e uma pequena cozinha.
Acostumado a grandes construções, ele foi aumentando. O salão teria sete por 12 metros, uma sala para passes, um escritório, uma cozinha, outra sala mais e uma despensa. Quando vi a planta, comecei a reclamar que o Centro ia ficar muito grande e que não o queria daquele tamanho. Disse-lhe que Allan Kardec havia recomendado que essas unidades deveriam ser muitas e pequenas, ao invés de grandes e poucas e que havia ouvido Chico Xavier dizer que “em casa que muito cresce, o amor desparece”.
Diante de minha impertinência, o generoso doador disse:
– Então vamos levar a planta ao Chico e o que ele recomendar faremos. Concorda?
– Não estou tão louco a ponto de discordar dele…- respondi.
Uma lição do rei da Suécia
O imprevisível aconteceu, descrito por Adelino da Silveira:
– E lá fomos nós a Uberaba. Após olhar demoradamente a planta, sob as explicações do ofertante, o médium considerou que o tamanho estava bom, fez algumas observações, depois voltou-se para mim e falou:
– Sabe, Deco, o rei Gustavo, quando assumiu o trono da Suécia, lembrou-se de um amigo de infância que havia seguido carreira religiosa. Mandou chamá-lo e anunciou que pretendia nomeá-lo pastor ou ministro religioso de Estocolmo. Mas este não estava muito disposto a aceitar. O soberano insistia e a resposta era sempre não. Depois de algum tempo, expôs o rei:
– Está bem, Fulano. Penso que não devo obrigá-lo, mas me diga então o que você quer.
O religioso atendeu:
– O senhor se lembra daquele local onde brincávamos na infância, onde existia um bosque e um pequeno riacho?
Ante a resposta afirmativa, continuou:
– Lá se desenvolveu uma pequena aldeia. É bonita e tranquila e gostaria de ser nomeado pastor dali.
O monarca, então, encerrou a conversa:
– Ah!, Fulano, se eu pudesse, gostaria de ser o carteiro daquela aldeia…
Chico terminou a história e eu cometi a bobagem de confessar-lhe que não entendera.
– Não entendeu? O religioso tinha muita preguiça. Não queria ir para uma cidade grande, porque seria muito procurado, estaria obrigado a atender muita gente e teria muito trabalho.
Senti tanta vergonha que minha vontade era sair correndo e, na viagem de volta, comuniquei ao amigo:
– Se quiser, pode fazer um Centro de dois ou três andares…
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