O trabalho honesto alimenta e alegra o espírito
Diário da Manhã
Publicado em 23 de junho de 2017 às 22:23 | Atualizado há 8 anosO trabalho alimenta o espírito, constituindo, dessa forma, bálsamo para a vida mais saudável. Entretanto, na Grécia milenar, era ele sobejamente discriminado, exceto o artístico, o intelectual e aquele consubstanciado ao ofício de gestores, como estrategos, navegantes, comerciantes, proprietários de bens, no geral, o antigo ofício de pastores. No entanto, todo trabalho pesado era feito por escravos, os costumes discriminavam a própria mulher que era proibida de participar da vida pública, se não era rotulada de escrava, vivia como escrava. O cristianismo, no seu primeiro milênio e meio, tinha o trabalho como pejorativo, coisa para pessoas inferiores, escravos, presidiários, outros condenados das galés. Embora João Batista, Paulo, apóstolos de Cristo, exímios pregadores do evangelho considerassem o trabalho probo, como um eleito de Deus, o desonesto como coisa do diabo, prosseguiu discriminado, preconceituoso, até a pouco mais de três séculos. Na trilha dos dois apóstolos, supracitados, veio com o perpassar do tempo, alvorecer do segundo milênio, os santos filósofos, Agostinho e Thomaz de Aquino, grandes pregadores dos ensinamentos de Jesus Cristo, de igual forma, procurando libertar o cristianismo do hediondo preconceito, serviço pejorativo, coisa para servos ou escravos.
Caminhando no tempo, marca época, faz história a passagem de Calvino, chefe da seita dos huguenotes, na França, impondo aos seus seguidores, o trabalho como obrigatório, arquitetando ou insinuando, a criação de dízimo ou tributo, para induzir todos ao trabalho produtivo, laborioso. Por fim, a revolução industrial, nascida do artesão, a começar pelo tear rústico, continuar pelo sofisticado, e, assim, a produção em série, pela maquinofatura, consolidou o trabalho como necessidade primordial chegando ao estremo abusivo, desumano, da espoliação, logo a seguir, com a crítica de pensadores de renome, acaba amortecido, regulado por leis trabalhistas, como na atualidade. Aportando, enfim, a era da modernidade, século XX, aflora e ganha espaço o socialismo, tanto o de esquerda, esquerda extremada, como o de centro, este rotulado de socialismo cristão, bem como o da direita, também extremado, com a alcunha de nacionalismo. Os séculos XVIII, XIX e XX, séculos do movimento das luzes, Iluminista, avultam-se, como nunca dantes visto, nos umbrais deles as ideologias. Pululam de igual forma, geminado a elas, como nunca dantes visto, miríade de pensadores no campo das ciências sociais. Dentre eles, Max Weber, considerado o maior sociólogo do cristianismo, reenfatizando o trabalho como um eleito de Deus.
O trabalho é importante, não apenas por possibilitar-lhe mais dinheiro, porquanto, ao alimentá-lo biologicamente, com o pão de cada dia, alimenta-o, espiritualmente, preenchendo os espaços vazios da mente, mente vazia, oficina do diabo, pois é ela, vazia, que vem conduzindo, levando milhares de pessoas, diariamente, a toda sorte de desatinos, vícios execráveis, como alcoolismo, banditismo, e as drogas mutiladoras. Em nosso país, na atual conjuntura, enquanto os gestores públicos, contratados pelo voto, mourejam na propina, superfaturamento, a mina de violência, constituída, pelo menor abandonado, mesmo, com o estatuto da criança e adolescente, escancarada, prossegue jorrando, conduzindo para as drogas, banditismo organizado, na plena flor da idade, milhares deles. Ademais, por milagre, magia, escapando das drogas, banditismo, medra nas cidades interioranas, por falhas na governança, falta de gestores de gabarito, douta sabedoria, miríade deles acaba descambando para jogatinas, bebidas, ociosidade. Isto vem acontecendo, por miopia na ótica, visão, disposição dos governantes, falta de participação dos governados na vida política de sua comunidade, controlando, cutucando, com vara curta, os gestores contratados pelo voto, bem pagos pelos tributos arrecadados da sociedade contribuinte.
A participação de quem sustenta o governo, por meio de instituições classistas devidamente organizadas e, legitimamente credenciadas, é indispensável no sistema republicano. Sem ela, descamba em crise homérica, como a atualmente vivida pela nação, imoralidade, chegando, custa crer, porém, pura verdade, embora perdida no tempo, a denuncia de Rui Barbosa à nação, nos idos da velha república: “O homem de tanto ver crescer as injustiças, agigantar o poder nas mãos dos maus, de tanto ver triunfar as nulidades, chega a rir-se da honra, ter escárnio da verdade, vergonha de ser honesto”. Creio que, em conjuntura nenhuma se deve ter vergonha de ser honesto, contudo, aquela vivida por Rui era, deveras, medonha, hedionda, ele, candidato de oposição, aos donos do poder, na ocasião, manietada pela política dos governadores, onde, São Paulo e Minas se revezavam no governo federal, entrementes, com o movimento civilista, ganha, nos bastidores as eleições. No entanto, o hábito do cachimbo faz a boca torta, a corrupção já era endêmica, o grupo encastelado para continuar na crista da onda, falsifica, a bico de pena, em ata, a vitória do marechal Hermes da Fonseca, proeza levada a termo, pelo seu maior cabo eleitoral, o então, senador, Pinheiro Machado, do RS.
Todavia, voltando ao trabalho honesto, um eleito de Deus, embora a maioria da sociedade brasileira seja ordeira, laboriosa, tolerante em dose cavalar, a minoria cresce na ociosidade. Para reverter tal crescimento, as lideranças da maioria ordeira têm que acordar os ocupantes atuais do poder, para o estabelecimento de projeto ousado de gerência, capacitação para a vida laboriosa, atrelado à criatividade, nos municípios interioranos. Criatividade na organização e constituição de pequenas empresas artesanais fundadas em matéria prima já existente no interior e, mesmo incentivando baseado, na realidade, a geração e aproveitamento de outras.
Pense leitor, na quantidade de microempresas que poderiam ter sido instituídas, fundadas, em viabilidade e honestidade orientação técnica, com os empréstimos bilionários, creio, todos propinados, feitos pelo BNDS? Quase todo produto industrializado vendido nas cidades interioranas vai do interior e volta dos grandes centros industriais. Urge reverter o fluxo migratório, de gente e matéria prima, do interior para as grandes metrópoles, já um tanto congestionadas. Exemplificando, há abundância de matéria prima, no caso, leite, no interior, ele viaja quase toda para os grandes centros, para processamento. A reversão do fluxo, pode ser realizada capacitando e incentivando a criação de pequenas indústrias artesanais na cidade interiorana. Criatividade na área rural: no começo da abertura democrática, abertura que acabou mascarada pelo mensalão, Petrolão e outros abusos, decorrentes da falta de ética na política, nasceu certo programa de parceria destinado a aumentar oportunidade de emprego nos arredores da cidade, produzindo alimentos, de repente, desapareceu sem deixar outro melhor no lugar.
Assim tumultuada caminhou a república, a corrupção cegando a razão, roubando iniciativa de criatividade de emprego, nas cidades interioranas. Enquanto isto vem crescendo o número de desocupados, subtraindo o PIB, já um tanto nanico, ou, sugando ainda que infinitésima quantia, o trabalho de nossa gente ordeira e laboriosa. Por isto, leitor faça corrente forme opinião, o trabalho honesto alegra o espírito, constitui bálsamo para a vida, o desonesto, ao contrário, flagela-o.
(Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, ex-professor da escola de veterinária da UFG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-Go, produtor rural)
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