Oficina poética – espaço da poesia – 2
Diário da Manhã
Publicado em 19 de novembro de 2017 às 05:46 | Atualizado há 7 anosO diário da Manhã tem sido para os trabalhadores da cultura em Goiás sempre uma tribuna amiga e livre. Tem sustentados através dos anos de heroica existência, além do acolhimento, divulgação e interpretação dos fatos políticos econômicos e sociais, uma ágora aberta em suas páginas para a audiência dos clamores e da expressão de sentimentos e ideias da sociedade. Articulistas, missivistas e informantes comparecem cotidianamente livres de censura e mordaça. Deve-se isto a uma característica original do jornal, nascido das lutas da juventude. O jornalista Batista Custódio, homem de visão futurista e respeitoso da inteligência é o artífice desse veículo singular no meio de uma mídia comprometida, padronizada e restritiva. Isto ocorre principalmente com a produção cultural de Goiás. Cada vez encontra menos espaço na mídia, digamos, oficial. As grandes redes de informação, com suas representações locais, não permitem destaques, nem mesmo referências à cultura, principalmente literária produzida em Goiás. Apesar da globalização e da inserção eficiente de Goiás no painel global, ainda pensam os veículos de comunicação forâneos que Goiás é uma província e seus escritores meros batedores de palmas para as celebridades do momento. Além do desprezo da mídia que só tem olhos para a cultura industrial: pagodes, axés, breganejos, novelas cultos e quejandos, as livrarias de Goiânia, digo Goiânia, porque no interior quase não existe, recusam sistematicamente a exposição de livros goianos. No mesmo caminho segue a administração do estado e do município. Não se pode esconder que tanto, o Governo de Goiás, como o município de Goiânia tem propiciado centenas de edições de autores locais, através de suas leis de incentivo à cultura e dos fundos de cultura. Entretanto esta imensa produção, tsunâmica não chega a nenhum leitor, não chega mesmo às bibliotecas públicas, muito menos ao comércio livreiro. Sem distribuição essa massa bibliográfica mofa e apodrece em poder dos próprios autores. Dá-se o absurdo de, hoje em dia, a maioria dos lançamentos de livros serve apenas para distribuição gratuita. Antes, o Estado já manteve um Bazar Cultural, onde se vendiam livros goianos. Hoje, nem isto. Nem no Aeroporto, nem nos pontos turísticos se vê esta desprezada mercadoria. Sem falar nas escolas. Apesar de existir uma lei estadual de autoria do Escritor Ursulino Leão, quando deputado, que obriga o ensino da literatura goiana nas escolas, nunca foi cumprida. E a administração da educação nada fez para o cumprimento. É mais uma lei que não pega, num país de pantagruélica fome legisferante. Um chiste que corre entre nós brinca:” Se cada autor goiano lesse os livros de seus companheiros, todos seriam best seller. Ninguém lê. Muitos autores, acadêmicos que são convidados, hospedados e louvados em Goiás, quando aqui estão recebem dos atores locais dezenas de livros, devidamente autografados. Informa-se que ao deixarem o hotel, pago por gente daqui para embarcarem, deixam num canto os pesados presentes que abarrotariam suas malas. Os esperançosos goianos sequer recebem uma carta, um e-mail, um WhatsApp de consolo. Goiás só se destaca na imprensa nacional por notícias de crimes, escândalos de corrupção e a música industrial, dita sertaneja. Se continuar falando dessa miséria mental, terei que gastar páginas de argumentos. Já fui longe. O que queria mencionar hoje, como um dos grandes trunfos do Diário é, mais uma vez, sua fidelidade à expressão regional, sem com isso abandonar o nacional e universal. Na verdade, não há mais escritor regional. O goiano estás conectado com o mundo e participa do diálogo planetário com inteligência e contemporaneidade. Mais uma vez, já há cerca de quatro anos, o Diário vem acolhendo e expondo com destaque a página literária “OFICINA POÉTICA”, organizada pela escritora Elizabeth Caldeira Brito, comemorando 300 edições, circulando desde janeiro de 2012. É mais uma porta para poetas e artistas plásticos de Goiás. Rigorosamente publicada aos domingos, em espaço nobre, a Oficina permite que autores iniciantes e famosos ali compareçam sempre acompanhados de ilustrações da produção de qualidade representação das artes plásticas. A página coordenada por Elizabeth Caldeira talvez seja em nossa região e até no Brasil o único espaço destinado especialmente à poesia. Resultado da política inclusiva do DM, espero que essa página tenha vida longa, ao contrário das muitas efêmeras tentativas similares natimortas em Goiás. Não se trata de rasgação de seda. Como humilde escritor que há muitos anos luta pela cidadania de nossas letras, cumprimento o DM por este feito. Tributo à coordenadora da página o reconhecimento dos escritores, pelo seu trabalho competente, assíduo prestado de forma voluntária, competente e generosa. Parabéns, portanto, à “OFICINA POÉTICA” E AO DM.
(Aidenor Aires é escritor, presidente da Academia Goianiense de Letras)
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