Operação Carne Fraca e o devido cuidado em nossas avaliações
Diário da Manhã
Publicado em 24 de março de 2017 às 02:46 | Atualizado há 8 anosA forma como trouxeram informações da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, na investigação de vinte e um frigoríficos do país e de funcionários do Ministério da Agricultura, preocupa-me muito com o que isto já foi reverberado.
O caso é sério e exige uma rigorosa fiscalização e monitoramento, ao tempo em que também devemos ser zelosos em nossas precipitadas avaliações, quer individuais ou pelos meios de comunicação, bem como de quem ofereceu a denúncia, que acabaram atirando na vala comum um segmento que a duras penas vem mantendo a economia brasileira de pé.
Hoje, por declarações midiáticas, oriundas de escutas telefônicas, mas sem embasamento de laudos periciais dos produtos, já sofremos o embargo de vários países que importavam nossos produtos.
Em que pese a falta de fiscalização dos alimentos nas indústrias investigadas, lembremo-nos que, para conquistar o mercado internacional, as empresas brasileiras passam por rigorosa exigências sanitárias, além de milhões de dólares investidos em tecnologia.
Não é por acaso que o Brasil é o segundo produtor de proteína animal, com 21% do total no mercado de carne e 7% de alimentos. A cadeia produtiva da carne bovina, no Brasil, movimenta cerca de R$ 167,5 bilhões, por ano e gera 7 milhões de empregos. O setor produz 9,5 milhões de toneladas, sendo 7,6 milhões destinadas ao mercado interno e 1,8 milhão exportadas para mais de 140 países, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A comercialização de carne bovina cresceu 737% em 14 anos, passando de US$ 779 milhões, em 2000, para US$ 6,4 bilhões em 2014. Não é correto nem prudente generalizar o ocorrido, pois existe um rígido controle para a exportação desses produtos, ocorrendo a mesma rigidez na recepção dos mesmos nos países de destino.
Observo, como uma questão pontual, as 21 empresas investigadas, havendo interdições em três delas. É preciso lembrar que o Brasil possui 4.837 plantas frigoríficas sujeitas a inspeção federal. As Associações e Confederações que representam o setor querem uma fiscalização rápida e transparente, para que não se macule ou que ocorra suspeitas da qualidade da carne produzida no país.
A questão do papelão está evidente na própria gravação da Polícia Federal – trata-se de embalagem e não de mistura na carne, levando o Ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a considerar “uma insanidade” tal afirmativa.
A velocidade das Redes Sociais, em alguns casos, torna as informações distorcidas e pouco confiáveis. A questão do uso de carne de cabeça de porco é algo que pode ocorrer, dentro dos regulamentos sanitários, na elaboração de alguns produtos embutidos, em proporções determinadas. O uso do ácido ascórbico (vitamina C), pode ser utilizado nos processos em escalas permissíveis, pelo Ministério, e aceitável no mundo todo – ele existe em diversos alimentos.
É legítima e necessária a investigação da Polícia Federal, mas importante é que seja acompanhada de muito cuidado nas questões técnicas e nos laudos periciais – declarações e escutas telefônicas devem ser o início e não o fim de uma investigação. Não é correto, ainda, generalizar-se o trabalho dos técnicos do Ministério da Agricultura – neste caso específico, num universo de mais de onze mil funcionários, apenas trinta e três deles estão sob suspeita.
É necessário, que tenhamos cuidado na aquisição de todos os produtos que consumimos. No caso da carne, fatores como embalagem, data de validade, aparência, cheiro, textura e até mesmo o preço devem ser levados em consideração. Em casos de suspeita, devemos comunicar imediatamente aos órgãos fiscalizadores.
(Issy Quinan, prefeito de Vianópolis)
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