Parábola dos servos vigilantes
Diário da Manhã
Publicado em 3 de março de 2018 às 23:29 | Atualizado há 7 anos
Bem-aventurados os servos que o senhor, à sua chegada, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo que ele se cingirá e os fará assentar à mesa e, passando de um a outro, os servirá. E se vier na segunda ou na terceira vigília, e assim os encontrar, bem-aventurados serão os tais servos.
Vós o sabeis: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria sua casa ser arrombada. Vós também, portanto, ficai preparados, porque numa hora em que não pensais, virá o Filho do Homem”.
(Evangelho de Lucas, cap. 12, vv. 35 a 40).
Mais uma vez Jesus adverte os seus discípulos quanto à vigilância espiritual diante das transformações que deveriam ocorrer em nosso orbe e nas estruturas evolutivas dos espíritos ainda vinculados ao mundo terreno. Essa parábola ainda está associada às dores que o Messias estava às vésperas de suportar.
Em sentido estrito, cingir os rins significa colocar ao redor da cintura o cordão que amarra a túnica. Cingir os rins e acender a lâmpada representam estado de vigília porquanto para dormir solta-se o cordão ou cinto, veste-se roupas confortáveis e apaga-se as luzes.
No sentido amplo, cingir os rins ou lombos simboliza o início do preparo para atender aos ditames de Deus.
Diante da alimentação para a primeira Páscoa que antecipava a saída dos hebreus do Egito:
“Comê-la-eis desta maneira: os vossos rins cingidos, as vossas sandálias nos pés e o vosso cajado na mão. Comê-la-eis apressadamente. É a Páscoa em honra do Senhor.”. (Êxodo, 12:11).
O apóstolo Pedro também recomendou a preparação para o serviço de Jesus:
“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos oferece na revelação de Jesus Cristo. Como filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso procedimento porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”. (1Pedro, 1:13-16).
O apóstolo Paulo igualmente orientou:
“Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos rins com a verdade e vestida a couraça da justiça”. (Efésios, 6:14).
Com a verdade e a justiça o Espírito está preparado e protegido das intempéries provenientes do bom combate e dos transtornos causados por ignorantes e iníquos. Do mesmo modo que os rins filtram a impurezas do sangue, a verdade filtra as ilusões da vida.
Somente é possível se libertar das ilusões terrenas ou estar imune às tentações da vida material quem encontra a verdade a respeito de todas as coisas e circunstâncias. Por isso, não há vigilância espiritual inexpugnável sem o amor à verdade, o que mantém a lâmpada da consciência acesa.
O estudo, a observação, a reflexão e o trabalho no Bem são fundamentos para o discernimento e a vigilância espiritual do dever cumprido.
A vigilância sempre ocorre em níveis medianos de evolução espiritual. O Espírito superior não mais necessita de vigilância espiritual porque está em permanente estado de oração e de trabalho com amor.
O Mestre toma como exemplo o costume dos servos que não dormiam até que o Senhor retornasse de seus compromissos fora do lar. A chegada do Senhor simboliza o momento de prestar contas às leis de Deus. Quem se mantiver sem praticar danos morais para si ou para outrem e aproveitar as oportunidades de servir e de perdoar desfrutará das venturas celestes.
A segunda vigília, entre as 21h e 24h, e a terceira vigília, entre 24hs e 3hs, são representações dos momentos de testemunhos maiores na senda da evolução. São momentos de maior cansaço no qual o Espírito fica mais vulnerável ao convite do repouso.
Essa parábola bem lembra o episódio quando o Mestre estava no Getsêmani e recomendou aos seus discípulos vigilância enquanto orava. Algum tempo depois, “voltando para os discípulos, encontrou-os dormindo; e disse a Pedro: Nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Vigiai e orai para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”. Naquela noite, por mais duas vezes essa cena se repetiu porquanto os discípulos não conseguiram se manter acordados. (Mateus, 26:36-41).
Sem vigilância e oração, ainda que aspire virtudes, o espírito se enfraquece por meio das quedas morais tão prejudiciais à sua evolução.
O ladrão da casa são os maus sentimentos e pensamentos que nos assaltam levando as melhores energias de amor e de compaixão ao próximo. A chegada do Filho do Homem é o momento da recompensa celeste diante dos esforços e avanços do Espírito em sua trajetória evolutiva.
Os fundamentos do Sermão Profético de Jesus são os adventos inesperados do Filho do Homem, do Reino de Deus e das dores físicas e morais avassaladoras. O elemento surpresa é enfatizado em todo o Sermão Profético. Jesus não que evitar que os seus discípulos sejam tomados de surpresa diante da ação natural da Lei de Deus ao proteger os justos e cobrar dos iníquos atitudes de justiça e de generosidade.
Mais uma vez, no Sermão Profético, o Mestre recomenda vigilância de conduta moral e oração em sintonia com Deus, únicas proteções para evitar e suportar provas e expiações que poderiam ser evitadas, suportando o peso das agruras de um processo regenerador.
Cuidemos, pois, das nossas condutas porquanto não sabemos o dia da prestação de contas e nem o dia do retorno à Pátria Espiritual. Sejamos servos vigilantes porquanto o nosso Pai Amantíssimo, sempre vigilante, nunca nos deixará, em definitivo, por conta dos nossos caprichos egóicos.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é educador, escritor e jurista. Autor da obra O Livro dos Evangelhos, da Editora Boa Nova, Membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras)
]]>