Parca
Diário da Manhã
Publicado em 2 de novembro de 2016 às 23:23 | Atualizado há 8 anosQuando naquela fatídica tarde de outubro de 2013, minha ambrosia, minha mãe, desceu ao seu gélido e solitário sepulcro, naquele dia pálido e choroso, o sol preferiu se camuflar no céu infinito, rubro e fúnebre. O torpor do momento, que evidencia a certeza de que a vida é tão fugaz, quanto à própria felicidade.
No definhar do dia, aos olhos de alguns que a amaram de maneira imensurável e, recíproca, intensamente foram amados. Agora, repousa em seu campo santo de silêncio e dor, em meio às lápides e longas despedidas, entre flores de plásticos e velas derretidas, ensaiam um adeus doloroso e indesejado. A angústia e o dilema de qualquer despedida, não saber o que fazer com as mãos!
Sob o olhar fantástico da mitologia clássica – Cloto, Láquesis e Átropos – e da religião, onde os deuses que presidiam à duração da vida e determinavam o destino dos humanos, bem como num delírio lisérgico, perdoe-me os profetas, vociferam que a morte é a transfiguração para a uma nova vida… O prelúdio para a eternidade, que sempre descortina um paraíso! Aos que ficam o Inferno de Dante!
Quem disse isso? Alguém já esteve “lá” para afirmar com tamanha veemência que quem parte vai para um lugar melhor? Será a mesma glória buscada pelos fundamentalistas? Ou tudo isso não passa de um discurso balsâmico para o alívio da dor de quem vai ou fica… Viver é morrer aos poucos! De ilusão da felicidade sempre distante e passageira ou da razão da dor que não vai embora; das perdas dos que tombaram pelo caminho, num acúmulo de saudades e latente suplício.
Até aqui, ainda não vi ninguém dizer, que mesmo diante da morte do mais ordinário dos canalhas; do mais ateu dos ateus; do mais pecador dos pecadores; alguém que tenha ido para “outro” lugar, que não fosse o “lugar melhor”!
Resumindo: enquanto alguns se resignam na incansável esperança de um porvir incerto, minha mãe nasceu para a vida eterna! Enquanto nós, “mortos-vivos”, morremos verdadeiramente, um pouco a cada dia!
Em bom shakespeariano, “to be or not to be, that is the question”!
(Marcos Manoel Ferreira, professor, pedagogo, historiador, escritor e pós-graduando em Docência do Ensino Superior. [email protected] e www.vozesdasenzala.blogspot.com.br)
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