Opinião

Penso ser imoral médicos aproveitarem-se da “fraqueza do governo”

Redação

Publicado em 15 de outubro de 2015 às 22:54 | Atualizado há 9 anos

O que você acha que os médicos deveriam fazer para aproveitar que este Governo está fraco: pedirem para também ser membros privilegiados do Governo ou tentarem reverter os Atos Antimédicos deste?

Não seria uma incongruência moral dos médicos quererem fazer parte de um Estado que os destrói?

Há no ar uma “síndrome de chutar cachorro morto”: aproveitar o Governo cambaleante para tirar uma casquinha para seu grupo ou corporação. Eu até acho isto justificável, desde que seja para anular algum ato antipovo praticado por este Governo pró-estatizante; há muitos destes atos por aí para serem combatidos, como veremos abaixo. Aproveitar-se de um Governo fraco para auferir ganhos pessoais e corporativos, afundando mais o Estado sem pensar no coletivo, isto eu penso ser moralmente condenável. É reproduzir o eterno ciclo que afunda a Sociedade Brasileira: alimentar um Estado perdulário, “saco sem fundo”, privilegiando alguns, atitude que suga e sufoca o resto da Sociedade Civil.

Este Governo, na tentativa de “salvar o SUS”, colocou não-médicos para fazer o trabalho do médico, seja na forma de cubanos técnicos em Medicina (3,5 anos de faculdade em Cuba, relata-se), seja na forma de outros profissionais de saúde que, na “falta do médico”, o substituem. Ou então dezenas de outras iniciativas imorais do Governo, p.ex., dando vagas em pós-graduações médicas concorridíssimas para médicos incapazes tecnicamente, apenas porque “serviram ao SUS”, ou então obrigando alunos de faculdades e hospitais particulares – ou seja, que não recebem subsídio nenhum do Governo, pelo contrário –  trabalharem para o SUS.

Em suma, para “salvar o SUS”,  o Governo está tendo de destruir a medicina fora do SUS, coisa que fez, por exemplo, ao anular a regulamentação da profissão médica, retirando dela a prerrogativa profissional de diagnosticar doenças, que, aliás, é sua única prerrogativa distintiva. Ou então, asfixiando, extorquindo tributariamente e fechando hospitais e outras iniciativas privadas da categoria médica (há um fechamento de aproximadamente 15 leitos hospitalares por dia, na “Era PT”).

Pois bem, ao invés de aproveitar um Governo fraco e atacar estas ingerências imorais e antipovo (a quem é dado um atendimento de terceira classe), os médicos optam por fazer como o Judiciário: exigir benesses, salários, garantias trabalhistas, estabilidade no emprego, isonomias, “carreira de Estado”, enfim. Ou seja, ao invés de atacarem o Estado que os destrói, querem , como todo “bom brasileiro concurseiro”, fazer parte dele. Nada contra quem quer ser funcionário público e “melhorar de vida” com tranquilidade, se é só isto que sobrou para a classe média fazer no Brasil, mas que, então, seja pelo menos coerente : como aquela figura do abutre de Prometeu Acorrentado, saiba que está alimentando o monstro que irá devorar o seu fígado e prendê-lo ao suplício da pedra eterna: o da indignidade e da precariedade profissional.

 

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra, artigos as terças, sextas, domingos – [email protected])

 

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