Opinião

População que paga pelo SUS perde hospitais

Diário da Manhã

Publicado em 3 de janeiro de 2017 às 01:25 | Atualizado há 8 anos

Esses dias eu estava numa reunião de diretores de hospitais psiquiátricos em Brasília. Lá me disseram: “Você tem de parar de gastar energia com este quixotismo seu, esqueça o governo, esqueça o SUS. Isso já lascou… vá cuidar de sua vida particular, dos seus convênios hospitalares”. Enquanto os hospitais psiquiátricos do SUS estão morrendo, sucateados até o talo, está havendo um aumento de leitos privados e conveniados (vide gráfico anexo). Um  dos presentes disse: “Já fundei quatro hospitais psiquiátricos privados só na cidade de X, Espirito Santo”. “Vá ganhar dinheiro, cara, pois  este sucateamento que o Governo fez aumentou a necessidade de hospitais privados e hospitais com planos de saúde”. Doença não se acaba por decreto e nem por politicagem. Os hospitais que eles estão acabando no Governo estão surgindo com força total em outras áreas da sociedade, até com outros nomes, p.ex., “casas de recuperação”, “centro de apoio à família”,  etc.  O problema é que o Governo não deixa de cobrar impostos para compensar a sua falência nesta área. Pelo contrário, continua cobrando é mais imposto, um dinheiro que vai faltar para a sociedade contratar o médico e o hospital particular (já que do Governo não tem mais). E continuou o meu interlocutor: “Deixa o Governo com os Caps (centros psicológicos ambulatoriais) deles, com este modelo que já embuchou, modelo dito de “medicina social, comunitária, preventiva”, que já está fazendo água, mas que vai piorar muito ainda, porque família de louco pobre não reclama e louco pobre, quando morre na rua, não causa escândalo”. Fiquei pensativo sobre isso. No entanto, continuo meio tendencioso a continuar minha “campanha de denúncia deste modelo estatal falido que aí está” porque acho que o Brasil chegou num momento da verdade, no momento da transparência. Se eu que estou vivendo isso não falo, quem vai saber?  Como a população vai saber que continua pagando o mesmo imposto, aliás cada vez mais, por um serviço que não tem sido entregue pelo Governo?  Temos de colocar todas as cartas na mesa, temos de fazer uma “declaração geral de interesses envolvidos”. Eu, como diretor de hospital filantrópico, é claro, quero sobreviver. Se precisar virar particular, conveniado, abandonar o SUS, para isso, terei de fazê-lo. No entanto, e os milhares de pobres? E os milhares de pessoas que pagam impostos extorsivos e não têm assistência adequada? E os criminosos  que lucram e lucram com este sistema falido, tanto os políticos quanto os altos funcionários, os que têm ganhos corporativos, aqueles que pontificam e reinam sobre o monturo de lixo ? Vamos deixá-los em paz? Estamos aqui na Terra apenas para nos arrumarmos ou numa tentativa de tornar o planeta um pouco melhor? Se não mais justo, pelo menos um pouco mais sincero e menos hipócrita. Portanto, o quixotismo continua.

 

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra)

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