Opinião

“Por minha conta e risco”

Diário da Manhã

Publicado em 26 de novembro de 2016 às 01:45 | Atualizado há 8 anos

Três notas curtas no Fio Direto, da bem informada Suely Arantes, do DM, sobre Iris Araújo, chamou a minha atenção quando a ex-senadora diz: “Não posso, em hipótese alguma, comprometer, com minha liberdade de pensamento, as ideias que o Iris tem sobre os mais diversos assuntos”. Iris Araújo usa a sabedoria das mulheres simples com opiniões próprias a despeito das ideias do marido e líder político. Talvez por isso que ela é a melhor conselheira de Iris.

Mas quando ela quis abrir caminho próprio ela o fez com determinação. Foi candidata a Vice-presidente na chapa de Orestes Quércia, em 1994, suplente de senador, assumindo por duas vezes o mandato de senadora, presidente nacional do PMDB e deputada federal mais votada em 2006. Goiás deve muito a ela pelas suas decisões independentes e claras. Quando percebe que deve dizer algo diz–sem meias palavras–o que acredita: “Por minha conta e risco”. Na vida pública e no dia a dia da família a mulher forte é o equilíbrio da verdade. Essa mulher que aprende a confiar na intuição e na voz do coração não se deixa levar simplesmente pela opinião dos outros; concorda ou discorda sem medo.

Em 1995 ouvi dona Iara Araújo falar com doçura sobre a irmã. Foi a primeira vez que ouvi alguém mais próximo confirmar as histórias do cunhado e da irmã depois da cassação pela ditadura militar e as dificuldades para sobreviverem no mato, longe da família, até passar os momentos mais perigosos. Eu tinha e tenho muito respeito por Dona Iara. Daí tive a certeza de que Dona Iris é, na realidade, uma mulher guerreira que lutou com as armas de una mulher destemida ao lado do marido para construir o país democrático em que vivemos.

Goiânia, teatro de dramas e comédias na mesma dimensão de outras cidades do planeta, foi o cenário escolhido pelo casal mais ilustre de Goiânia: Iris-Iris. Nos últimos meses tenho deixado um pouco de lado a pretensa prosa poética que tento escrever nesta página do DM Revista. Atrevo-me, hoje, a falar de assunto factual experimentando a minha mão num artigo diferente do que estou acostumado a escrever. O escritor Ursulino Leão uma vez me disse que mesmo que eu tentasse escrever um artigo sairia uma crônica; coisas de estilo. Será?

De qualquer modo escrevo apenas o que acredito. Eu creio em tudo o que escrevo. E essa resumida história de Iris Araújo é para lembrar a força de uma mulher que aprendeu a caminhar na política de cabeça erguida, sem espaço para a mentira e a hipocrisia. O cronista é um atento observador da alma humana. Uma amiga querida, artista plástica, me disse certa vez: “Se eu gosto de margaridas, e ninguém me presenteia, eu as compro”. Utilizo desta metáfora para dizer da minha percepção quanto ao fato de que Iris Araújo quando gosta de um tema político e ninguém diz, ela simplesmente diz do seu jeito. E quando não aprova a postura de amigos ou de adversários, ela também dá a sua opinião sincera.

Neste aspecto destaco algumas das virtudes peculiares em dona Iris: sabe como falar e quando falar, não se importa em quebrar regras políticas, não se compara a outras mulheres também importantes de Goiás, revê seus projetos de vida, sabe distinguir os fatos a exemplo do que diz o Portal Raízes: “Um pneu furado é um inconveniente, não uma crise”.

Neste propósito estou convicto do que digo. Jorge Luis Borges disse que “Se um escritor descrê do que escreve, então ele dificilmente poderá esperar que seus leitores creiam nisso”.

Suely, obrigado. Mesmo sem a intenção, me ofereceu na badeja o tema da crônica de hoje.

 

(Doracino Naves, jornalista;apresentador do programa Raízes Jornalismo Cultural, PUC TV, sábado, 12h30. Reprise, domingo, 20h)

 

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