Por que só o apóstolo Tomé tocou as chagas de Jesus?
Diário da Manhã
Publicado em 18 de junho de 2016 às 03:46 | Atualizado há 9 anosConforme comentamos e prometemos em artigo publicado neste mesmo espaço algum tempo atrás, discorremos hoje sobre o tema acima epigrafado, extraído do livro intitulado ‘Cara a cara com João de Deus”, de nossa autoria (págs. 131/134) e de consequência, de textos inseridos em livros de sabedorias superiores, a exemplo do Novo Testamento.
Repetimos que para se entender o tema de forma mais clara, necessário se faz que cada um se desvencilhe de muitos conceitos e preconceitos, como afirmamos no citado artigo anterior, que em muitos estão arraigados por força da própria formação religiosa ou mesmo pelo meio em que vivem, o que, por muitas vezes, turvam a visão e a percepção espiritual plena concedida a cada um de nós, indistintamente.
Frequentando a Casa de Dom Inácio de Loyola em Abadiânia, desvinculada de qualquer segmento religioso, sendo na realidade um centro ecumênico, onde conseguimos encontrar explicações plausíveis para tudo que afirmamos, em especial nos exemplos dados pelo Médium João de Deus, dentre eles quando afirma, literalmente: “Sou católico e um instrumento de Deus, que através dos Espíritos da Luz, guiados por Jesus, me conduzem à caridade e solidariedade para com os irmãos mais necessitados. O espiritualismo é uma ciência e não e uma religião.”
Do capítulo Espiritualismo e Mediunidade, inserido no citado livro, trazemos aqui alguns trechos referentes ao assunto:
O número exato de aparições de Jesus é uma questão controversa entre os evangelistas, só não restando dúvidas que ocorreram. Notemos todas referências às suas aparições após sua ressurreição: Mateus relata que primeiro Jesus apareceu às mulheres – Maria Madalena e a outra Maria, sua mãe e em seguida aos onze discípulos na Galiléia. Segundo o registro de Marcos, Jesus apareceu primeiro para Maria Madalena, depois para dois discípulos no caminho e finalmente apareceu aos onze Apóstolos.
Para Lucas dois anjos apareceram à Maria Madalena, Joana e Maria anunciando a ressurreição de Jesus e elas falaram essas palavras aos onze discípulos e outros que estavam com eles. Posteriormente, Jesus apareceu para dois discípulos no caminho de Emaús, um deles reconhecido por Cléopas. Note-se que Cléopas não fazia parte do grupo dos 12 discípulos chamados por Jesus e que não há outra referência bíblica a Cléopas. Temos somente o marido de Maria que estava junto à cruz e que se chamava Cléopas, podendo se tratar da mesma pessoa. Esses dois discípulos, depois do encontro com Jesus, voltaram para Jerusalém e encontraram os onze reunidos e outros com eles e logo em seguida o próprio Jesus apareceu no local, para os treze e os outros que ali estavam.
Na versão de João, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena e mais tarde, no mesmo dia aos discípulos, menos Tomé. Passados oito dias apareceu novamente aos discípulos que estavam reunidos, com Tomé junto. Finalmente apareceu outra vez na praia a sete discípulos.
Em Coríntios I, Paulo, que não foi testemunha das aparições de Jesus após sua ressurreição, relata que Jesus apareceu a Cefas (Pedro) e depois aos doze. Depois teria sido visto por mais de quinhentos de uma só vez, alguns ainda vivos na época de Paulo. Em outra ocasião apenas por Tiago e em seguida por todos os apóstolos.
Enfim, como podemos perceber, há divergências nos relatos. O número de discípulos varia em cada um deles. O número onze é o mais recorrente, mas aparecem ainda nos registros Cléopas, seu companheiro e outros não identificados. Complementando, reportemo-nos à passagem em que Jesus, em Espírito, dirigiu-se ao então Saulo e após a conversão, Apóstolo Paulo, que na sua obstinada perseguição aos primeiros cristãos, foi interpelado pelo Espírito do Mestre que lhe disse: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” E ele crendo no que viu e ouviu, nunca mais foi o mesmo.
Como podemos constatar, não existem provas mais contundentes do que as “aparições” de Jesus para pessoas que possuíam o dom da vidência, incluindo entre esses os próprios Apóstolos. Tanto é que quando apareceu para eles quando se encontravam reunidos e escondidos temendo os romanos, dez dos apóstolos, que indubitavelmente possuíam o mesmo dom, constataram tratar-se do Mestre, enquanto o Apóstolo Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, que quer dizer “Gêmeo”, quando da manifestação de Jesus para os apóstolos, ali não se encontrava.
Disseram-lhe, então, os outros discípulos: “Vimos o Senhor.” Tomé, que quando seguia Jesus, havia vivido tantos contratempos e acontecimentos que não entendera, já não era o mesmo Tomé crente, mas um Tomé receoso, cuidadoso, atento a todos os pormenores com a sua crítica exigente e que tinha direito a resposta razoável para todas as afirmativas que colocassem em dúvida a sua credibilidade. Deixara de ser um homem pronto a crer e aceitar, e passou a se preocupar em não ser vítima da sua auto-ilusão, mas aquele que se recusava a crer até no que via. Mas tudo havia se tornado uma ilusão: o Mestre havia morrido, o sonho acabara. E agora vêm os discípulos e lhe dizem: “Vimos o Senhor”, exatamente no dia e hora em que Tomé estava ausente. Estariam os discípulos de Jesus querendo brincar com coisa tão importante e séria? Tomé já havia acreditado demais. Não queria sofrer uma nova desilusão.
Ao ouvir “Vimos o Senhor”, Tomé responde prontamente e com convicção: “Se eu não vir o sinal dos cravos nas suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma acreditarei.” Naquele momento, com certeza, Jesus, Espírito elevadíssimos, sabendo que Tomé não tinha o dom da vidência, concedeu a ele o dom de o sentir pelo toque das mãos, quando teve a oportunidade de constatar a presença do Senhor ressurreto em Espírito materializado.
Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!
(O livro referido neste artigo poderá ser adquirido no Bazar da Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, ou pelo site www.caraacaracomjoaodedeus.com.br)
(José Cândido Póvoa, poeta, cronista e advogado. Membro fundador da Academia de Letras de Dianópolis – To., sua terra natal – [email protected])
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