Precisamos de pessoas que escrevam e leiam, pelo simples prazer de ler e escrever
Diário da Manhã
Publicado em 7 de dezembro de 2017 às 23:25 | Atualizado há 7 anosOs currículos das escolas brasileiras trazem alguns livros da literatura brasileira como obrigatórios para os estudantes do ensino fundamental e ensino médio.
Isso não deveria acontecer, pois a leitura obrigatória pode deixar o leitor sem estímulos, perdendo a mesma o seu valor.
Que graça tem ler um livro que não esteja gostando ou não entendendo?
Nessa condição, muitos jovens criam aversão à leitura e perdem total interesse pelas mesmas. Melhor seria se as escolas ensinassem os alunos a manterem atitudes de gosto diante do ato de ler. Procurar livros que apresentam temas interessantes é uma boa forma de mudar essa visão.
Visitar bibliotecas públicas também pode despertar o interesse pela leitura. Pelo menos uma vez por semana tire uma hora para frequentar um local que tenha grande diversidade de livros. Aos poucos desenvolverá o hábito da leitura.
Compartilhar a leitura com algum colega também é uma forma interessante de praticar. Cada um fica responsável por uma página ou capítulo, dependendo do combinado. Participar de círculos de livro, onde as trocas são promovidas ou mesmo a aquisição de livros novos. E empreste seus exemplares para que seus amigos aprendam a emprestar os deles também, gerando uma troca de conhecimentos.
A leitura é um patrimônio cultural, que traz novas aprendizagens, desenvolve a escrita e o vocabulário do leitor, deixando-o mais crítico diante da própria vida. – Brasilescola .
Quem lê e amplia seus horizontes culturais, tem mais oportunidades de se desenvolver. Mas essa é uma opção individual, desde que estejam dadas as condições de escolha. O que acontece hoje é que as oportunidades de acesso ao livro são reduzidas. As famílias não são leitoras, as escolas ainda não preparam as condições para essa escolha, e o sistema de bibliotecas públicas é precário, para usar uma palavra suave. Por isso, ser leitor ou não independe de uma escolha. Na maioria dos casos, não há oportunidades.
Em uma palestra, o professor Ítalo Moriconi organizador de “Os cem melhores poemas brasileiros do século” assinalou o quanto temos que aprender, inclusive sobre as posturas necessárias para uma boa leitura. Essa postura não é “natural”, é socialmente induzida. Ler é uma questão de aprendizado e de escolha. Mas é importante destacar que ler não é obrigação. Pode ser uma necessidade, inclusive profissional. Há pessoas que desfrutam da leitura por prazer. Outras, ainda, por convicções religiosas ou políticas. Por essas características, a leitura não acontece somente nos momentos de lazer e descanso, quando concorre com a tevê, o cinema, a música e a simples conversa. A leitura depende de circunstâncias.
Deixar de tornar a leitura obrigatória. Deixar os livros à disposição dos alunos para que escolham o que querem ler, em literatura. Aí o professor pode motivar os alunos para ler alguns títulos, mas sem obrigação. Como diz o Ziraldo, o importante é ler, não aprender. Caso eu consiga ler a metade dos livros que já me indicaram, com certeza jamais terei tempo para ler os livros que desejo. Portanto não leio indicações.
Num dos trechos mais divertidos de seu livro Paris é uma festa, Ernest Hemingway narra uma conversa com o poeta e crítico literário Ezra Pound sobre literatura russa. Ou melhor: uma tentativa de conversa. Hemingway pergunta a Pound o que ele acha de Dostoiévski. A resposta de Pound, um dos homens mais eruditos de seu tempo, é uma surpresa e um álibi para todos nós. “Para te dizer a verdade, eu nunca li os russos.” Se Pound pode esnobar Dostoiévski, até o mais relapso dos leitores está perdoado. Não existe livro indispensável. Cada um está livre para ler o que quiser.
É preciso redescobrir o prazer de ler, é preciso redescobrir o gosto pela leitura. Novos escritores podem surgir a partir desses bons leitores. Precisamos de novos leitores e escritores com uma nova visão, precisamos formas escritores capazes, com uma visão crítica, com uma visão ampla do mundo que os cerca. Precisamos de pessoas que escrevam e leiam, mas por prazer, pelo simples prazer de ler e escreve
(André Júnior, membro da UBE – União Brasileira de Escritores – Goiás. escritorliterario@yahoo.com.br)
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