Opinião

Presidentes, política e ódio epidêmico

Diário da Manhã

Publicado em 29 de setembro de 2018 às 04:35 | Atualizado há 6 anos

O Co­li­seu po­lí­ti­co bra­si­lei­ro es­tá pos­to. Uns can­tam e mos­tram su­as ar­ti­ma­nhas, que vão des­de gri­tos te­o­ló­gi­cos até ra­ci­o­na­lis­mos ver­bor­rá­gi­cos; e ou­tros, se­quer en­tra­ram nes­se mi­se em sce­ne. Con­tu­do, um de­les, em es­pe­ci­al, pos­sui uma es­tra­té­gia de cam­pa­nha sin­gu­lar.

Es­se pre­si­den­ci­á­vel não jo­ga pe­lo ra­ci­o­na­lis­mo, não fa­la tan­to de pro­gres­so no Bra­sil e, mui­to me­nos, apre­sen­ta su­as pro­pos­tas; jul­ga não sa­ber o su­fi­ci­en­te so­bre os va­ri­a­dos as­pec­tos do pa­ís, po­rém, afir­ma que, se elei­to, co­lo­ca­rá quem en­ten­de no lu­gar cer­to. Sua ar­ma (às ve­zes, li­te­ral­men­te) é ou­tra. Es­se pre­si­den­ci­á­vel não quer, de ma­nei­ra al­gu­ma, atin­gir a con­sci­ên­cia dos bra­si­lei­ros. Pe­lo con­trá­rio, ele bus­ca os sen­ti­men­tos de in­dig­na­ção e de im­pu­ni­da­de que vêm se for­man­do na al­ma do bra­si­lei­ro por dé­ca­das e os ati­ça, as­sim co­mo gas­oli­na no fo­go.

Ele afe­ta a par­te emo­cio­nal de in­di­ví­duos re­vol­ta­dos com a vi­o­lên­cia nas ru­as, nos bair­ros, com a fal­ta de cui­da­do com os ser­vi­ços pú­bli­cos, com a cor­rup­ção, etc. Ele, des­sa for­ma, afe­ta des­de o fa­xi­nei­ro do pré­dio ao C.E.O. da em­pre­sa. Sua for­ça é ta­ma­nha atu­al­men­te que a mai­o­ria das pes­qui­sas pre­si­den­ci­ais apon­ta sua pre­sen­ça no se­gun­do tur­no. A es­tra­té­gia do can­di­da­to po­de ser re­su­mi­da em uma úni­ca pa­la­vra: ódio.

E o ódio se es­pa­lha, o ódio con­ta­gia. Se­gun­do mi­nha re­cen­te pes­qui­sa ci­en­tí­fi­ca pu­bli­ca­da pe­la Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral do Rio Gran­de do Sul, o ser hu­ma­no não so­men­te se co­mu­ni­ca pe­la fa­la, ges­tos, etc.. Mas tam­bém pe­las emo­ções, nos afe­ta­mos uns aos ou­tros e, as­sim, o con­tá­gio se dá. No ca­so, o ódio se es­pa­lha. Não é pre­ci­so qual­quer ra­ci­o­na­li­da­de e ne­nhu­ma ra­ci­o­na­li­da­de é ca­paz de com­ba­ter o ódio epi­dê­mi­co. Es­se con­tá­gio afe­ta a par­te mais som­bria e pri­mi­ti­va do ser hu­ma­no co­le­ti­va­men­te.

Em um pa­ís cheio de aban­do­nos de pa­is, sem he­róis na­ci­o­nais fun­da­do­res da na­ção, nós vi­ve­mos uma “sín­dro­me do ór­fão”, à es­pe­ra do “pai he­rói”. Des­sa vez, al­guns en­xer­gam no can­di­da­to o pai he­rói que com­ba­te­rá os vi­lões da po­lí­ti­ca. Mas se es­que­cem que ele tam­bém é po­lí­ti­co, cor­rup­to, e que es­pa­lha o que de­ve­ria ser com­ba­ti­do: o ódio ge­ne­ra­li­za­do. Afi­nal, sua úni­ca pro­pos­ta é mu­nir­mo-nos de ar­mas e com­ba­ter o ódio com ódio, ar­mas com ar­mas, vi­o­lên­cia com vi­o­lên­cia. Se­rá mes­mo es­sa a úni­ca so­lu­ção pa­ra o Bra­sil?

 

(Le­o­nar­do Tor­res, 28 anos, dou­to­ran­do e mes­tre em Co­mu­ni­ca­ção e Cul­tu­ra Mi­di­á­ti­ca)

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