Problemas éticos na Medicina (e como governos e empresas se aproveitam disso)
Diário da Manhã
Publicado em 3 de abril de 2016 às 01:48 | Atualizado há 9 anosAproveitar-se de pessoas que estão morrendo ou com dor para “ganhar dinheiro” não é algo ético por parte de um médico ou hospital. Por causa disso foram criados “planos de saúde” públicos (SUS) e privados.
Políticos e governantes também gostam de manter um serviço público de saúde para fornecer cabides-de-emprego para a classe média e currais-eleitorais para o povão. Há portanto, interesse eleitoreiro , e mesmo financeiro (maracutaias entre empresas e governos) na tal “saúde pública”.
Há também médicos e hospitais que podem querer superfaturar em cima de doenças (outro problema ético) e há também doenças que são “caras” mesmo, outras justificativas para existência de planos de saúde.
A área da saúde é ideal para “fortalecer um Governo”, tanto pelas benesses que ele diz distribuir (“no SUS há tratamento de AIDS, tuberculose, etc”), tanto pelo número enorme de profissionais de saúde que emprega.
Os governos geraram uma bola-de-neve, fazendo leis cada vez mais difíceis de serem cumpridas pela iniciativa privada (p.ex., exigindo em hospitais um cabide de emprego que só o governo tem dinheiro pode dar). Funcionários públicos governamentais, muitos “fora da realidade de mercado”, criam exigências tão caras, detalhistas, rígidas, perfeccionistas, que são impossíveis de serem cumpridas, dada a pobreza da economia brasileira. Isso tem gerado um “despovoamento” de hospitais e instituições privadas, e conseqüente aumento da presença do Estado na área da saúde.
Do lado da medicina liberal – ou seja, não estatal – as distorções éticas não são menores: a Medicina feita com muita rapidez (visando lucros), sem conversar, sem examinar o paciente, faz aumentar enormemente os custos. Para cobrir custos tão altos, foram necessários os planos de saúde, e estes geram distorções também éticas : donos de planos explorando médicos; médicos cooperados (também donos de planos) pedindo exames demais, procedimentos demais, consultas demais, para aumentar os próprios lucros.
A população se revolta contra os custos excessivos e a baixa qualidade técnica e humana da assistência médica. Esta revolta aumenta as exigências e isto aumenta custos, num círculo vicioso. Quanto maiores os custos, mais difícil é para um médico ético trabalhar, pois ele tem de virar um “empresário”, ou então um “funcionário público”. Só que, quando ele tem de virar empresário, ou tem de virar funcionário público,(tudo isso de modo geral, há honoráveis exceções) ele tem de abrir mão de sua excelência médica.
O erro fundamental destes sistemas, tanto o público quanto o privado, é o de desconsiderar que há, sim, médicos que não querem dinheiro, querem apenas fazer um bom trabalho e terem cabeça tranqüila para fazê-lo. Este tipo de médico tem de ter liberdade para agir, para criar, para desenvolver-se, para aprofundar-se em cada paciente, tanto do ponto de vista técnico quanto humano. No entanto, este tipo de profissional está sendo esmagado pelos seus patrões, sejam os governos, sejam os planos de saúde, sejam os grandes empresários (donos de grandes e complexos hospitais, etc).
Como vimos acima, a base de todo o problema são as falhas éticas de um tipo só: o médico que quer ganhar dinheiro, seja com a dor/doença/morte, seja atendendo rápido, pedindo exames,internações, etc.
Para corrigir estar falhas éticas são criados mecanismos, planos públicos e privados de saúde, que só fazem aumentar os problemas. Por exemplo, hoje em dia, temos até hospitais muito grandes, caríssimos, com equipamentos, chiques, etc, mas não há recursos humanos médicos adequados para tocá-los.
Aqueles médicos que são éticos – ou seja, não trabalham por dinheiro, e sim pelo prazer de ajudar e de praticar uma ciência – não estão tendo espaço neste sistema, por isto o sistema, a despeito de mais e mais dinheiro que é torrado dentro dele, só vem piorando.
(Marcelo Caixeta é médico psiquiatra ([email protected]). [ artigos aos domingos])
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