Próximo aos próximos
Diário da Manhã
Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 21:56 | Atualizado há 7 anosContar história da própria vida é fácil, difícil é fazer a própria história prática, como fez a portadora da “síndrome da solidariedade humana”, Madre Tereza de Calcutá, defensora e mãe dos pobres indianos. Gostaria, depois dela, também contar um pouco de minha história, e que ela sirva de exemplo a quem ler este artigo. Há algum tempo, na minha vida profissional de eletrotécnico, sempre que ganhava algum objeto utilitário (rádios, fogões, roupas, calçados etc) para doar ou mesmo uma TV velha e estragada, eu a consertava e fazia doação a quem não possui (e já foram mais de mil), ação que enche de calor o meu coração. Sinto que a vida e a esperança renasce para o próximo. Centenas de vezes senti e vivi essa relação entre duas pessoas, que no momento se tornam humanamente solidárias.
Tudo começou assim: Defronte à minha oficina, sempre passava um catador de papel, e um dia, ele me pediu uma TV, então respondi que daria-lhe. Nesse momento, pensei na possibilidade de conseguir essa TV nas minhas idas e vindas até a rua 68 no Centro da cidade de Goiânia (local bem conhecido para compra, venda e conserto de eletrônicos e suas peças), então, um colega de profissão teve a curiosidade de saber o que eu gostaria de fazer com várias televisões velhas e estragadas, pois ele queria esvaziar a sua oficina para ter mais espaço, dessa forma, vislumbrei a sua intenção de doar várias Tvs, quando na verdade, eu precisava de apenas uma. Nesse instante, tive a compreensão que estava sendo chamado para cumprir a missão de doar uma televisão à aquele catador de papel e também, a outras pessoas pobres e humildes. Consoante a este fato, no dia seguinte, retornei à oficina do colega, recebi mais sete televisões com defeito (todas coloridas). E voltando ao caso do catador de papel, com muito custo, consegui providenciar o conserto de uma TV Philco colorida, assim, fui até o Setor Vila Morais para entregá-la, e ao entrar num barracão muito baixo, tive até que me agachar, mas consegui instalar o aparelho em frente a uma parede entre muito lixo de papeis para reciclagem. Naquele lugar humilde, eu vi a felicidade e a esperança brilhar nos olhos de um pai e um filho, que ali moravam.
As outras seis Tvs, consertei e distribuí a quem não tinha, especialmente, aos moradores da parte pobre da Vila Coronel Cosme. Foi assim que comecei a pedir e procurar Tvs velhas ou queimadas nas oficinas e na comunidade, e sempre, graças a Deus, obtendo êxito. Mas um dia, eu recebi uma carta cheia de sentimento vindo de uma jovem residente na cidade goiana de Itaberaí, e me disse que era pobre e nunca teve uma televisão. Foi uma bênção, pois no dia seguinte, ganhei uma TV Toshiba de 14 polegadas! Consertei-a imediatamente e fui até a sua cidade justamente para entregá-la. Lá, essa jovem me recebeu muito emocionada, numa casa de pau-a-pique, era uma moça de vinte e dois anos em estado vegetativo, ora estava na cama e ora estava na rede. E novamente me senti realizado ao ver a felicidade e a esperança estampada nos seus olhos.
Uma certa vez, doei uma Tv a uma senhora, mas dias depois pediu outra. Questionei com ela sobre a primeira, e ela me disse que teve de vendê-la para comprar comida aos filhos para saciá-los da dolorosa fome. Num sábado, apareceu na minha oficina uma senhora com três filhos, segurando um saco de latinhas e olhando as fotos estampadas para recordação de algumas doações realizadas, e naquele instante, ela me pediu uma TV, mas como no momento eu não tinha, anotei o seu endereço e fiz a promessa de doar. À noite, contei a história à minha esposa e a convenci doar uma das televisões de nossa residência, dessa forma, no domingo de manhã, pus a Tv no meu saudoso Chevette 78 e fui até a Vila Viana. Ao chegar no local, me deparei com uma família de dez pessoas, em sua maioria, estavam dormindo no chão frio e duro, e havia na casa apenas um fogão velho, uma pia e muitos sacos de latinha para reciclagem. Confesso que senti uma tristeza profunda, julgando-me responsável socialmente e revoltado com essa situação de ver os meninos maltrapilhos, desnutridos, sujos e desamparados. Naquele momento, todos ali levantaram do chão esperando que instalasse a TV em cima de 8 tijolos furados. Esta cena não sai da minha mente. Mas então, quando consegui manualmente atingir a nítida imagem da frequência do canal, as crianças ficaram alegres e felizes, cheias de gratidão comigo no meio de tanta pobreza.
A lição é que com pouco do que nos sobra, podemos dar alegria a milhões de lares sem nada, pobres e famintos, que navegam até o final da Ave Maria em busca da mendicância e do lixo para sobreviverem pela vida. Hoje, acometido pelo Mal de Parkinson, tenho a esperança de ser curado para continuar a missão na solidariedade humana.
(João Caetano de Almeida – fone: 62 3202-4547)
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